Inflação no mínimo desde Setembro de 2010

12/12/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

A inflação homóloga baixou a barreira dos 2% pela primeira vez em dois anos. Filipe Garcia, da IMF, destaca a queda de preços entre Outubrto e Novembro e o contributo decisivo para esta evolução mensal que  tiveram os combustíveis para transportes de pessoal. Miguel Moreira, do Montepio, considera que este é mais um sinal da tendência de descida da inflação que se prolongará por 2013.

   

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor. 

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

1. A inflação, medida pela variação homóloga do IPC, diminuiu em Novembro de 2.1% para 1.9%, um mínimo desde Setembro de 2010, representando o 3º abrandamento consecutivo e voltando a confirmar a retoma da tendência descendente evidenciada desde Novembro de 2011, depois de em Julho e Agosto ter acelerado. Para esta desaceleração homóloga do IPC contribuiu essencialmente o comportamento da classe dos transportes, que viu o contributo positivo diminuir em 0.23 p.p., reflectindo uma desaceleração homóloga dos preços de 3.3% para 1.6%.

 

2. Este comportamento homólogo do IPC esteve associado a um decréscimo mensal de 0.3%, revertendo a subida do mês anterior e representando uma variação 0.2 p.p. inferior à verificada no mês homólogo do ano anterior.

 

3. De referir que IHPC português, que também desacelerou 0.2 p.p., para 1.9%, manteve-se a evidenciar um crescimento homólogo abaixo do estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (que terá diminuído de +2.5% para +2.2%), o que acontece pela 2ª vez consecutiva desde Junho de 2010, com essa diferença a situar-se em -0.3 p.p. (-0.4 p.p. no mês anterior).

4. Em termos prospectivos, continuamos a considerar que as actuais pressões inflacionistas assumem um carácter largamente temporário, mas que deverão permanecer elevadas no corrente ano. Com efeito, a inflação no país (medida pela variação homóloga do IHPC) deverá abrandar dos 3.6% observados no ano passado para 2.8% em 2012, continuando ainda acima da média da Zona Euro, reflectindo, essencialmente, o impacto de alterações da tributação indirecta e de preços condicionados por procedimentos de natureza administrativa em 2011 e 2012, no contexto das medidas de consolidação orçamental incluídas no programa de ajustamento económico e financeiro (PAEF) acordado com a troika.

 

5. Entre as medidas orçamentais adoptadas com elevado impacto no comportamento da inflação em 2012 constam a reclassificação das taxas de IVA aplicadas a alguns bens e serviços no início do ano, bem como o aumento de preços fixados administrativamente e de alguns impostos específicos sobre o consumo. A dissipação desses efeitos ao longo do próximo ano, em conjugação com uma descida do preço do petróleo, um crescimento relativamente moderado dos preços de importação de bens não energéticos, a manutenção de uma forte moderação salarial – reflectindo a intensa recessão económica que o país atravessa (apontamos para uma queda anual de 3.0% do PIB em 2012 e de 2.0% em 2013), bem como as novas medidas de austeridade já anunciadas –, e a continuação da deterioração do mercado laboral, deverão traduzir-se num regresso da inflação para níveis mais modestos em 2013, em torno de 1%.

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. A inflação em Novembro, face aos preços do mês anterior, registou um valor negativo devido quase exclusivamente à variação do preço dos combustíveis para transporte de pessoal. Dado a situação económica recessiva, a evolução dos preços e os riscos em alta de inflação serão cada vez mais condicionados pelos preços internacionais.

 
2. A inflação homóloga continua a cair, como era esperado. A queda não é tão forte como a registada em Outubro passado, mas este movimento mais abrupto dos últimos dois meses explica-se pelo facto de em Outubro de 2011 a inflação ter sido de mais de 1% no mês, reflexo de uma subida pronunciada nos preços da electricidade (0.6 pontos percentuais). Como este ano isso não se verificou, a inflação homóloga já não sofre a influência desse factor extraordinário. 
 

3. Esperamos que em 2013 os preços apresentem uma evolução ainda mais moderada, mas é discutível que possam vir a concretizar-se as previsões do FMI, OCDE e BdP, que apontam para valores entre +0.7% e 1%. A trajectória de queda da inflação continuará a ser sobretudo condicionada pelos preços relacionados com a energia, combustíveis, transportes e alimentação, que constituem o risco em alta.

Rui Peres Jorge