Exportações e consumo público adiam o pior

16/08/2011
Colocado por: massamonetaria

A economia portuguesa estagnou no segundo trimestre face ao primeiro, um resultado que surpreendeu pela positiva. Rui Serra e João Fernandes, do Montepio, explicam o que evitou o pior para a economia portuguesa. A segunda metade do ano, avisam, será penalizada por desempenhos negativos do consumo público e das exportações. Para o segundo semestre, Gonçalo Pascoal, do Millennium BCP, destaca os esperados efeitos negativos do abrandamento do comércio internacional, mantendo a sua previsão de recessão entre 1,7% e 2% para este ano. Rui Constantino, do Santander, e Lara Wemans, do BPI, também mantém as previsões de recessão para este ano em torno dos 2%.    

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

 

Gonçalo Pascoal – Departamento de Estudos do Millennium BCP 

 

1. Ao contrário do que aconteceu no primeiro trimestre, os dados do PIB no segundo trimestre revelaram-se ligeiramente menos desfavoráveis em termos da variação em cadeia, mas denotando na mesma um agravamento em termos homólogos, e apresentando-se consistentes com a previsão de uma contracção da actividade económica em termos médios anuais entre 1,7% e 2%. Os contributos para a variação do PIB não se alteraram sobremaneira, com a forte correcção da procura interna a ser compensada pelo desempenho favorável da procura externa.

 

2. O arrefecimento da actividade económica mundial em particular do comércio mundial, a implementação de medidas de contenção orçamental e agravamento da carga fiscal adicionais num contexto de fragilidade do mercado de trabalho deverão contribuir para um agravamento adicional do desempenho do PIB ao longo do segundo semestre.

 

 

Rui Bernardes Serra e João José Fernandes – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. Economia portuguesa registou uma inesperada estagnação, no 2ºT2011, após duas quedas consecutivas, devendo ter sido sobretudo suportada pelas Exportações Líquidas, já que do lado da Procura Interna o Consumo Privado e o Investimento em Capital Fixo terão caído. Os Gastos Públicos poderão ter contribuído para o crescimento, atendendo ao funcionamento dos estabilizadores automáticos e às “derrapagens” que têm vindo a ser referidas pelo Governo.

 

2. A estimativa rápida divulgada já hoje pelo INE veio apontar para uma estagnação do PIB, após duas quedas consecutivas (ambas de -0.6%), surpreendendo não só as nossas expectativas com as das demais entidades consultadas pela Bloomberg (que variavam entre -1.4% e os nossos -0.7%).

 

3. Em termos homólogos o PIB caiu 0.9%, após ter descido 0.6%, no 1ºT2011, queda que, segundo o INE, esteve associada a uma acentuada diminuição do Investimento e do Consumo Privado, sobretudo de Bens Duradouros. As Importações de Bens e Serviços também diminuíram, contrariamente às Exportações, que mantiveram um elevado crescimento homólogo.
  

4. A estagnação em cadeia, no 2ºT2011, revela uma performance bem melhor do que a contracção de 1.4%, projectada pela Troika, podendo levar a que a economia surpreenda pela positiva, não contraindo em 2011 tanto quanto o previsto por estas entidades (-2.2%). No entanto, face à incerteza em torno de novas medidas de austeridade, não se poderá excluir ainda uma contracção anual dessa magnitude. Na verdade, e tendo em consideração que o Consumo Privado e o Investimento em Capital Fixo terão registado contracções em cadeia, as surpresas positivas terão advindo das Exportações Líquidas e dos Gastos Públicos, com as primeiras a poderem ser menos impulsionadas na 2ª metade do ano e os segundos a serem obrigados a corrigirem das “derrapagens” que têm vindo a ser identificadas pelo Governo.

 

 

Lara Wemans – Departamento de Estudos do BPI (a partir de conversa telefónica)

 

1. Dentro do que são os últimos desenvolvimentos, o trimestre acabou por ser uma surpresa positiva. Ainda assim, mantemos a nossa previsão de -2,1% este ano.

 

2. Para uma análise mais detalhada precisamos de conhecer as componentes do PIB, mas tudo aponta para uma forte contracção do investimento e do consumo privado que terá sido parcialmente compensada pelo comportamento positivo das exportações

 

3. Destacamos o facto das exportações terem dado sinais positivos no primeiro semestre e de existirem sinais de diversificação para países fora da Europa, sendo que a União Europeia, ainda assim, continua a ser o principal destino

 

4. Não esperamos uma forte desaceleração dos principais parceiros no segundo semestre, e logo das exportações. Já a procura interna, isto é consumo e investimento, deverão registar uma desaceleração significativa, resultado de queda na confiança dos agentes económicos e de recuos nos gastos e no investimento públicos, o que decorre da implementação do programa de ajustamento. Este impacto sentir-se-á também no sector privado.

 

Rui Constantino – Departamento de Estudos do Santander (a partir de conversa telefónica)

 

1. Os dados acabaram por sair melhor que o esperado. As nossa expectativa apontava uma contracção do investimento menos pronunciada que no trimestre anterior, e para quedas no consumo público e privado, com as exportações a compensarem em parte esse desempenho. Os resultados melhor que o esperado ao nível do PIB deverão ser explicados exactamente por exportações mais fortes e por uma queda de consumo público inferior à esperada Mas precisamos de informação mais dados para confirmar estes contributos.

 

2. Por enquanto, mantemos a nossa previsão de contracção de -1,9% na média do ano – Pelo menos até termos informação sobre as várias componentes do PIB, o que só acontecerá no início de Setembro.

 

3. Não esperamos um impacto muito negativo da componente externa e vemos o abrandamento alemão à luz de um primeiro trimestre bastante forte, o que influencia a comparações entre trimestres. Mas, também aqui, precisamos de conhecer os contributos das componentes desse abrandamento. Se resultar de menos consumo privado, então não me parece o factor preocupante, pois esse não é o mercado de exportação de Portugal.

 

4. Se a procura externa vier de facto a abrandar, penalizada pelo agravar da crise europeia, então há mais um factor de risco para Portugal, sem dúvida. Mas, por enquanto, não pensamos que a Europa e os EUA caminhem para uma segunda recessão. Aliás, na economia mundial, o mais importante e preocupante, será ver se as economias emergentes perdem fôlego e abrandam significativamente.