Mario Draghi numa conferência mensal do BCE Fonte: Hannelore Foerster/Bloomberg
The ECB is ready to do whatever it takes to preserve the euro. And believe me, it will be enough
Mario Draghi, 26 de Julho
Como bem sintetizou Charles Wyplosz recentemente, o desempenho de Mario Draghi à frente do BCE tem sido impressionante. Desde que chegou a Frankfurt, em Novembro, o Presidente do banco central contornou as dificuldades de liquidez de final de ano com empréstimos de três anos nunca antes feitos pelo banco central, conseguiu que os líderes europeus avançassem com o pacto orçamental e com os primeiros passos de uma união bancária (na qual deverá desempenhar um papel central de supervisão) e, nas últimas semanas, abriu caminho à compra em larga escala de obrigações do Tesouro de países do euro, algo impensável há poucos meses.
A dimensão e amplitude das medidas é criticada pelos que têm uma visão mais conservadora do papel do BCE – enervando naturalmente o presidente do Bundesbank. Mas há uma outra dimensão da actuação de Draghi que tem começado a ser notada: a avaliação da sua (in)capacidade de comunicar e de garantir que o BCE passa a mensagem com clareza. O último episódio está ligado à garantia que deu no final de Julho, num discurso em Londres, de que o BCE tudo fará para salvar o euro.
Palavras tão fortes do presidente do banco central levaram muitos investidores e analistas a pensar que, dias depois, na conferência de imprensa mensal do BCE, Draghi viesse a apresentar um plano de intervenção ambicioso que garantisse a estabilização dos mercados de dívida pública a breve prazo. Draghi desiludiu os mais ambiciosos e disse “apenas” que o BCE está a estudar a opção de intervenção no mercado de dívida de mais curto prazo, a qual será complementar e condicional ao recurso pelos países visados à condicionalidade dos fundos de emergência.
Ken Wattret, do BPN Paribas, escrevendo horas depois de Draghi falar, conseguiu extrair apenas quatro pontos relevantes sobre as condições para uma intervenção do BCE estabelecidas por Draghi:
1. The need for strict conditionality;
2. The importance of governments taking the initiative;
3. The recognition of the seniority problem; and
4. The possibility of acting in a size “adequate to reach the objective”.
E seguiu depois para uma critica aberta à forma como Draghi criou expectativa nos mercados durante meia dúzia de dias sobre uma intervenção musculada, para depois na conferência de imprensa deixar muita frustração e incerteza, transformando numa desilusão o que, ainda assim, foi um dos passos mais importantes tomados pelo BCE até agora:
Given the lack of detail and the inability of the ECB to act until political developments have moved on, it would have been far better for Mr Draghi to have said little of note on 26 July and deliver his “big splash” at the press conference a week later. Expectations of the timeframe for delivery would then have been a month rather than just a week.
It is not the first time Mr Draghi has run into problems communication-wise. We recall on the 1 December last year his comment that “other elements might follow” the commitment to a fiscal compact. This was explained away as a misunderstanding. That does not wash this time and the damage to his credibility, and question marks over his leadership, are likely to be more persistent.
Draghi menos rígido que Trichet na comunicação
Um estilo de comunicação menos rígido pelo BCE e os seus membros foi notado pela Reuters numa peça que escreveu em final de Julho, na qual dá conta de uma alívio da disciplina interna de comunicação em comparação com os tempos de Trichet:
The ECB used to be known for an iron grip on its communications policy. Board members and national central bankers were assigned key messages to deliver, and massaging market expectations was one of the great skills of Draghi's predecessor, Frenchman Jean-Claude Trichet.
That discipline began to fray in the 2008 financial crisis, when then Bundesbank chief Axel Weber opposed any interest rate cut below 1 percent. It weakened further in May 2010 when Weber openly dissented from the ECB's decision to start buying Greek bonds, arguing that it could be inflationary in the long term. Weber and former ECB chief economist Juergen Stark both resigned in opposition to the bond-buying program, fuelling German public suspicion of the ECB, which was seen as having strayed from its German orthodox monetary roots.
Apesar de muitos dizerem que Draghi promove activamente o debate interno, continua a Reuters, a multiplicidade de vozes pode estar a criar problemas e a dificultar a interpretação dos planos do banco central:
Insiders say Draghi, who encourages debate, intentionally runs a less rigidly controlled ship than Trichet did. However, several fellow central bankers were furious when Austria's Ewald Nowotny last week floated the idea of giving the euro zone's future permanent rescue fund a banking license, so it could tank up on cheap ECB liquidity. A legal opinion previously sought by the ECB had concluded that such a move would breach the treaty ban on monetary financing of governments, insiders said. Nowotny's friends said he wanted to stir up debate and hinted Draghi was privately sympathetic to his view. Critics say he just muddied the waters and enraged the Bundesbank.
Os críticos podem no entanto estar a ser demasiado duros com o Presidente do BCE. Marco Annunziata, economista-chefe da General Electric diz que Draghi foi muito eficaz conseguindo por exemplo reduzir os “spreads” italianos e espanhóis ainda antes da reunião mensal do BCE. Wyplosz, já citado acima, não esconde admiração pelo italiano e defende que o “modus operandi” de Draghi é eficiente e claro:
The Draghi method is becoming clear:
– Offer the services of the ECB’s unbounded purse, but
– Require what it takes to alleviate the moral hazard that it entails.
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