A inflação ultrapassou os 4% em Portugal revelou hoje o INE. Bárbara Marques, do Millennium BCP, diz que os valor chegou sem surpresa e que é expectável uma descida da taxa de inflação na segunda metade do ano. Ainda assim, a inflação média de 2011 deverá ficar acima dos 3%. José Miguel Moreira do Montepio também espera uma desaceleração, apontando para os 3,6% previstos pelo Banco de Portugal, mas avisa: “os riscos para a Inflação, em 2011 e 2012, permanecem ascendentes e condicionados pela instabilidade política e económica nos países produtores de Petróleo”.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. O Índice de Preços no Consumidor (IPC) registou um crescimento homólogo de 4.1%, em ligeira aceleração face ao registo do mês anterior (+4.0%), depois de já ter acelerado fortemente em Março (+0.5 p.p.) e de, em Janeiro, se ter observado uma aceleração ainda mais intensa (+1.1 p.p.), na altura, recorde-se, reflectindo o considerável agravamento da taxa normal do IVA observado no início deste ano (de 21% para 23%). Com esta aceleração – a 3ª dos últimos 4 meses, já que desacelerou ligeiramente em Fevereiro (-0.1 p.p.) –, o IPC passou a evidenciar o crescimento homólogo mais elevado desde Fevereiro de 2003.
2. Em termos mensais, o IPC registou um acréscimo de 0.4%, depois de ter crescido 1.6%, em Março, com o maior contributo a ser dado pela classe dos Transportes, com uma variação mensal de 1.5%, reflectindo, essencialmente, os preços dos Combustíveis e Lubrificantes para Equipamento para Transporte Pessoal e dos Transportes Aéreos de Passageiros. À semelhança da Inflação Mensal, também a Inflação Homóloga continuou a ser impulsionada, sobretudo, pela classe dos Transportes, que manteve a maior contribuição para a variação homóloga do IPC (reflectindo a própria evolução dos preços da Energia nos mercados internacionais), seguida da de Habitação, Água, Electricidade, Gás e Outros Combustíveis e dos Produtos Alimentares e Bebidas Não Alcoólicas. A única contribuição negativa para a taxa de variação homóloga do IPC foi, uma vez mais, dada pela classe do Vestuário e Calçado.
3. Já a taxa de variação homóloga do IPC Core (que exclui a Energia e os Bens Alimentares Não Transformados) foi de 2.6%, bastante inferior à do IPC geral, mas representando uma aceleração ligeiramente superior à observada por este último (+0.2 p.p. vs +0.1 p.p.). O diferencial entre a taxa de variação homóloga deste indicador e a do IPC continuou, assim, a assumir um valor negativo, pela 17ª vez (consecutiva) desde Outubro de 2008, evidenciando que as pressões inflacionistas advêm, essencialmente, dos preços das Commodities. Todavia, e como revelam, igualmente, estes dados, a Inflação Core também não está imune às alterações fiscais observadas no início do ano, as quais, admite-se, ainda poderão fazer-se sentir no decorrer dos próximos meses, atendendo a que parte dos empresários ainda não reflectiu o agravamento da carga fiscal nos preços junto do Consumidor, podendo fazê-lo de uma forma progressiva (se não de forma total, pelo menos parcial).
4. O Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) registou um acréscimo mensal de 0.6%, ligeiramente superior ao do IPC, mas tendo a sua variação homóloga acelerado o mesmo que a de este último, embora mantendo-se inferior (+0.1 p.p., para 4.0%). O IPCH português apresenta um crescimento homólogo acima do estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (+2.8%), o que acontece apenas pela 10ª vez (consecutiva) desde Agosto de 2007, tendo-se assistido a uma manutenção dessa diferença, em 1.2 p.p..
5. Em termos prospectivos, excluindo o impacto do aumento da tributação indirecta (que, como referido, ainda poderá fazer-se sentir nos próximos meses), esperamos que os Preços no Consumidor evoluam em linha com os custos salariais e os preços de importação, não se antevendo alterações substanciais das margens de lucro, após as compressões registadas no passado recente. Recorde-se que, nas últimas previsões económicas do Banco de Portugal (BdP), publicadas há cerca de mês e meio, a Autoridade reviu em forte alta a Taxa de Inflação para 2011, de 2.7% para 3.6% – reflectindo as medidas de consolidação orçamental e a evolução dos preços das matérias-primas –, prevendo, no entanto, uma considerável desaceleração no próximo ano, para 2.0%, um cenário que consideramos razoável. Note-se, no entanto, que os riscos para a Inflação, em 2011 e 2012, permanecem ascendentes e condicionados pela instabilidade política e económica nos países produtores de Petróleo, que poderá levar a uma maior subida dos preços dessa matéria-prima.
Bárbara Marques – Departamento de Estudos do Millennium BCP
1. O aumento mensal da inflação em Abril não constituiu uma surpresa, nem no valor agregado (+0.4% no mês) nem nas classes de produtos e serviços que apresentaram as maiores variações, vestuário e transportes, associados, num caso, a efeitos sazonais e, no outro, à evolução de preços externos. Este último tem tido alguma regularidade, aferido na diferença significativa que actualmente se verifica entre a inflação homóloga do cabaz geral (4.1%) e o valor da inflação subjacente (2.6%).
2. No pressuposto de alguma estabilização no preço das matérias primas no resto do ano (e nos câmbios), e que novas medidas do foro fiscal só deverão ter lugar de forma mais pronunciada em 2012, a taxa de inflação homóloga poderá iniciar brevemente uma trajectória descendente, sobretudo a partir de Junho, quando os efeitos do aumento do IVA do ano passado passam a estar totalmente incorporados. Não obstante, em termos médios, a conjugação dos efeitos de alteração da tributação sobre o consumo com o preço dos combustíveis, deverão colocar a inflação média em 2011 num valor superior a 3.0%.
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