Descodificando o BCE: Qual a diferença entre (T)LTRO e QE

04/12/2014
Colocado por: Rui Peres Jorge
Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE, a 4 de Dezembro. Crédito: Martin Leissl, Bloomberg

Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE, a 4 de Dezembro. Crédito: Martin Leissl, Bloomberg

 

Muito se tem falado nas últimas semanas sobre mais estímulos monetários por parte do BCE. Isso justifica-se pelo abrandamento económico na região e pela manutenção de taxas de inflação historicamente baixas (e a cair), que ameaçam o mandato do banco central, de garantir uma taxa de inflação próxima, mas inferior a 2%.

 

Se passar por artigos sobre os actuais debates de política monetária, facilmente concluirá que entre os principais e mais comentados instrumentos usados pelo BCE para injectar liquidez na zona monetária estão os LTRO, TLTRO e QE. Afinal o que significam e no que diferem?

 

LTRO

 

Estas são as iniciais de “Long Term Refinancing Operations”, o que em português significa “Operações de Refinanciamento de Prazo Alargado”. Tratam-se simplesmente de empréstimos de médio e longo prazo (um mês, três meses, três anos, quatro anos) concedidos pelo BCE aos bancos (exigindo em troca activos como colateral).

 

Em Setembro o BCE estreou-se nos empréstimos a 4 anos, com uma característica particular: só são concedidos contra garantias de concessão de crédito à economia. Estes são os TLRO, nos quais o (T) significa “Targeted”, ou seja, dirigidos à concessão de crédito.

 

Ao todo, no final de Novembro, o BCE tem emprestado aos bancos 398,8 mil milhões de euros em LTRO. Destes 82,6 mil milhões foram emprestados na primeiro operação de TLTRO efectuada em Setembro – um montante considerado pequeno e que reflecte na opinião de várias analistas o pouco apetite por liquidez do sistema financeiro. A segunda realiza-se no dia 11 de Dezembro, seguir-se-ão mais seis até meados de 2016.

 

Os LTRO complementam as operações regulares de cedência de liquidez do BCE, através de empréstimos a uma semana, conhecidas por Operações principais de refinanciamento, ao abrigo das quais o BCE tinha emprestado aos bancos 114,3 mil milhões de euros, a 28 de Novembro.

 

QE

 

São as iniciais de “Quantitative Easing”, ou operações de alívio quantitativo, e que são habitualmente associadas à compra de dívida pública – em parte porque implicam a injecção de liquidez de tal magnitude, que necessitam de um mercado suficientemente grande para poderem ser operacionalizadas. O QE é também visto como uma forma do banco central baixar as taxas de juro do soberano. No entanto, o “QE” não se esgota na compra de dívida pública e pode incluir outros activos, como frisou várias vezes Mario Draghi.

 

Nesse sentido, é possível incluir num programa de alívio quantitativo deste tipo as compras que o BCE já está a fazer de obrigações titularizadas de créditos à habituação e ao sector público (“Covered Bonds”) e de obrigações titularizadas de créditos a empresas (“Asset Backed Securities”).

 

O BCE tem como meta uma expansão do seu balanço em 1 bilião de euros para 3 biliões em dois anos. Até dia 28 de Novembro tinha adquirido agora comprou 17,8 mil milhões de “Covered Bonds” e 400 milhões de ABS.

 

Do ponto de vista económico, qual é a diferença entre LTRO e QE?

 

Silvia Merler e Christian Schulz responderam ao Negócios para ajudar a clarificar afinal, que diferença faz injectar liquidez na economia via LTRO ou QE.

 

Eis, Christian Schulz, do Berenberg Bank:

 

The answer depends on what the aim is. If the aim is simply to satisfy a demand for liquidity, for instance due to a confidence crisis, LTROs are the better way, because they supply the necessary liquidity to banks but can also be repaid quickly without causing any disruptions. If the aim is quantitative easing, asset purchases are more effective, because they give the central bank control over the size and speed of the easing. In the current circumstances, where there is no market panic like in 2011/12, LTROs are likely to be ineffective due to a lack of demand, which is why the ECB has to resort to purchases.

 

E Silvia Merler, do Bruegel:

 

There is indeed a difference between TLTRO and proper asset purchase. While in the TLTRO the balance sheet increases because of liquidity injected as a counterpart to assets pledged as collateral at the ECB, with asset purchases the balance sheet increases because of liquidity injected as a counterpart to the ECB actually buying the assets off the balance sheet of the bank. For the ECB this is possibly more risky in case of default on the asset it has bought (when you pledge an asset as collateral, instead, the central bank would only make a loss if (i) the liquidity borrowed against that collateral is not returned; (ii) the value of the collateral is lost).

 

Rui Peres Jorge