Durante os últimos anos, ouvimos falar da década passada – 2001 e 2010 – como uma “década perdida” para a economia portuguesa, devido ao crescimento muito baixo do produto interno bruto (PIB) durante esse período. Mas e se eu lhe disser que Portugal deverá crescer ainda menos nesta década do que na anterior? Que expressão vamos usar para os próximos anos?
Perdido*
adjectivo
- Que se perdeu.
- Arruinado.
- Inutilizado.
- Naufragado.
- Esquecido.
- Disperso, espalhado.
- Louco de amor.
- Corrupto, cheio de vícios.
Foi esta a classificação escolhida para caracterizar uma década em que Portugal cresceu apenas 0,8% (2001 a 2010). A inspiração era Japonesa. Depois de dez anos de crescimento muito forte na década de 80, o Japão entrou num ciclo de estagnação e inflação baixa (ou até negativa), que se arrastou dos 90 até aos 00. Duas décadas. Lembra-lhe alguma coisa?
Portugal, que tinha crescido em média 3% ao ano entre 1991 e 2000 e 3,8% na década de 80, sofreu uma travagem significativa entre 2001 e 2010 para os já referidos 0,8%. Vários artigos foram escritos sobre o tema na comunicação social, utilizando a “alcunha” japonesa.
No entanto, os novos dados publicados esta semana pelo FMI no World Economic Outlook mostram um futuro ainda mais cinzento para a economia nacional. Embora tenha revisto em alta o crescimento para 2015 (1,6%), antecipa um arrefecimento progressivo nos próximos cinco anos até perto de 1% no final da década.
Entre 2011 e 2020, o PIB português avançará ao ritmo médio de apenas 0,2% ao ano. Um resultado influenciado por três fortes recessões nos anos de crise mais profunda.
É caso para perguntar: onde está o efeito das reformas estruturais? Portugal, segundo o seu Governo e o próprio FMI, executou com sucesso o programa de reformas estruturais com que estava comprometido. O resultado é um crescimento próximo de 1% ao ano? Reformas mal feitas ou optimismo excessivo em relação ao seu impacto?
Caso as previsões mais pessimistas do FMI se confirmem, que palavra utilizaremos para caracterizar este período em que entrámos? Se 20 anos depois estamos cada vez mais perdidos, se calhar é altura de declarar “morte presumida“.
*Definição Priberam
NOTA: De referir que o Governo já apresentou o seu cenário macroeconómico, que é significativamente mais optimista que o FMI, antecipando um crescimento de 2,4% entre 2017 e 2019. Também já se sabe que o PS antecipa que o PIB evolua a um ritmo superior a 2% (com a implementação de outras políticas).
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