Nota do editor: Pedro Lains, professor no ICS e bloguer, entre outros, em Pedro Lains, aceitou o convite do massa monetária e, até ao final de Abril, publicará os seus posts também nesta casa.
É fácil dizer: eu teria feito melhor. Mais fácil ainda é dizer isso no plural. Claro. A realidade está aí e pode ser avaliada e é obviamente negativa. A alternativa, o caminho alternativo, não está aí e não pode ser facilmente avaliado. Mas será positiva ou menos negativa? Embora, na verdade, não o saibamos, até parece que todos sabem a resposta. Sobretudo os do actual partido da oposição ou os que estão descontentes com o actual governo. Pois. Quem escreve estas palavras acha que é bom ir para eleições e que outro partido que não o do governo deve ganhar – é um desejo a que não corresponderá um voto, numa contradição que não valerá a pena justificar aqui.
Mas quem escreve estas linhas também acha que foi feito aquilo que devia ter sido feito e que um governo do maior partido da oposição não teria feito muito melhor.
Como é que se pode chegar a uma conclusão tão díspar do senso comum? Talvez olhando para outras crises e, seguramente, olhando para as raízes das dificuldades da economia portuguesa, mesmo que sejam exercícios difíceis e porventura inconclusivos. Como atalho, podemos pensar em questões que nos levem a pensar naquilo em que verdadeiramente se pensa quando, ligeiramente, se pensa que há uma alternativa melhor. E podem ser estas as questões:
1) Quais foram os responsáveis da crise de 1981-1983?
2) Onde, em concreto, podia o governo ideal ter cortado mais, desde 2008 ou 2007?
3) Quanto se ganharia em cortar o mesmo mas mais cedo?
4) Quem seria o ministro das Finanças ideal para levar adiante a alternativa?
5) Porque é que Manuela Ferreira Leite não ganhou as últimas eleições?
6) Se a receita alternativa é tão evidente, porque é que ela não foi ainda implementada?
Estas perguntas não têm nada de especial. Todavia, e por isso mesmo, elas ajudam a pensar. Todas têm também respostas vindas do senso comum. O que faz igualmente pensar. Mas, se virmos bem, mesmo bem, não podemos senão chegar à conclusão de que as respostas que a gente tem aí à mão de semear não são muito satisfatórias. Veja-se:
1) Ninguém se lembrou dos nomes dos minstros das Finanças de 1981-1983? Pois bem, foram eles, Morais Leitão, João Salgueiro e Ernâni Lopes, seguramente entre os melhores economistas ou financeiros portugueses, sobretudo na óptica de quem agora mais critica.
2) Sim, onde, alguém já disse, e em quanto?
3) Sim, quanto, alguém já mediu?
4) Vide resposta 1)
5) Alguém sabe?
6) Idem, ibidem.
Este exercício, aparentemente fútil, devia levar-nos a olhar para outros lados, para ver se não haverá conjuntos de perguntas e de respostas mais entusiasmantes. Olhemos para a economia, por exemplo, já que a pergunta é sobre o estado da economia. Pois, todos sabemos, isso é mais difícil. Mas, garanto, vale muito a pena. O resultado desse exercício alternativo será este: sim, é tempo de mudar porque este governo está cansado e desacreditado junto da opinião pública nacional; venha outro; mas não se esperem milagres que os problemas económicos ultrapassam a capacidade da boa governação governar bem; etc…
Moral da história: tudo tem de ser mostrado, demonstrado, medido, provado. Esse tudo inclui a realidade que se vive (passe-se o pleonasmo) e, também, a alternativa que não se vive. O debate em Portugal tem gasto pouco tempo com essa segunda parte.
Ah, e convém repetir para que não haja confusões: quem escreve estas linhas quer já outro governo – por razões políticas, não económicas. E não está é à espera de milagres.
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