Estamos a aproximar-nos [nível de PIB face ao pico de Islândia e Portugal] e provavelmente as linhas vão cruzar-se este ano
Mar Gudmundson, governador do Banco de Islândia
Fonte: Apresentação de Mar Gudmundson (apresentação completa no fundo da página)
O Governador do banco central islandês esteve em Lisboa esta semana para falar da crise no seu país, a convite de Carlos Costa. Um convite oportuno num momento em que ganha importância o debate sobre a estratégia europeia anticrise (ver por exemplo VOX). Os jornalistas portugueses questionaram Gudmunson sobre a Islândia, e também sobre se Portugal estaria melhor ou pior fora da Zona Euro para vencer recessão. Dúvidas fundamentadas por exemplo na recuperação islandesa que, segundo o próprio governador, deverá elevar o nível do PIB do país relativo ao seu máximo em 2008 para valores superiores aos de Portugal (também relativo ao seu respectivo máximo de 2007/2008). Essa é aliás também a expectativa da Comissão Europeia no máximo até 2013.
Nível de PIB anual, máximo = 100 (2008 para Islândia; 2007/2008 para Portugal)
Fonte: AMECO (dados não incluem ainda as perspectivas mais negativas para Portugal de recessão de 3,3% este ano e estagnação em 2013)
Dado este desempenho, que lições da Islândia?
A apresentação de Mar Gudmundson mostra que há mais diferenças do que semelhanças entre os dois países (Apresentação completa no fundo página). Por exemplo, a Islândia sucumbiu ao pés de um sistema financeiro cujos activos superavam 10 vezes o PIB do país, Portugal foi apanhado na crise de dívida que o castigou pelo baixo crescimento e elevado endividamento publico e privado. Mas, ainda assim, que lições se podem dar a Portugal a partir da experiência islandesa?
Algumas notas a partir da intervenção do governador:
1) Não se atreve a dizer que é mais fácil gerir uma crise destas fora do euro, mas elogia abertamente a estratégia implementada pelo FMI, que tem todos os ingredientes de que Portugal não dispõe. “Sem o FMI não estávamos aqui”, diz. Sobre Portugal sair do euro: “seria um desastre”.
2) A austeridade também foi uma parte importante no programa de ajustamento na Islandia e não há forma de lhe fugir em Portugal, considera. Contudo, avisa também: “só austeridade não chega”;
3) A Islândia recupera com base numa receita pouco ortodoxa, prescrita pelo FMI: desvalorizou a moeda, impôs controlo de capitais, fez um incumprimento externo privado em larga escala através do seu sistema financeiro e protegeu o Estado desse impacto (evitando um “default” soberano). O país experimenta ainda uma inflação de 6%. (Mas também há semelhanças com Portugal: a crise colocou a China mais perto)
4) Nota final para as surpresas do processo de ajustamento: a falência dos bancos foi menos dispendiosa do que se pensou (as taxas de recuperação superaram as melhores expectativas), mas a desvalorização cambial foi menos eficaz do que se esperava (por falta de investimento, o país não consegue garantir oferta de alumínio para a procura mundial).
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