Arquivo da categoria: Pontos críticos

Análises diárias aos temas que marcam a actualidade

O que faz um estatístico num dos maiores sites porn do mundo?

19/03/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

A 20 de Junho de 2013, o Pornhub colocou online não um vídeo, mas um gráfico de linhas. As Finais da NBA entre os Miami Heat e os San Antonio Spurs tinham acabado de terminar e o gráfico mostrava como os acessos ao auto-intitulado maior site pornográfico do mundo* caíram à medida que o interesse pelo basquetebol crescia. Mostrava ainda outra coisa: que o tráfego no site afundou muito mais nas regiões em torno de Miami e San Antonio do que na média dos Estados Unidos.

 

Este era o gráfico:

 

Evolução do tráfego do Pornhub durante as Finais da NBA de 2013.

Evolução do tráfego do Pornhub durante as Finais da NBA de 2013.

 

Foi o primeiro post de sempre do Pornhub Insights. Um blogue criado para aproveitar a gigantesca base de dados da empresa, de forma a tirar conclusões sobre quem acede ao site e como o faz. A fórmula resultou e os responsáveis do site resolveram apostar definitivamente neste tipo de conteúdo para chamar a atenção do público.

 

Ler mais

Riscos e lucros do BCE com compra de dívida vão afinal ter tratamento igual

18/02/2015
Colocado por: Rui Peres Jorge

praet

 

BCE corrige: Ao contrário do inicialmente comunicado pelos serviços do banco central, a maior parte dos lucros com as compras de dívida pública ao abrigo do programa de Expansão Quantitativa vão, afinal, ser nacionalizados, alinhando-os com o tratamento dado aos riscos que também ficarão na sua maior parte com os bancos centrais nacionais. As consequências são positivas para as contas públicas nacionais, como mostramos neste post.

 

O Negócios foi um dos jornais na Europa que, com base em informação prestada pelo BCE, escreveu que o BCE nacionalizaria os riscos das compras feitas ao abrigo do novo programa de alívio quantitativo, mas partilharia os lucros. Em entrevista ao Negócios Peter Praet, um dos membros do Conselho Executivo do BCE diz que, afinal, já não vai ser assim:

Decidiram que cerca de 90% do risco das obrigações adquiridas será nacional, e que 10% ficará no Eurosistema. No entanto, os lucros deverão ser partilhados …

Considerando todas as compras adicionais, obrigações de dívida soberana e de instituições europeias, cerca de 20% do risco será partilhado e 80% será suportado pelo Banco Central Nacional. Os documentos legais ainda não foram publicados. Várias opções foram consideradas, mas para a parte do portfólio que não é partilhada, a intenção do Conselho é ter essencialmente a mesma abordagem para lucros e prejuízos.

O melhor talvez seja esperar por todas as decisões em Frankfurt até o programa chegar ao terreno, mas é já certo que esta opção favorece os cofres nacionais. Vejamos.

 

Vamos assumir que o Eurosistema compra 11,1 mil milhões de euros de dívida pública e que 90% dos lucros (e dos riscos) ficam com o banco central nacional, que os passa ao Governo em forma de dividendos. Isto significa que:

– O Estado paga ao Eurosistema, por ano, cerca de 388,5 milhões de euros em juros (assumindo uma taxa de juro de 3,5% aplicada sobre os 11,1 mil milhões de euros).

– Mas recebe de volta cerca de 350 milhões de euros (3,5% aplicados a 90% dos 11,1 mil milhões de euros).

Esta situação é positiva para Portugal face à solução inicial em que os lucros são mutualizados, essencialmente porque a taxa de juro nacional é superior à média da Zona Euro – Como mostrámos antes, caso os lucros fossem mutualizados, o BCE juntaria os lucros conseguidos com todas as compras de obrigações na Zona euro que depois devolveria com base na chave de capital. Tal o que implicaria uma remuneração à taxa de juro média, que vamos admitir é metade da nacional. Ou seja, nesse cenário Portugal pagaria na mesma os cerca de 388,5 milhões de euros ao BCE, mas receberia de volta apenas 175 milhões de euros (1,75% aplicados a 90% dos 11,1 mil milhões de euros).

 

 

 

BCE AFINAL NÃO nacionaliza risco, mas mutualiza lucros: custos e porquês.

29/01/2015
Colocado por: Rui Peres Jorge

dRAGHI

 

(Post alterado no título (com o” AFINAL NÃO”) e com parágrafo inicial que dá conta de uma alteração na informação prestada ao Negócios e inclui uma ligação para o post onde explicamos as consequências. O resto do post mantém-se igual)

 

Uma confusão no BCE: ao contrário do inicialmente comunicado pelos serviços do banco central, os lucros do QE vão, afinal, ser nacionalizados, alinhando-os com o tratamento dado aos riscos. As consequências são positivas para as contas públicas nacionais. Apresentamos as consequências aqui.

 

O programa de alívio quantitativo (QE, Quantitative Easing) anunciado a semana passada pelo BCE está a dar que falar. Um dos temas mais debatidos em Portugal é o das implicações orçamentais da compra de dívida pública pelo banco central, visto que pode poupar  milhões de euros aos cofres públicos.

 

Há ainda muita incerteza sobre o tema – na verdade o BCE deu ainda poucos pormenores técnicos, mas há já uma característica do programa que merece nota, por ser surpreendente e por afectar de forma relevante quaisquer cálculos, e que o Negócios avançou na segunda-feira: o programa do BCE nacionaliza 91% do risco da compra de dívida, mas mutualizará os lucros obtidos pelos vários Estados-membros (de acordo com a respectiva participação na chave de capital) os lucros da operação. Igualmente relevante é a uma limitação aos montantes que o BCE pode comprar em Portugal. Vejamos os detalhes e o porquê… e prepare-se para uma possível desilusão quanto às poupanças orçamentais da bazuca de Mario Draghi (no foto).

 

Ler mais

Alesina contra-ataca: o regresso do arquitecto da austeridade

20/01/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

Alberto Alesina passou os últimos dois anos a ouvir críticas dos seus detractores. O responsável pela criação do conceito de austeridade expansionista – que defende que é possível fazer consolidação orçamental sem recessão – viu a Europa mergulhar numa depressão económica. Com o pé no acelerador da austeridade, os europeus sentiram na pele os custos sociais de uma crise misturada com cortes na despesa e aumentos de impostos. A realidade parecia estar a desmentir as teses de Alesina, mas o italiano não desistiu delas.

 

Ler mais

Confiança em máximos: os portugueses estão loucos?

06/01/2015
Colocado por: Rui Peres Jorge

A subida dos indicadores de confiança em Portugal parece ter sido interrompida nos últimos dois meses, mas permanece em máximos de 2008 no caso dos empresários, e de 2002 no caso do consumidores. Isto significa que as famílias e as empresas estão mais optimistas do que antes da crise, quando a dívida pública e o desemprego estavam pela metade (ou menos), quando o crédito fluía sem dificuldades, e os cenários de uma crise de financiamento externo eram tidos como absurdas. O que se passa então, os portugueses estão a ficar loucos?

 

Confiança

 

Consultámos e falámos com vários especialistas para tentar perceber o que se passa e publicámos hoje os resultados no Negócios. A resposta está naturalmente nos detalhes da construção destes indicadores e vale a pena conhecê-los. Por exemplo, devemos começar por ter presente que a confiança assim medida é fluxos e não um “stock”, ou seja, estes indicadores dizem-nos por exemplo que os portugueses podem estar melhor que no período anterior (e estarão por isso confiantes), mas ainda assim continuarem numa situação má (PIB baixo, desemprego e divida elevada).

 

Há no entanto outros elementos importantes que abonam a favor da sanidade mental dos inquiridos aos inquéritos do INE e explicam o desfasamento entre os indicadores de confiança e o estado da economia. Aqui ficam explicações de de Rui Bernardes Serra (Montepio), Paula Carvalho (BPI) e Wolfgang Munchau (excerto de um artigo no Financial Times).

Ler mais