Os avisos do banco central dos bancos centrais

28/06/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

O Banco de Pagamentos Internacionais (BIS, na sigla em inglês) divulgou no fim de semana o seu relatório anual. Vindo da instituição cuja equipa de economistas foi uma das que avisou mais cedo para a actual crise, vale a pena atentar nos conselhos que chegaram de Basileia:

 

– “Lidar com o excesso de endividamento, privado e público, é chave para construir uma fundação sólida para um crescimento real alto e equilibrado e para um sistema financeiro estável”;

 

– “A persistência de taxas de juro muito baixas nas grandes economias avançadas atrasa o reequilíbrio dos balanços das famílias e das instituições financeiras”;

 

– “Há passos críticos que ainda falta dar [na reforma regulatória]. Entre eles estão a implementação total e atempada de Basileia III; a adopção de medidas para lidar com o risco sistémico associado a grandes instituições financeiras globais”, sendo importante que se desenvolvam melhores sistemas de insolvência destas instituições e de alerta sobre stress financeiro;

 

– Uma caracteristica do último ano é o “ressurgimento da inovação financeira, com grande crescimento em novos instrumentos e veículos como 'exchange-traded funds', 'commoditylinked notes e 'commodity-based hedge funds'. Em certa medida este regresso da inovação positivo. mas a chegada de novos produtos com riscos não testados pela pressão do mercado tras de volta de forma vívida as memórias do período que levou até à crise”.

 

Dois breves comentários: há referências directas aos problemas nos EUA (“Nenhuma economia – não interessa quão grande, rica e poderosa – está imune aos riscos colocados pela incoerência orçamental”), mas nenhuma à China ou a movimentos cambiais bruscos e desordeiros; Por outro lado, e talvez mais interessante, seja o que o “banco central dos bancos centrais” nos diz sobre o actual estado do sistema financeiro mundial: os bancos centrais continuam a subsidiar bancos através da sua política monetária, os reguladores não resolveram o problema fulcral das instituições demasiado grandes para falir (e precisam de ser avisados sobre a importânica de implementarem Basileia III) e, ainda, a inovação financeira está de volta de tal forma que faz lembrar o período que conduzir à crise. Visto da perspectiva dos bancos: nada mau.

Rui Peres Jorge