Os economistas mais importantes de Portugal

25/01/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

Grande parte da acção e da tensão sobre a crise de dívida pública portuguesa dos últimos meses concentra-se no discreto 6º andar do número 57 da Avenida da República em Lisboa. É aí que neste momento trabalham alguns os mais importantes economistas e gestores financeiros do país: os que gerem a nossa dívida pública que, desde há pouco mais de um ano, se encontra sob forte pressão.  

 

Na semana passada tivemos mais um exemplo das respostas do IGCP à crise:

 

1) Como o Negócios noticiou na quinta, e a Gillian Tett do FT analisou na sexta, Portugal deu um passo simbólico no mundo do risco soberano. Anunciou que irá oferecer colateral nos contratos de derivados que negociará com os bancos. O objectivo: reduzir o risco associado a essas operações, de forma a diminuir a procura sobre os seguros de risco contra a dívida nacional, aliviando assim a pressão sobre o respectivo preço e, logo, sobre os juros da própria dívida pública. Tett atribui-lhe simbolismo pois, até agora, os emitentes soberanos dos países desenvolvidos (e de alguns grandes bancos) estiveram “isentos” da necessidade destes colaterais. Com a crise o mundo pode ter mudado definitivamente: o privilégio do risco baixo pode ter acabado. Para Portugal como para muitos outros emitentes, de Espanha à Bélgica, de Illinois a California.

 

A operação exemplifica a forma como o pacato IGCP se transformou numa máquina criativa. Vejamos:

 

1) Janeiro de 2011: anuncia a introdução de colaterais nos derivados que negocei com bancos (ver acima);

 

2) Janeiro de 2011: IGCP coloca dívida privada junto da China, paga 4,75% a 18 meses, acima do preço de mercado

 

3) Dezembro de 2010: Estado vende 1,3 mil milhões de euros em colocações privadas, instrumento pouco usado até à crise e que começa a ganhar destaque crescente na estratégia do IGCP;

 

4) Dezembro 2010: Estado comprou 1,5 mil milhões de euros a si próprio em leilões de bilhetes do Tesouro para dar liquidez ao mercado, uma operação inédita no meio de mais uma exacerbação da crise;

 

5) Verão de 2010: Após a intrevenção na Grécia, o IGCP emite grandes quantidades de dívida de curto prazo, colocada especialmente junto de bancos nacionais;

 

6) Janeiro de 2010: Alberto Soares, presidente do IGCP, antecipa, numa nota enviada às agências de rating e agentes de mercado, a possibilidade de um pacto de regime entre PS/PSD para 4 anos estar na calha (então com Ferreira Leite na liderança laranja).

 

A venda de dívida à China foi até agora a operação que suscitou mais atenção, nomeadamente dos partidos com assento parlamentar que, da direita à esquerda, estão a pedir informação ao Governo. Mas na verdade, desde pelo menos há um ano, que o IGCP vem a desempenhar um papel decisivo na estratégia portuguesa de combate à crise. Os seus economistas e técnicos são neste momento os mais importantes do país.

 

Por isso, aqui fica uma sugestão: além – ou até em vez – de Teixeira dos Santos, a Assembleia da República deveria ouvir Alberto Soares, presidente do IGCP, que tão escassa informação tem prestado sobre a utilização dos novos – e pelo vistos preciosos – instrumentos de financiamento. Poderiamos ficar também a saber quais as suas perspectivas para 2011.

 

PS: Se é (ou conhece alguém) recém licenciado em economia, gestão ou finanças, gosta da pressão e emoção dos mercados (e tem imaginação) então, o IGCP está a contratar estagiários

 

 

 

Rui Peres Jorge