E se o BCE puder dizer asneiras dentro da igreja
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Mário Draghi numa conferência em Frankfurt em novembro. Fonte: Hannelore Foerster/Bloomberg
“O BCE, como herdeiro do Bundesbank, considera que a compra de obrigações soberanas pelos bancos centrais é como dizer asneiras na igreja: pura e simplesmente não é feito”. É assim que Willem Buiter, o agora economista-chefe do Citigroup, responde a Tom Keene, sobre porque é que o BCE ainda não actuou. O inspirado início da conversa a meio de Novembro segue depois uma análise da crise europeia e do potencial “default” grego, mas mais ou menos peloa minuto 5″ o economista britânico avança uma proposta de intervenção do BCE no mercado de dívida sem criar pressões inflaccionistas (a entrevista em vídeo foi a 16 de Novembro). Ilian Mihov faz um resumo da proposta de Buiter, que passa essencialmente por usar os lucros do BCE (de senhoriagem) para financiar compras de dívida de países em dificuldades. Neste caso, não haveria impressão de moeda para financiar as compras. Draghi, numa entrevista publicada hoje, quebra o tabu e fala sobre uma desagregação do euro. Mais logo, às 15:30, vai ao Parlamento Europeu. Além disso estamos também a ler:
2. A desalavancagem bancária no panorama europeu e os efeitos da dívida soberana, descrevem Stephen Kinsella e Vincent O'Sullivan (VoxEU.org)
3. Antonio Fatas descreve “um pacto europeu de instabilidade e estagnação” (Antonio Fatas e Ilian Mihov)
Compreendendo o “não” inglês
O “não” britânico na cimeira europeia da última sexta-feira gerou algum celeuma nos principais meios de comunicação social. Em The british 'Non', Harold James passa em revista a relação atribulada do eixo franco-alemão com a economia britânica desde os primórdios da criação do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio e explica por que é que a “retirada” de Cameron não deveria ser vista com estranheza. Além disto, também estamos a ler:
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Capitalismo ou a Crise – quem acaba primeiro?
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Será que o capitalismo vai resistir à crise financeira e económica? Esta é a pergunta que o economista Kenneth Rogoff faz na sua coluna de hoje do Project Syndicate – Is modern capitalism sustainable? O capitalismo, diz o antigo economista-chefe do FMI, produziu um crescimento fenomenal da riqueza durante os últimos dois séculos, mas à medida que as principais necessidades vão sendo satisfeitas, tornam-se mais óbvios os seus subprodutos nefastos: desigualdade, problemas ambientais, etc. Além disto, também estamos a ler:
2. Keep the IMF out of Europe, por Mario Blejer e Eduardo Levy Yeyati. Os economistas argentinos analisam a intervenção do Fundo na Europa e apontam os problemas que a opção levante. Nomeadamente, o precedente que abre ao fazer com que o Fundo entre com o dinheiro que a Alemanha não está disposta a usar (no Project Syndicate).
3. The question of the eurobonds, por Richard Posner. O economista explica o problema que a criação de obrigações levanta na Zona Euro e o jogo de interesses divergentes que não pára de adiar a sua concretização. What a mess!, é a conclusão.
Voltar ao escudo
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Ao centro Elena Salgado (ministra das Finanças de Espanha, por enquanto) e Mário Monti (novo primeiro ministro italiano) ladeados ontem por Olli Rehn (Comissário Europeu) e Juncker (líder do eurogrupo): é deles que depende o futuro do euro. Fonte: Jock Fistick/Bloomberg
Ontem foi a maior plataforma electrónica cambial do mundo a dizer que está a “limpar o pó” aos seus sistemas antigos e a testá-los para funcionar com dracmas (e outras moedas que não transaccionam há mais de uma década…). Hoje, são os líderes de grandes empresas multinacionais a afirmarem no Financial Times que já se estão a preparar essa contingência. Também hoje noticiamos no Negócios que alguns reputados economistas também já discutem em Lisboa o fim do euro, ou pelo menos a saída portuguesa. João Ferreira do Amaral, por exemplo, defende uma saída após uma estabilização da crise (através da emissão de euro obrigações e de uma intervenção do BCE), defendendo a entrada de Portugal no sistema europeu de taxas de câmbio II, uma decisão que precisaria do apoio das autoridades europeias, nomeadamente do BCE, de forma a garantir uma desvalorização cambial suave através de um mecanismo de crawling peg. Os dias até à cimeira da sexta-feira dia 9 serão intensos, e vamos ouvir falar muito mais do fim do euro ou, pelo menos, de possíveis saídas de certos países. Os desafios técnicos e económicos de uma saída do euro são imensos. Aqui ficam alguns dos artigos que estamos a ler (e a reler) sobre o tema:
2. O banco Nomura divulgou há dias um relatório que circulou o mundo onde analisa os riscos de redenominação do euro em novas moedas nacionais. A ideia central é a de que os investidores devem ter presente que há três elementos a ter em conta face a este risco: 1) no caso de uma saída do euro, o mais provável seria que os contratos regidos pela Lei nacional deveriam passar para a nova moeda, enquanto os contratos regidos por outra Lei, ficariam em euros; 2) um país que saia sem acordo dos parceiros, poderá ficar em apuros; 3) uma desintegração total do euro seria caótica.
Todos à espera do BCE
O BCE acabará, mais cedo ou mais tarde, por intervir e conter o contágio da crise da dívida periférica. É esta a opinião (quase) consensual dos economistas que hoje escrevem na blogosfera e na imprensa internacional. James Surowiecki já cunhou um nome para a crise actual: “The avoidable crisis”, como explica hoje no New Yorker. Além disto, também estamos a ler:
2. The euro curse, por Paul Krugman. Suécia e Finlândia têm ambas situações orçamentais estáveis, mas a segunda está a registar custos de financiamento crescentes. Porquê? Krugman avisa: culpa do euro (no The Conscience of a Liberal).
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