No final de Agosto denunciámos no Negócios a utilização pelo FMI de um conjunto de dados, fornecidos pelo Governo, que deturpava as dinâmica das actualizações salariais em Portugal em 2012. Os números evidenciavam uma elevada prevalência de salários estagnados como sinal da rigidez salarial no País, mas escondiam quase um quarto da amostra de contratos – o quarto que permitia concluir que 27% experimentaram cortes salariais em 2012. Aqui ficam os dados completos, agora com uma actualização para 2013.
Aos 27% de contratos com cortes salariais em 2012, juntam-se mais cerca de 13% de cortes em 2013. O peso dos salários estagnados aumentou de cerca de 45% em 2012 para perto de 60% em 2013.
Algumas notas imoprtantes sobre a interpretação dos dados:
a) Na amostra são considerados apenas trabalhadores que tenham permanecido na mesma empresa entre os dois anos. Isto é, não estão incluídos os ajustamentos salariais de quem mudou de emprego o que, durante uma crise, pode ser um factor adicional de ajustamento em baixa;
b) Por outro lado, foram considerados os contratos individuais de trabalho da Função Pública, que sofreram cortes significativos em 2012, mas crescimentos em 2013 com a devolução de um salário;
c) Para o elevado número de salários estagnados contribuem vários factores, entre eles o congelamento do salário mínimo nacional desde 2011, e também o facto de ser provável que os salários cortados num ano se mantenham congelados (ou aumentem) nos anos seguintes;
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