Investimento no nível mais baixo desde 1996

11/03/2011
Colocado por: massamonetaria

O INE divulgou hoje os dados do PIB do quarto trimestre de 2010. A equipa da análise de conjuntura da Universidade Católica e os economistas do departamento de Estudos do Montepio evidenciam o mau desempenho do consumo e, em especial do investimento que está agora no nível mais baixo desde 1996.

  

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor

 

 

 

 

NECEP – Universidade Católica

 

 

 

 

 

1. No 4º trimestre de 2010, a economia portuguesa registou uma quebra de 0,3% face ao trimestre anterior, tendo crescido 1,2% em termos homólogos (no 3º trimestre, as taxas de crescimento foram de 0,3% e 1,4%, respectivamente). No ano de 2010, a taxa média de crescimento do PIB foi de 1,4% (-2,5% em 2009). Estes valores estão conforme as expectativas do NECEP. O comportamento das várias componentes do PIB confirma o diagnóstico já feito pelo NECEP sobre as principais razões que levaram à contracção da actividade económica no final do ano. A quebra de confiança dos agentes económicos, após o anúncio de um Orçamento do Estado muito restritivo para 2011, bem como o agravamento das condições de financiamento da economia portuguesa terão sido determinantes para este resultado negativo. Neste contexto é de realçar a forte quebra do investimento (em cadeia e em termos homólogos), que coloca este agregado em níveis mínimos desde meados de 1996 e reforça a trajectória negativa exibida nos últimos anos. Já o consumo privado evoluiu em linha com a sua dinâmica recente, apresentando um crescimento marginal face ao trimestre anterior. No entanto, este resultado ficou a dever-se exclusivamente ao aumento do consumo de bens duradouros, em antecipação ao agravamento da carga fiscal. De resto, o consumo de bens correntes registou já uma quebra, sugestiva das restrições que as famílias enfrentam

 

 

 

 

Rui Bernardes Serra e José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

 

 

1. Estimativa final do INE para o PIB do 4ºT2010 confirmou uma queda trimestral de 0.3%, depois de ter subido 0.2%, no 3ºT2010 (valor revisto em baixa, em 0.1 p.p., aquando da 1ª estimativa). Trata-se, assim, da 1ª contracção do PIB em 4 trimestres. Analisando as variações em cadeia, esta estimativa final confirmou as nossas expectativas relativamente às subidas dos Gastos Públicos e das Importações e à queda do Investimento em Capital Fixo. Todavia, este Relatório também ficou marcado por várias surpresas: o Investimento em Stocks contribuiu positivamente para o crescimento, as Exportações, inesperadamente, caíram (contradizendo os dados mensais da Balança Comercial) e o Consumo Privado apenas cresceu marginalmente

2. Segundo a estimativa final do INE, o Produto Interno Bruto (PIB) português registou uma queda trimestral de 0.3%, no 4ºT2010, depois de ter subido 0.2%, no 3ºT2010 (valor revisto em baixa, em 0.1 p.p., aquando da 1ª estimativa). Trata-se, assim, da 1ª contracção do PIB em 4 trimestres. Em termos homólogos, o PIB cresceu 1.2% (+1.3%, no 3ºT2010). Este abrandamento do crescimento homólogo resulta, unicamente, do facto de o contributo das Exportações Líquidas ter abrandado (de +2.0 p.p. para +0.7 p.p.), já que o contributo da Procura Interna foi positivo (+0.5 p.p.), contrariamente ao sucedido no 3ºT2010 (-0.6 p.p.), assistindo-se a uma redução menos intensa do Investimento e a uma desaceleração do Consumo Privado. No conjunto do ano de 2010, o PIB aumentou 1.4% (-2.5%, no ano anterior), com a Procura Interna a contribuir com 0.9 p.p. para o crescimento, ao contrário do sucedido no ano anterior (-3.2 p.p.). As Exportações Líquidas mantiveram um contributo positivo para a variação do PIB (+0.5 p.p.), embora ligeiramente inferior ao observado no ano anterior (+0.7 p.p.), verificando-se crescimentos expressivos em ambos os fluxos de comércio internacional. As Exportações de Bens e Serviços aumentaram 8.7% (-11.6%, em 2009), enquanto as Importações de Bens e Serviços cresceram 5.3% (-10.6%, no ano anterior). A Necessidade Líquida de Financiamento da economia portuguesa situou-se em 8.4% do PIB em 2010, valor menos negativo que o verificado em 2009 (9.8%).

 

3. Analisando, em detalhe as variações em cadeia, esta estimativa final confirmou as nossas expectativas relativamente às subidas dos Gastos Públicos e das Importações e à queda do Investimento em Capital Fixo. Todavia, este Relatório também ficou marcado por várias surpresas: o Investimento em Stocks contribuiu positivamente para o crescimento, as Exportações, inesperadamente, caíram (contradizendo os dados mensais da Balança Comercial) e o Consumo Privado apenas cresceu marginalmente.

 

4. Com efeito, o Consumo Privado apenas subiu 0.1%, sendo, sobretudo, beneficiado pelo esperado aumento nas aquisições de Bens Duradouros por parte de alguns agentes (+10.6%), particularmente de Automóveis, a qual está parcialmente associada à antecipação de compras para o final de 2010 devido ao aumento da taxa normal de IVA e do Imposto Sobre Veículos a partir do início de 2011, mas, também, ao fim do incentivo fiscal ao abate de veículos em fim de vida para a aquisição de veículos novos não exclusivamente eléctricos. Todavia, o Consumo de Outros Bens e Serviços (excluindo Produtos alimentares) acabou por evidenciar um comportamento bem mais negativo do que o antecipado, caindo 1.3% (+0.7%, no 3ºT2010).

 

5. O Investimento continuou a cair, para mínimos desde o 3ºT1996, não obstante ter sido beneficiado pelo inesperado contributo da Variação de Existências (+0.3 p.p.), que se revelou insuficiente para anular o contributo negativo do Investimento em Capital Fixo (-0.8 p.p.). O Investimento em Capital Fixo desceu 4.2%, tendo este regresso ao vermelho correspondido a um comportamento que já tínhamos antecipado e resultado quer da componente de Construção (que, como esperado, caiu para um mínimo desde, pelo menos, 1995), quer da componente de Máquinas e Equipamentos, que desceu 5.1% (em cadeia), para o nível mais baixo desde o 3ºT2004, embora após ter subido 3.0%, no trimestre anterior, denotando-se uma especial volatilidade desta componente que, no 1ºT2010, tinha subido 8.8% e, no 2ºT2010, tinha caído 6.6%. Já ao nível do Material de Transporte, observou-se uma subida de 5.1% (-4.8%, no 3ºT2010), em linha com as indicações mensais que foram sendo divulgadas. A recuperação do Investimento afigura-se essencial para que a própria economia portuguesa possa regressar ao crescimento, sendo igualmente fundamental para a sustentabilidade do processo de recuperação, sendo de especial importância a recuperação da componente de Máquinas e Equipamentos, que acaba por ser indispensável para a própria alteração do crescimento potencial da economia. Todavia, importa relembrar que os níveis de Utilização de Capacidade Instalada permanecem relativamente baixos, pelo que não seria expectável uma recuperação paulatina do Investimento antes de a actividade iniciar, ela própria, uma recuperação relativamente robusta, o que, perante a esperada contracção da Procura Interna, este ano, e consequente revisão em baixa das expectativas dos empresários, torna as Exportações no principal suporte do Investimento. É, ademais, num contexto de fraca Utilização de Capacidade Instalada que se admite que o Investimento que está a ser efectuado vise, essencialmente, a reposição/actualização de equipamento para produzir novos produtos ou a introdução de novos processos, não tendo como causa uma forte da procura. Além disso, a deterioração das condições de financiamento da economia portuguesa constituirão um entrave adicional ao Investimento, na medida em que se têm vindo a reflectir no aperto das condições de concessão de crédito.

 

6. O Consumo Público observou um forte acréscimo em cadeia, de 4.6%, recuperando da queda de 4.5% do trimestre anterior. À semelhança do que sucedera no 2ºT2010 (+3.8%), esta forte subida, que colocou o Consumo Público praticamente em máximos históricos, resultou, sobretudo, da importação de equipamento militar (submarinos).

 

7. Finalmente, e em linha com as nossas expectativas, as Exportações Líquidas tiveram um contributo negativo para o crescimento (-0.9 p.p.), depois de, no 3ºT2010, terem tido um papel decisivo no crescimento da economia portuguesa (+1.5 p.p.). Em todo o caso, o contributo foi mais negativo do que o esperado, já que as Exportações, contrariamente ao sugerido pelos dados mensais da Balança Comercial, observaram uma descida de 1.1%, se bem que representando, essencialmente, uma correcção após a forte subida do trimestre anterior, que as tinha colocado no valor mais elevado desde o 3ºT2008. Esta diminuição deveu-se unicamente às Exportações de Bens (-2.1%), já que as Exportações de Serviços, como antecipado, subiram 1.6%, para o valor mais elevado desde o 1ºT2008, tendo, ademais, a queda anteriormente reportada para o 3ºT2010 sido revisto em alta, para um crescimento de 0.2%, confirmando, assim, o cenário de franca recuperação deste sector, particularmente, ao nível do Turismo. Já as Importações apenas subiram 1.3%, significativamente suportadas pelo aumento das importações de Automóveis e pela referida compra dos submarinos.

 

8. Na óptica da Produção, refira-se que o VAB (com Impostos) acabou por cair mais 0.1 p.p. do que o PIB, ou seja, 0.4%, apresentando um crescimento homólogo igualmente inferior ao observado pelo PIB (+0.8% vs +1.2%, no caso do PIB). O sector da Construção registou o comportamento trimestral mais desfavorável, pelo 2º trimestre consecutivo (-5.7% vs -0.9%, no 3ºT2010), caindo a actividade do sector para mínimos desde o início da actual série trimestral do PIB, em 1995, de resto, em linha, com o sucedido com o Investimento em Construção Residencial. Ao passo que, pela positiva, o maior destaque vai para as Actividades Financeiras e Imobiliárias, que cresceram 1.1% (+0.1%, no trimestre anterior), com a actividade a ascender a um nível máximo desde, pelo menos, 1995. Igualmente em máximos históricos encontra-se o sector do Comércio, Restaurantes e Hotéis, que, com um crescimento de 0.3%, foi o outro dos sectores a registar uma subida. Por sua vez, a Energia, Água e Saneamento caiu 0.7%, corrigindo de um máximo histórico. Ainda a contribuir negativamente para o crescimento em cadeia do VAB do país, no 4ºT2010, estiveram a Agricultura (a 8ª queda consecutiva, e para um mínimo desde o 1ºT2008), os Outros Serviços, os Transportes, Actividades de Informação e Comunicação e a Indústria, esta última, representando a 1ª queda após 3 acréscimos consecutivos, com a actividade a corrigir do nível mais elevado desde o 4ºT2008, revelando, ainda assim, um comportamento mais favorável do que o sugerido pelo Índice de Produção Industrial. A Construção e a Agricultura continuaram a ser os únicos sectores em contracção, em termos homólogos, com o da Construção a apresentar um agravamento, ao passo que, na Agricultura, se assistiu a um abrandamento do rito de queda.