Fazer as contas

24/01/2011
Colocado por: massamonetaria

Nota do editor: Miguel Morgado, de “O Cachimbo de Magritte”, aceitou o convite do massa monetária e,  até ao final de Fevereiro, publicará os seus posts também nesta casa.

 

A retórica socialista já está a tratar de diminuir a vitória de Cavaco Silva. A abstenção, o truísmo de 53% não serem 58%, nem 62%, nem 80%, o frio, a chuva e o resto. Tudo servirá para dizer que a autoridade – não a legitimidade, é certo – do PR já teve melhores dias e que isso deverá reflectir-se no uso pleno das suas competências e prerrogativas constitucionais. É compreensível. A máquina socialista cuida da sua própria sobrevivência, cada vez menos provável à medida que os dias passam.

 

Mas propaganda à parte, convém notar o óbvio. Quando duas instituições adversariais, como é o presente caso do Governo face à Presidência, medem autoridades respectivas, então já estamos a lidar com matéria relacional. Quero dizer: no braço de ferro com Sócrates, a autoridade de Cavaco Silva, com 53% ou com 60%, mede-se em comparação com a do Primeiro-Ministro. Será tanto maior quanto mais precária for a outra.

  

E o que temos diante de nós? De um lado, um Chefe de Estado com a sua legitimidade inequivocamente refrescada. Do outro, um PM que todos os dias vê sumir-se a sua já muito precária autoridade. No fundo, como dizia o outro, é fazer as contas.

 

Miguel Morgado, O Cachimbo de Magritte