Peço a esses cavaquistas, que eu não sei quem são, anónimos, que desamparem a loja”
O apelo foi lançado ontem à noite pelo professor e ex-líder social-democrata, Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência das notícias do fim-de-semana que davam conta de uma discordância entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. Notícias essas com base em alegados cavaquistas não identificados.
Laffer contra troika
Vítor Gaspar, a 14 de Julho, quando anunciou a sobretaxa de IRS e a antecipação do aumento do IVA sobre a energia Fonte: Mário Proença/Bloomberg
A curva de Laffer é um dos termos preferidos e mais polémicos no debate económico. A ideia teórica é intuitiva: taxas mais elevadas de imposto rendem mais receita apenas até um determinado ponto. Isto porque há um momento a partir do qual um aumento das taxas gera perda de receita fiscal, devido a maior evasão e ao estrangulamento da economia. Não é assim de estranhar que sempre que há um aumento da pressão fiscal sobre a economia, o debate sobre se arriscamos passar esse ponto teórico retorne – normalmente alimentado pelos que mais receiam o excessivo peso da carga fiscal e para irritação dos que defendem um papel importante do Estado na provisão de serviços públicos.
Mas esta semana no Parlamento aconteceu algo pouco frequente: perante os últimos dados de execução orçamental, direita e esquerda admitiram implicitamente esse risco. E o governo não o afastou. Os maus resultados em termos de receita de IVA e de contribuições sociais no final do ano fazem temer o pior. E podem ajudar a perceber o que levou Gaspar a desafiar o Banco de Portugal e a troika (o FMI em particular) nas várias propostas de desvalorização fiscal.
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Portugal perante a reestruturação e mais austeridade
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Pôr do Sol em Lisboa em Novembro Fonte: Mário Proença/Bloomberg
As más notícias para Portugal correm o mundo. A manter-se o rumo da economia europeia e das políticas económicas que vêm sendo seguidas parece cada vez mais provável que Portugal se veja forçado a adoptar medidas de austeridade adicionais e a avançar com um plano de reestruturação da sua dívida.
Ontem, em artigo de opinião aqui no Negócios – uma novidade onde me arriscarei com posições mais subjectivas e pessoais que as dos textos que publicamos aqui no massa monetária –, defendi a urgência de uma análise independente à sustentabilidade das contas públicas, sublinhei o risco de Portugal se ver, em breve, na situação grega e de ser por isso necessário debater e preparar o cenário de uma reestruturação da sua dívida. Hoje, o Wall Street Journal escreve que os mesmos banqueiros que estão a negociar com a Grécia duvidam do plano de ajustamento nacional (especificamente na capacidade de Portugal regressar ao mercado em 2013 a preços sustentáveis) e pensam que um segundo “bailout” é inevitável. O WSJ cita ainda analistas que dizem não ter dúvidas sobre a necessidade de uma reestruturação. Este é um cenário também dado como provável por dois economistas que se têm destacado na análise da crise europeia. Simon Johnson (ex-economista-chefe do FMI) e Peter Boone deixam ainda um outro diagnóstico: Portugal (e os outros periféricos) vai precisar de muita mais austeridade. Aqui ficam os principais excertos dos dois textos.
A histeria dos mercados na avaliação dos juros no euro
Se, durante anos, os mercados erraram sistematicamente na avaliação do prémio de risco das obrigações soberanas na área do euro – atribuindo o mesmo risco à Grécia e à Alemanha – porque é que agora se acha que os mercados estão a avaliar de forma correcta o risco no mercado? A pergunta é de Paul De Grauwe e Yuemei Ji, num artigo publicado no VoxEU.org, onde os dois economistas dão também a resposta: os mercados, em modo de histeria, estão, na verdade, a avaliar mal o risco soberano no euro, e os políticos têm de levar isso em conta nas suas políticas. É por isso essencial que a par com medidas de redução do peso da dívida, a Europa avance com medidas de estímulo monetário e de contenção orçamental. Além disto, estamos também a ler:
2. Carlos Tavares contra Carlos Costa no corte de salários (Negócios)
3. Uma proposta de solução para a segmentação do mercado de trabalho espanhol (VoxEU.org)
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Tempestade em Espanha… e não só
Um início de semana quente em Espanha. Hoje pela manhã duas más notícias: por um lado o banco central apontou para uma contracção do PIB de 1,5% este ano, por outro o FMI vê mesmo risco de insolvência no País. Rajoy continua comprometido com mais medidas de austeridade, mas pode adiá-las para depois das eleições regionais de Março. As palavras de Lagarde, pedindo um reforço dos fundos europeus, estão a percorrer o mundo, sinalizando uma preocupação crescente do FMI com a situação europeia. Simon Johnson e Peter Boone dizem que podem ser precisos 5 biliões de euros. O enfoque sobre as dificuldades espanholas surgem no dia em que os ministros das Finanças do euro se reunem para analisar a crise europeia com dois outros temas quentes: o apcto orçamental e a reestruturação da dívida grega. Sobre o primeiro ponto, já não há muitas duvidas. Já sobre a redução da dívida grega, as negociações seguem, com os credores a endurecer o discurso. Além disto, estamos também a ler:
2. Depois de vários episódios fiscais polémicos, Mitt Romney vai tornar publica a sua declaração de rendimentos (The Caucus)
3. Precisa de um hacker? Não é assim tão difícil de encontrar, com endereço electrónico e tudo (Wall Street Journal)
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