A taxa de desemprego voltou a cair no último trimestre de 2013, para os 15,3%. José Miguel Moreira, do Departamento de Estudos do Montepio, considera que os “dados são inegavelmente animadores”, uma vez que marcam a “interrupção do período de deterioração”do mercado de trabalho. Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, concorda, mas alerta para o nível ainda elevado da taxa de desemprego e para o facto de os ganhos no emprego virem “quase exclusivamente em contratos a termo”.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. A taxa de desemprego fixou-se nos 15.3% no 4ºT2013, diminuindo face aos 15.6% registados no 3ºT2013. Tratou-se do 3º desagravamento consecutivo, após 7 trimestres de subidas, entre o 3ºT2011 e o 1ºT2013, que culminou em máximos da actual e da anterior série histórica. Mais relevante ainda, esta nova descida trimestral da taxa de desemprego (de -0.3 p.p.) surge depois de duas ainda mais intensas quedas, no 3ºT2013 (-0.8 p.p.) e no 2ºT2013 (-1.3 p.p.), esta última a maior desde o 2ºT1998, altura em que arrancou a Expo 98 (22-mai).
2. A descida registada no 4ºT2013 resultou de uma nova forte diminuição do desemprego, num contexto de uma apenas marginal queda trimestral da população activa (relativa estabilização), o que constitui um factor positivo, atendendo a que se assistiu no trimestre a uma queda da população total, a qual proveio, assim, essencialmente (em termos líquidos) maioritariamente da população inactiva. Não foi, assim, através do aumento da população inactiva que surgiu a subida do emprego, a qual ocorreu já pelo 3º trimestre consecutivo (ainda que inferior ao observado nos dois trimestres anteriores).
3. Este valor da taxa de desemprego está também bastante abaixo do observado no trimestre homólogo de 2012 (-1.6 p.p. vs -0.2 p.p. no 2ºT2013) – o que acontece apenas pela 2ª vez (consecutiva) desde o 3ºT2008, isto é, ainda antes do agravamento da crise financeira internacional, com a falência da Lehman Brothers –, com o desemprego a evidenciar, em termos homólogos, uma forte queda e o emprego um acréscimo.
4. Estes dados são inegavelmente animadores, ao virem confirmar e consolidar a interrupção do período de deterioração que se verificava desde que a crise do euro se alastrou a Portugal e, no seu encalço, veio o programa de ajustamento. Não obstante, note-se que a taxa de desemprego permanece elevadíssima historicamente e a apresentar uma evolução desproporcionada face à queda do PIB (mesmo atendendo às sucessivas contracções registadas desde o final de 2010), constituindo um dos principais constrangimentos para a economia portuguesa. Este novo desagravamento do desemprego no 4ºT2013 veio implicar que, em termos anuais, a taxa de desemprego em 2013 ficasse nos 16.3% (15.7% em 2012), ligeiramente abaixo dos 16.4% por nós estimados, e, essencialmente, bem abaixo dos 17.4% previstos pelo Governo ainda em Outubro, aquando da apresentação do OE 2014.
5. Em termos prospectivos, estes dados vieram também provocar uma ligeira revisão em baixa das nossas previsões, apontando-se agora para uma taxa de desemprego de 15.1% para 2014, quando o Executivo previu um agravamento para 17.7% no OE 2014, prevendo-se uma redução para cerca de 14.7% em 2015. O pico máximo terá sido atingido no 1ºT2013 (17.7%, de acordo com a taxa oficial do INE), prevendo-se no curto-prazo uma estabilização da taxa de desemprego no 1ºT2014, reflectindo as expectativas de uma certa estabilização da actividade económica no trimestre, com a procura interna a ser condicionada pela entrada em vigor das medidas constantes no OE-2014. A taxa de desemprego deverá, assim, encetar uma trajectória descendente mais sustentada a partir da primavera.
Paula Carvalho – Economista-chefe do BPI
1. Os indicadores do mercado de trabalho relativos ao 4º trimestre de 2013 surpreenderam pela positiva. Efectivamente, a evolução da taxa de desemprego contrariou a tendência sazonal, pontuando adicionalmente vários sinais positivos:
– o número de desempregados desceu quer em termos trimestrais quer homólogos,
– o emprego aumentou em termos homólogos pela primeira vez desde meados de 2008 (o que é particularmente relevante).
– a criação de emprego ocorreu sobretudo no sector dos serviços mas foi extensivo a diversos sectores, realçando os ganhos muito significativos em “Actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares” e “Actividades de informação e de comunicação”; estes são sectores que habitualmente englobam actividades com alto valor acrescentado e que são também transaccionáveis (potencialmente).
– a taxa de desemprego de longa duração baixou
– a população activa encolheu a um ritmo inferior aos trimestres anteriores,
– a população inactiva disponível mas que não procura emprego reduziu por comparação com o trimestre anterior (eventualmente representam os desencorajados) etc
2. Apesar do bom desempenho generalizado, importa relembrar que a taxa de desemprego continua em níveis muito elevados comparativamente à média histórica; recorde-se que no acordo inicial com a Troika, se antecipava que em 2013 a taxa de desemprego se situasse em pouco mais de 13% (13.3%). Este facto ilustra bem a rapidez da degradação no mercado de trabalho nos últimos anos. Para além dos factores como a emigração que também terão contribuído para a inversão desta tendência; ou de análises sobre a precariedade ou a evolução salarial (refira-se que os ganhos de emprego foram quase exclusivamente em contratos a termo).
3. Face aos sinais consistentes de melhoria da actividade económica, este resultado sugere que o panorama do mercado de trabalho será melhor que o esperado. O OE2014 antecipa que o desemprego se situe em 17.7% este ano; tudo indica que se quedará por valores em torno de 15.5%, na ausência de choques inesperados.
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