São credores exigentes e nos próximos anos vão analisar ao detalhe o estado da economia portuguesa. Para isso mesmo FMI, BCE e Comissão já começaram a desenhar os canais de informação com o Estado português, recaindo sobre o Banco de Portugal e o ministério das Finanças a responsabilidade de reportar para Frankfurt, Bruxelas e Washington a melhor informação possível.
E foi em parte a pensar na troika que o Banco de Portugal e a sua equipa de estatística apresentou uma reformulação do capítulo inicial do seu boletim estatístico mensal, no qual recupera e compila (de forma mais simples e graficamente apurada) alguma da informação estatística essencial para perceber os caminhos que a economia portuguesa está a trilhar.
Aqui fica um pequeno guia com sete quadros incluídos nesse capítulo “Principais Indicadores” que aqui pelo massa monetária se pensa que vão estar no radar da troika.
A4. Produtividade e custos laborais
Dados anuais para produtividade, competitividade e custos do trabalho e mensais para os aumentos salariais. Para um país que precisa de sair da crise pelas exportações e ao qual foi prescrita uma receita de deflação interna, este quadro será lido com atenção. Nada de abusos nos salários. É claro.
A6. Contas Financeiras
Não é possível continuar a viver com défices externos na casa dos 10% do PIB ao ano. Quem contribuiu mais para esse défice? As contas financeiras respondem numa regularidade trimestral. No final de 2010, o défice de 8,6% do PIB (superavit do Resto do Mundo), era explicado pelo Estado e empresas. Famílias e bancos tinham saldos positivos.
A9. Empréstimos e depósitos
Portugal tem um dos mais elevados rácios de empréstimos sobre depósitos do mundo. Não pode continuar assim, declarou a troika que considera que esse é mesmo um dos indicadores centrais para avaliar a desalavancagem da economia. O quado A.9. não nos dá esssa informação directa, mas indica as taxas de crescimento de empréstimos e depósitos relativos a empresas e famílias. Uma análise mês a mês.
A11. Preparem-se para os incumprimentos
22% das empresas e 14% dos particulares têm pagamentos em atraso no banco (o chamado crédito malparado). Os empréstimos às PME e o crédito ao consumo são os mais preocupantes, seja em montante, seja em número de entidades. Este é um dos indicadores centrais para medir o impacto da austeridade e o grau de resistência da economia ao choque recessivo. Um crescimento significativo deste indicador é dado como certo. Será que os bancos aguentam?
A14. Contas públicas para Bruxelas em cada trimestre
Como mostra o caso grego, a execução do Orçamento do Estado, a redução do défice orçamental, e o controlo da dívida são factores essenciais para avaliar, na óptica da troika, o sucesso do programa de ajustamento. Este quadro dá conta da evolução trimestral, em contabilidade nacional (ou seja, a que conta para Bruxelas) dos principais indicadores orçamentais. Os dados do primeiro trimestre do ano estão quase a sair.
A15. Quem está a gerar e a financiar os défices, mês a mês
O ministério das Finanças divulga todos os meses os saldos orçamentais numa óptica de caixa. Estes dados do Banco de Portugal acrescentam aos da DGO por mostrarem, mês a mês, como está a financiar-se (ou a financiar) cada um subsectores das Adminitrações Públicas (Estado, Regiões, Autarquias e Segurança Social). O quadro até descreve os instrumento financeiros e as contraparte que estão a ser usados. A troika vai querer saber isto.
A18. Afinal quanto devemos ao exterior
Não são só as contas públicas que estão desequilibradas em Portugal. O endividamento privado e a divida externa até colocam o País numa situação de maior destaque (pela negativa) em termos internacionais. No final de Março, os passivos face ao exterior chegavam a 286% do PIB, um valor que compara com activos de 180%. Um desequilíbrio que se revelou demasiado elevado e que agora têm o mundo desconfiado sobre a solidez da economia nacional. A consultar trimestre a trimestre.
Com certeza que a troika quererá muito mais informação do que esta, e o boletim estatístico do Banco de Portugal também tem muita mais informação para dar. No entanto para começar estes sete quadros já dão uma ideia de para onde olhar.
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