Pode o BCE fazer mais por Portugal?

03/07/2014
Colocado por: Rui Peres Jorge
Mari Draghi

Mario Draghi

Há um mês o BCE apresentou um pacote de estímulo monetário para a Zona Euro para afastar o risco de deflação, estimular a retoma e reduzir a fragmentação financeira na região, isto é, baixar os juros para empresas viáveis na periferia, nomeadamente em Portugal.

 

Entre as várias medidas apresentadas destacam-se quatro: taxa de juro negativa nos depósitos dos bancos no BCE; empréstimos a quatro anos à banca europeia contra a garantia de cedência de crédito à economia; a aceleração de um plano de compra de activos (créditos) titularizados; e o anúncio de que o BCE poderá avançar com um plano de compra de activos em larga escala se estas medidas não forçaram um aumento da inflação esperada.

 

Passado um mês, vale a pena juntar alguns elementos para tentar responder a duas questões:

 

1. Serão as medidas do BCE suficientes para puxar pela inflação e pela retoma da Zona Euro?

 

2. Poderia o BCE fazer mais por Portugal?

 

Para a primeira pergunta não há uma resposta segura. É esperar e ver, diz o próprio BCE. Já quanto à segunda, são várias as análises que apontam para que mais pudesse ser feito em Frankfurt por Lisboa. Ou pelo menos, mais depressa.

 

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Portugal só tem 7% de probabilidades de ir em frente no Mundial, mas ganha ao Gana

23/06/2014
Colocado por: Bruno Simões

A qualificação de Portugal parece impossível, mas atenção: os resultados mais prováveis nos dois últimos jogos do grupo G podem deixar a Selecção a apenas dois golos de se qualificar.

 

Portugal's Varela scores their second goal as Tim Howard of the U.S. reacts during their 2014 World Cup G soccer match at the Amazonia arena in Manaus

Varela faz o empate aos 95 minutos, para desespero do guarda-redes Tim Howard. Fonte: Anders Stapff/Reuters.

 

O golo do empate que Silvestre Varela marcou domingo já ao cair do pano frente aos Estados Unidos não serviu de muito – apenas adiou uma eliminação que as estatísticas dão como praticamente garantida. Esta é a visão pessimista do golo mais tardio da história de um Mundial. Se quisermos ser optimistas, temos de olhar para além das probabilidades de Portugal se qualificar – que oscilam entre 5,4% e 11,8% – e confiar nos resultados mais prováveis para os dois últimos jogos do grupo G. Foi isso que fomos fazer.

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Reacções dos economistas: Continua o ruído da Galp no PIB

09/06/2014
Colocado por: Nuno Aguiar

O PIB português cresceu 1,3% no primeiro trimestre de 2013, reflectindo um abrandamento das exportações e um crescimento das importações. A procura interna continua a dar boas notícias, principalmente o investimento, em que o reforço de stocks teve um impacto decisivo.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

Paula Carvalho – Economista-chefe do BPI

 

1. A economia registou uma queda menos acentuada do que o reportado na estimativa rápida do INE, o que constitui uma boa notícia. Foi um período muito influenciado pela actuação da GALP, com impacto pelo menos nas exportações (vendeu-se menos combustível refinado), nas importações (de combustível refinado em substituição da produção interna e possivelmente de petróleo em bruto, dado que não se interromperam os fornecimentos), e no investimento (com acumulação de stocks muito influenciados pelos produtos petrolíferos, segundo o INE). Sobretudo, deve tentar fazer-se uma leitura sem o ruído destes impactos, que em nosso entender, continua globalmente positiva ainda que muito moderada. Ou seja, não alteramos a previsão de crescimento do PIB de 1% este ano, sendo possível uma revisão em alta dependendo da confirmação de algumas tendências.

 

2 – Há vários desenvolvimentos favoráveis a destacar: o investimento em maquinaria e equipamento, excluindo automóveis, aumentou em termos homólogos pelo terceiro trimestre consecutivo. Excluindo o contributo da variação de stocks, a procura interna gerou um contributo de 1.2 p.p para o PIB, maior que o contributo do trimestre anterior (0.9 p.p). O consumo de bens correntes não alimentares e serviços, aumentou ligeiramente, interrompendo quedas que se repetiam desde finais de 2010.

 

3 – Em resumo, importa sobretudo acompanhar a informação relativa ao comércio internacional – até Abril, as exportações de mercadorias excluindo combustíveis aumentaram 4.6% -, as tendências relativas à formação bruta de capital e os índices de confiança de uma forma global. Destacaria recentemente o Indicador de sentimento económico da EU que revela melhorias transversais aos vários sectores; e a aceleração da produção industrial em Abril, traduzindo bons sinais pelo lado dos indicadores da oferta agregada.

 

Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica

 

1 – No 1.º trimestre de 2014, a economia portuguesa contraiu 0.6% face ao trimestre anterior, evoluindo abaixo da sua dinâmica recente e interrompendo três trimestres com crescimento em cadeia. Em termos homólogos, o crescimento do PIB manteve-se positivo (1.3%) se bem que em desaceleração face ao 4.º trimestre de 2013 (1.5%). Houve uma ligeira correcção em alta de 0.1 pontos percentuais face à estimativa rápida, muito por efeito de recálculo dos deflactores.

 

2 – Apesar de globalmente desfavoráveis, estes dados não colocam em causa as perspetivas de recuperação da economia portuguesa ao longo de 2014. O consumo privado regressou ao crescimento trimestral positivo (0.2% ou 0.9% em termos anualizados). Mesmo as exportações, que contraíram 1.9% face ao último trimestre de 2013, o que é preocupante, permaneceram com um crescimento homólogo elevado (4.3%) face às outras componentes da despesa e alinhado com a respectiva média histórica.

 

3 – O investimento (FBCF) contraiu 4.2% em cadeia o que evidencia a dificuldade deste agregado em abandonar os mínimos históricos observados há exactamente um ano (a variação homóloga foi de apenas 1.7%). Porém, a formação bruta de capital aumentou 1.3% face ao último trimestre na sequência de um aumento expressivo nas existências que contribuíram 1.6 pontos percentuais para o crescimento homólogo do PIB. A evolução do investimento tem, assim, leituras contraditórias mas o NECEP continua à espera de observar a recuperação desta variável nos próximos trimestres.

 

4 – As importações foram a componente da despesa com maior variação homóloga (8.5%). Em condições normais, este crescimento reflectiria também a recuperação do investimento e do consumo privado mas, no primeiro trimestre, pode ter sido muito afetado pela variação de existências. As necessidades líquidas de financiamento regressaram a um valor ligeiramente positivo também em resultado do mesmo tipo de efeitos pontuais.

 

5 – A leitura dos dados das contas nacionais trimestrais é dificultada por efeitos de deflatores, de calendário e outros de natureza operacional. Os sinais de crescimento, apesar de ténues são claros, e manifestam-se na evolução do consumo privado. Para além do abrandamento das exportações, as hesitações que o processo de formação de capital fixo continua a evidenciar merecem uma atenção continuada. Serão estes dois agregados que irão condicionar as perspectivas do NECEP sobre a evolução da economia nos próximos trimestres.

 

Filipe Garcia – Informação Mercados Financeiros

 

1 – Confirma-se o essencial da estimativa rápida, sendo que se destaca a contracção em cadeia, mesmo que a variação homóloga seja positiva. Segundo o INE, essa contracção teve como origem o abrandamento nas exportações, uma situação que corrobora os indicadores já conhecidos da produção industrial e do comércio externo. Quando se depende mais das exportações para crescer, o PIB pode tornar-se mais volátil por depender mais da procura externa. Por outro lado, no caso concreto de Portugal, a concentração de um grande volume de exportações em algumas grandes empresas faz com que as variações de vendas de uma empresa em concreto tenham grande impacto nos números finais.

 

2 – Os números também foram desapontantes em alguns países da Europa, nuns casos devido às questões relacionadas com a energia, noutras em reflexo do desempenho da indústria. Mesmo o crescimento na Alemanha de 0.8% teve sobretudo como origem a procura interna e o Inverno pouco rigoroso na Europa e não a indústria ou a procura externa.

 

4 – Pela positiva há que notar o crescimento da procura interna, o que é um sinal de normalização da economia. Só que, quando a procura interna avança, o mesmo acontece com as importações, prejudicando a balança comercial. Há vários sinais de estabilização da economia portuguesa, mas sem motivos para grandes festejos. Continuamos com a opinião que 2014 será um ano de crescimento, mas muito moderado e dependente da procura externa.

Piketty vs Colbert

04/06/2014
Colocado por: Nuno Aguiar

 

O economista do momento foi ao templo do neoliberalismo falar sobre o seu livro “Capital no Século XXI”. No Colbert Report, Thomas Piketty explicou tentou explicar o melhor possível r > g, mas a personagem de Stephen Colbert deu poucas hipóteses.

 

A apresentação inicial marcou o tom da entrevista: “O livro põe a nu a desigualdade salarial. Mas não se preocupem. Por 40 dólares, os pobres nunca vão saber.”

 

Em 2015, Stephen Colbert vai substituir David Letterman no “Late Show” da CBS, um dos mais prestigiados programas da televisão nacional norte-americana. A personagem que encarna no Colbert Report é a de um conservador neoliberal.

 

A inflação de 4% e a relevância do Fórum de Sintra

27/05/2014
Colocado por: Rui Peres Jorge
Fórum de Sintra

Fórum de Sintra

 

Termina hoje em Sintra um encontro de dois dias que debate os principais desafios que se colocam à política monetária internacional e que conta com os mais altos responsáveis do BCE e FMI, vários governadores de bancos centrais e muitos economistas que nos últimos anos têm marcado o pensamento sobre a actividade dos banqueiros centrais e das políticas monetárias e financeiras.

 

Sendo a estreia do BCE na organização de uma grande conferência internacional deste tipo, ainda permanece uma incógnita a influência do Fórum de Sintra – que pretende complementar deste lado do Atlântico a reflexão que anualmente, no final de Agosto, ocorre em Jackson Hole nos EUA. A experiência norte-americana aconselha a que não se desvalorizem estes encontros informais que juntam, em ambiente prazenteiro, alguns dos homens (e muito poucas mulheres) mais poderosos do mundo, seja pela força das suas ideias, seja pela sua capacidade de influenciar a vida de cada um de nós com as suas decisões. Vejamos alguns exemplos.

 

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