A hegemonia alemã segundo Carlos Gaspar

18/08/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

Em Outubro de 2010 o casal Merkel-Sarkozy (uma aliança invulgar como bem notou meses depois o NYT) reuniu-se em Deauville para acordar a imposição alemã de envolvimento do sector privado nos resgates europeus. Cerca de um mês depois a Irlanda ficou excluída dos mercados sendo forçada a pedir financiamento externo; e hoje são muitos os que consideram que uma parte importante da fraqueza da Zona Euro – e da força alemã – se deve a essa imposição.

 

Esta semana o casal reuniu-se novamente para determinar, entre outras coisas, que Herman Van Rompuy se deve reunir duas vezes por ano para gerir a Europa económica (imagina-se que depois lhe digam exactamente quando). E talvez mais importante, para, novamente por imposição alemã, apontar para a inscrição na Constituição de cada um dos países do euro limites ao endividamento, uma proposta que os países do Sul aplaudiram – que remédio – mas que não entusiasmou, por exemplo, Finlândia e Áustria.

 

Tenta esta introdução ilustrar o texto que Carlos Gaspar, do IPRI, escreve hoje no Público, e que vale a pena ler (não encontro em versão online, e  transcrevo aqui apenas o mínimo). Escreve Gaspar que a imposição de limites constitucionais à dívida pública é “um passo decisivo para a consolidação da preeminência alemã na UE” e que o apoio francês a Merkel abre a porta uma “ordem hegemónica liberal” germânica, defendendo que “tudo indica que a estratégia alemã se vai pautar pelas mesmas regras que os Estados Unidos seguiram na construção da comunidade transatlântica no princípio da Guerra Fria”.

 

Carlos Gaspar apresenta depois as três regras de ouro de uma estratégia hegemónica:

 

As três regras de ouro do ordenamento liberal são bem conhecidas. A primeira regra é nunca aparecer como portador de um projecto hegemónico. (…) A segunda regra é formar uma grande coligação à volta da potência dirigente e institucionalizar essa aliança num quadro multilateral. (…) A terceira regra é reproduzir na nova ordem os valores, as normas e as instituições da potência dirigente

 

     

 

 

 

Rui Peres Jorge