Arquivo da categoria: Pontos críticos

Análises diárias aos temas que marcam a actualidade

Fiscal Compact aos olhos do BCE

16/03/2012
Colocado por: Pedro Romano

O Boletim Económico do BCE deste mês traz uma caixa de análise do Tratado Orçamental, assinado há duas semanas pelos líderes europeus. Os pontos enfatizados por Frankfurt são:

 

i) Regra de equilíbrio orçamental

 

ii) Convergência obrigatória para os objectivos de médio prazo

 

iii) Cláusula de salvaguarda para permitir desvios temporários

 

iv) Mecanismo de correcção automática de desvios

 

v) Penalizações de 0,1% do PIB (multa)

 

vi) Regra de redução da dívida anual (1/20 do valor acima dos 60%)

 

vii) Transposição das normas para quadro legal interno

 

8) Submissão à Comissão dos planos de emissão de dívida

 

O BCE clarifica também a fórmula de cálculo do saldo estrutural, que promete causar fricção. A metodologia (seguida pela Comissão Europeia e aparentemente pela OCDE) é a seguinte:

 

i) Estimar o hiato do PIB face ao PIB potencial através de uma função de produção;

 

ii) Calcular a sensibilidade do saldo ao PIB; o cálculo é refeito apenas uma vez a cada cinco anos e leva em conta:

 

ii.i) Elasticidade dos impostos, contribuições sociais e subsídios de desemprego em relação ao PIB;

 

ii.ii) Elasticidade destas rubricas a componentes específicas do PIB (salários, lucros). As elasticidades tendem a aproximar-se da unidade

 

A caixa tem ainda uma explicação sucinta dos problemas que esta medida tem. Os interessados podem consultar as páginas 101-105 do Boletim.

 

Há mais dívidas públicas do que imagina

13/03/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

 

 

Ministério das Finanças no Terreiro do paço em Lisboa Fonte: Mário Proença/Bloomberg

 

A próxima vez que disser dívida pública, pense duas vezes. Ou pelo menos, tenha presente que pode estar a dizer uma meia dúzia de coisas diferentes, que variam entre si vários milhares de milhões de euros.

Aumento das taxas de IVA somará 1,1 pontos à inflação

12/03/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

A inflação subiu para 3,6% em Fevereiro. José Miguel Moreira, do Montepio, analisa os números divulgados pelo INE, destaca que a inflação sem energia e bens alimentares está em 2,2%, mas também que o valor da inflação geral se vai manter elevado o resto do ano puxada pelos preços da energia e pelo aumento dos impostos indirectos. Bárbara Marques, do Millennium bcp, evidencia entre os riscos para este ano o impacto das condições climatéricas nos preços dos bens alimentares. 

   

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

Contas equilibradas! Contas equilibradas!

11/03/2012
Colocado por: Pedro Romano

Quando Vítor Gaspar anunciou, há poucos meses, que queria equilibrar as contas externas da economia portuguesa em 2013, vários economistas apontaram o dedo ao irrealismo do ministro das Finanças. Mas as Contas Nacionais do quarto trimestre (disponíveis no INE) mostraram que o optimismo de Gaspar talvez não fosse tão imprudente.

 

 

Segundo o INE, o saldo externo (balança de transacções correntes + balança de capital) passou de um défice de 5,4% do PIB para um excedente de 0,2%, um resultado positivo que não se via desde 1995. Dito isto, vale a pena discutir alguns dos elementos desta evolução. Destacamos quatro.

 

Balança comercial reduz défice apesar de degradação dos termos de troca Entre o terceiro e o quarto trimestres, a balança comercial (no sentido abrangente de bens + serviços) melhorou 2,6 pontos percentuais, apesar da degradação dos termos de troca (preço das importações aumentou e o preço das exportações diminuiu). A dimensão do ajustamento é ainda mais notável quando enquadrada num horizonte mais dilatado. Entre 2008 e 2009, a balança comercial passou de -9,9 para -1,2%.  

 

Balança de rendimentos melhora A Balança de Rendimentos caiu de 3,6% para 2,1% do PIB no quarto trimestre. Um ajustamento desta dimensão seria quase impossível com um contributo relevante desta rubrica, que a certa altura chegou a representar quase 5% do PIB. Em baixo, apresentamos a variação destas duas componentes. Não apresentámos, por razões de grafismo, as balanças de transferências correntes e de capital, que de qualquer maneira são pouco relevantes.

 

Importância da contracção da procura interna O ajustamento do lado da balança comercial foi alcançado sobretudo através da contracção da procura interna. Em termos nominais, as exportações chegaram mesmo a diminuir face ao trimestre anterior. A compensação veio pelo lado das importações, que caíram 8,5% em termos nominais (e mais tem termos reais, já que os preços aumentaram). Em termos reais, a procura interna está agora ao nível do que se registava em 1999, sobretudo por causa do investimento.

 

Menos correcção do lado da oferta O elemento anterior pode ser analisado à luz do PIB pelo lado da oferta. A correcção do desequilíbrio externo deve vir da contenção da procura eterna (a ocorrer aceleradamente, como vimos) e de um desvio de recursos do sector não transaccionável para o transaccionável, que reoriente a produção para o mercado externo. Este movimento, que se verificou durante o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2011, parece ter sido interrompido nos últimos seis meses do ano passado.