Nota do editor: Miguel Morgado, de “O Cachimbo de Magritte”, aceitou o convite do massa monetária e, até ao final de Fevereiro, publicará os seus posts também nesta casa.
A retórica socialista já está a tratar de diminuir a vitória de Cavaco Silva. A abstenção, o truísmo de 53% não serem 58%, nem 62%, nem 80%, o frio, a chuva e o resto. Tudo servirá para dizer que a autoridade – não a legitimidade, é certo – do PR já teve melhores dias e que isso deverá reflectir-se no uso pleno das suas competências e prerrogativas constitucionais. É compreensível. A máquina socialista cuida da sua própria sobrevivência, cada vez menos provável à medida que os dias passam.
Mas propaganda à parte, convém notar o óbvio. Quando duas instituições adversariais, como é o presente caso do Governo face à Presidência, medem autoridades respectivas, então já estamos a lidar com matéria relacional. Quero dizer: no braço de ferro com Sócrates, a autoridade de Cavaco Silva, com 53% ou com 60%, mede-se em comparação com a do Primeiro-Ministro. Será tanto maior quanto mais precária for a outra.
E o que temos diante de nós? De um lado, um Chefe de Estado com a sua legitimidade inequivocamente refrescada. Do outro, um PM que todos os dias vê sumir-se a sua já muito precária autoridade. No fundo, como dizia o outro, é fazer as contas.
Miguel Morgado, O Cachimbo de Magritte
- A quarta premissa de Nouriel Roubini - 16/07/2012
- Rendas na energia: um copo pelo meio - 28/05/2012
- Vai ser mais fácil abrir sex-shops - 17/05/2012