É uma das ideias chave da entrevista de Subir Lall, o chefe de missão do FMI, publicada no Negócios – a primeira desde que a relação entre Portugal e o Fundo passou para um contexto de monitorização pós-programa. Entre as prioridades para Portugal escolhidas por Lall está a (mais) rápida reestruturação de dívida empresarial. Dela dependerá a capacidade do País regressar a uma trajectória de crescimento e a um modelo de crédito viável. Sem ela mesmo empresas viáveis cairão, avisa, esperando ver mais pressão dos reguladores.
Enfrentamos o risco de lidar com um sistema bancário zombie?
Se entrarmos num longo ciclo sem resolver estes problemas, mesmo as empresas viáveis poderão fechar. Os bancos não têm incentivos para reestruturar pois pode envolver perdas no curto prazo. Mas se criarem almofadas de capital acima dos mínimos regulatórios – e podem ser encorajados a fazê-lo – terão mais espaço para limpar as suas relações com os seus clientes demasiado endividados. Uma taxa de crescimento mais alta na economia ajudaria toda a gente.
Noutros países existiram mecanismo e negociação forçada. Poderá ser necessário cá?
Depende de quanto tempo se está a falar. Não devemos esperar demasiado tempo para o mercado encontrar uma solução. Creio que precisamos de um empurrão, de um incentivo. Não recomendo medidas coercivas, mas é no interesse de longo prazo dos bancos fazê-lo. Muitas vezes os accionistas não olham para os interesses de longo prazo.
Portugal deveria aumentar rácios de capital acima do mínimo?
Criar almofadas de capital acima dos mínimos regulatórios daria o espaço para criar um modelo de crédito viável no longo prazo.
A avaliação do chefe de missão do FMI, num tema em que vem insistindo (ver por exemplo página 29 do relatório da 11ª avaliação), diz que a estratégia do Governo, banco central e troika dos últimos anos não deu os resultados necessários, mas dá um passo em frente e provoca o Banco de Portugal e o BCE, sugerindo que deveriam incentivar os bancos a criarem almofadas de capital maiores e a resolverem um problema que desde há muito está identificado como um dos legados mais graves da grandes crises financeiras.
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