PIB poderá contrair menos de 3% em 2012

15/05/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

O PIB português terá recuado 2,2% em termos homólogos no primeiro trimeste, surpreendendo pela positiva a generalidade dos economistas. Um bom desempenho das exportações, algum reajustamento em alta de stocks, e um um recuo do consumo privado inferior ao esperado são os factores encontrados para explicar o desempenho da economia no primeiro trimestre do ano. Paula Carvalho, do BPI, aconselha cautela na leitura dos dados, uma recomendação que é explicitada também pelos economistas da Universidade Católica. Rui Serra, do Montepio, evidencia que esta é a menor contracção em cadeia dos últimos seis trimestres consecutivos de queda e admite que o PIB este ano possa recuar entre 2% a 2,5%. Bárbara Marques, do Millennium, parte das previsões da Comissão Europeia para os trimestres deste ano, actualiza-as com o novo dado, e aponta para 2,8%. A melhor previsão para a evolução do IB este ano é do Governo que aponta uma contracção de 3%.  

   

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudos Banco BPI

 

1. O relatório do INE indica um comportamento melhor do que se antecipava: as previsões do BPI apontavam para uma queda em cadeia na ordem de 1% e para uma contração homóloga em torno de 3%-3.2%. Apesar desta surpresa positiva, não nos parece que as principais tendências se tenham alterado. Ou seja, tendencialmente a actividade económica deverá continuar em queda, ditada pela contracção da procura interna parcialmente compensada pelas exportações líquidas. Atendendo ao comportamento dos indicadores recentes, o consumo privado poderá ter registado uma evolução menos negativa que o previsto: por exemplo, o índice de confiança dos consumidores recuperou dos mínimos observados no último trimestre de 2011, indiciando estabilização, ainda que em patamares mínimos históricos; o que significa que, depois do primeiro impacto negativo causado pelo anúncio de mais medidas de consolidação orçamental, os agentes económicos terão acomodado um cenário menos favorável, ajustando as expectativas de rendimento futuro em baixa e os seus comportamentos ao novo enquadramento.
 

2. Acresce referir que possivelmente o melhor comportamento do PIB no 1T12 poderá ter-se também ficado a dever a factores de natureza pontual, nomeadamente sazonalidade ou a reversão parcial do movimento acentuado de queda de existências que se registou ao longo de todo o ano de 2011 e se acentuou no último trimestre: o investimento caiu 14% em 2011, dos quais 6 pontos percentuais se ficaram a dever à queda de existências. Pelo que a leitura, embora positiva, deverá ser cautelosa. De qualquer forma, são notícias positivas que sugerem que a queda da actividade este ano deverá ficar mais próxima de 3%, cenário menos gravoso que o avançado por agumas instituições, nomeadamente internacionais.

 

Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica 

 

1. No 1º trimestre de 2012, a economia portuguesa registou uma contracção de 0,1% face ao trimestre anterior e uma quebra homóloga de 2,2%, evoluindo em linha com o seu crescimento tendencial recente. No 4º trimestre de 2011, as taxas de crescimento haviam sido de -1,3% em cadeia e -2,9% em termos homólogos.

 

2. Embora não se conheçam dados para as componentes do PIB, tudo indica que o desempenho do 1ºT de 2012 voltou a beneficiar de um bom crescimento das exportações sugerindo um ajustamento razoável dos agentes económicos à nova realidade financeira e orçamental.

 

3. Este é o sexto trimestre consecutivo em que o PIB nacional regista uma quebra em cadeia, o que, por si só, confirma a debilidade da situação económica. Apesar de tudo, o resultado do 1º trimestre de 2012 revela melhorias importantes face ao registado na segunda metade de 2011, e é positivo face ao inicialmente esperado. Dito isto, é importante realçar também que o crescimento do PIB no 1ºT de 2012 poderá ter beneficiado de efeitos pontuais relevantes (incluindo trimestre bissexto), o que dificulta uma leitura exacta. É importante, por isso, fazer uma leitura muito cautelosa destes dados.

 

4. Em especial, parece-nos evidente que, no actual contexto, este resultado não deve contribuir para uma atitude de maior complacência por parte dos agentes políticos e económicos. Uma “surpresa positiva” num trimestre não é suficiente nem para garantir que o cumprimento dos objectivos orçamentais está assegurado nem que se iniciou já a recuperação cíclica da economia.

 

 

Bárbara Marques – Gabinete de Estudos Millennium bcp

 

1. Segundo a Estimativa Rápida divulgada hoje pelo INE, o crescimento do PIB no 1º trimestre de 2011 terá sido de -2,2% em termos homólogos, com uma ligeira queda em termos trimestrais (-0,1%), o que representa uma evolução mais favorável do que o esperado. Em comparação com as projeções de Primavera da Comissão Europeia, o PIB terá ficado cerca de 1 p.p. acima do crescimento homólogo projetado para o trimestre. Com esta estimativa  e assumindo a concretização das projeções da CE para os próximos trimestres, a atividade económica em Portugal apresentaria um melhor desempenho em 2012 (contração de -2,8% face a 2011). Todavia, o enquadramento económico apresenta um grau de incerteza elevado.

 

2. A estimativa rápida do Eurostat avançada hoje revelou que Portugal, embora em processo recessivo, atenuou a diferença de desempenho com os restantes países membros.
 

3. Nesta fase, é desconhecida a evolução das componentes do PIB que deram origem a esta evolução. Contudo, o INE revela que o contributo da procura interna terá sido menos negativo. Perante a observação de manutenção de níveis de consumo privado e consumo público muito deprimidos, poderá ter sido o investimento a registar uma evolução menos negativa. Consequentemente, uma procura interna menos deprimida, terá contribuído para a desaceleração do ritmo de queda das importações. Notar que a forte correção nas existências verificada no final de 2011 constituía fator de potenciação de importações neste primeiro trimestre. Embora se tenha registado uma ligeira aceleração das exportações, o contributo da procura externa líquida ter-se-á reduzido.

 

Rui Bernardes Serra – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A estimativa preliminar do INE para o Produto Interno Bruto (PIB) português do 1ºT2012 saiu bem melhor do que o esperado ao apontar apenas para uma queda de 0.1%, contrariando as nossas perspetivas de uma contração de 1.0%, que curiosamente eram idênticas às do consenso da Bloomberg e às previsões divulgadas pela Comissão Europeia. Tratou-se de um intenso desagravamento do ritmo de contração, depois da queda de 1.3% observada no 4ºT2011, com a economia a permanecer em recessão pelo 6º trimestre consecutivo, mas apresentando o menor ritmo de contração neste período de ano e meio. Em termos homólogos o PIB contraiu 2.2%, depois do decréscimo de 2.9% observado no 4ºT2011 (valor revisto dos anteriores -2.8%), com esta desaceleração do ritmo de contração a resultar, segundo o INE, de um do contributo menos negativo da procura interna. Em sentido contrário, apesar da ligeira aceleração das exportações de bens e serviços, registou-se uma redução no contributo positivo da procura externa líquida, determinada pelo comportamento das importações de bens e serviços que apresentaram uma variação negativa significativamente menos acentuada que a observada no 4ºT2011.

 

2. Esta elevada resiliência da economia portuguesa no arranque do ano tem consequências para o comportamento anual, concorrendo para uma revisão em alta das nossas perspetivas, de uma queda de 3.2% para uma contração entre 2% e 2.5%, aguardando-se pela divulgação em detalhe das componentes, aquando da estimativa final do PIB, para se proceder a uma revisão mais cuidada do cenário macroeconómico. Assim, depois do PIB português ter contraído 1.6% em 2011, a recessão acumulada no conjunto dos dois anos poderá ser inferior a 4%, que era justamente o que fora previsto aquando da assinatura do memorando com a troika, mas que acaba por ser um cenário bem mais favorável do que o apresentado pela Comissão Europeia na passada semana, em que a contração acumulada em dois anos tocava praticamente nos 5%. Refira-se que estas previsões partem do pressuposto de que não se assistirá nos próximos meses a uma forte instabilidade nos mercados financeiros, algo que não poderá ser colocado de parte, atendendo aos receios que pairam sobre a situação política grega.

   
3. Regressando aos dados em cadeia, apesar de com esta estimativa inicial o INE ainda não divulgar dados em detalhe do PIB, estimamos que, na ótica da despesa, a atividade económica terá sido condicionada pelos efeitos das fortes medidas de austeridade inscritas no Orçamento de Estado (OE) para 2012 (v.g., corte de subsídios na administração pública e empresas públicas, bem como agravamento da carga fiscal), que se terá traduzido num forte penalização da generalidade das componentes da procura interna. O consumo público deverá ter acelerado o ritmo de contração, mas com o investimento e o consumo privado a deverem ter caído menos do que no 4ºT2011, sobretudo o investimento, já que tinha caído 13.8% no 4ºT2011, estimando-se que no 1ºT2012 tenha contraído menos de 1%. Já o consumo privado terá caído cerca de 1.2%, penalizado sobretudo pela componente de bens duradouros, onde se destacam os automóveis. O único contributo favorável deverá ter vindo das exportações líquidas, mas essencialmente à custa de uma forte contração das importações, no quadro da já referida intensa redução da procura interna, com as exportações, por seu lado, a poderem ter sido condicionadas pelo fraco ímpeto de crescimento da economia europeia, particularmente pela contração da economia espanhola, mas devendo ter tido um suporte da recuperação observada pela economia alemã, que no 1ºT2012 expandiu 0.5%, recuperando da contração do final de 2011 e atingido um nível de produção máximo histórico, algo sem paralelo entre as outras grandes economias europeias.

 

4. Na ótica da produção, admite-se que o VAB da economia possa ter caído um pouco mais do que o PIB, refletindo quedas entre os principais setores, podendo na residual agricultura ter-se observado um ligeiro acréscimo, que estará dependente do balanço entre algum regresso aos campos espoletado pelo elevado desemprego e a fraca precipitação observada em média ao longo do trimestre e que acaba por ter impacto na atividade do setor. Estima-se uma queda do VAB da construção entre 0.4% e 0.5% para o 1ºT2012, o 4º trimestre consecutivo de contração, mas em marcado desagravamento, depois de ter caído 6.5% no 4ºT2011. Trata-se, assim, de um registo menos negativo, quando comparado com as quedas anteriores e atendendo ao atual clima de austeridade que se vive no país, mas que poderá ser explicado por dois factos: i) o já referido forte decréscimo da atividade no 4ºT2011, num total acumulado de 15.6% em 3 trimestres; ii) as condições climatéricas favoráveis para a época, com uma quase ausência de precipitação nos dois primeiros meses do ano em todo o território nacional. Quanto aos serviços (excluindo as atividades financeiras e imobiliárias), o respetivo VAB terá caído entre 0.5% e 1.0%, no 1ºT2012, menos do que no 4ºT2011 (-1.6%), mas representando já o 6º trimestre consecutivo de queda. Relativamente à indústria, a melhor dinâmica externa da economia não terá sido suficiente para compensar as fraquezas internas. Assim, e depois de o VAB da indústria ter registado um forte decréscimo trimestral de 3.4% no 4ºT2011 (-3.5%, se considerado o setor alargado, i.e. incluindo a energia, água e saneamento), os dados atualmente disponíveis sugerem que este tenha voltado a contrair no 1ºT2012, embora em marcada desaceleração, estimando-se uma queda na ordem dos 0.2%, naquela que terá sido a 4ª quebra consecutiva.

 

Rui Peres Jorge