São 3h00 no Cais do Sodré. Estamos cheios de frio, a chuva bate-nos com toda a força na cara, o vento destrói-nos o chapéu-de-chuva, em geral, sentimo-nos miseráveis e… NÃO HÁ MANEIRA DE APARECER UM RAIO DE UM TÁXI para nos levar a casa. Já todos tivemos uma experiência espectacular semelhante a esta.
Será azar? Karma? Estarei a procurar no sítio errado? Aparentemente existe uma explicação económica para isso acontecer. Estudos anteriores apontavam para que a culpa fosse da curva da procura. A chuva provoca um aumento súbito da procura por viagens de táxi que não obtém resposta imediata da oferta. Isto é, este momento transforma-se num período de transição, de desencontro entre procura e oferta e de meias encharcadas.
Uma explicação alternativa é que os taxistas fixam um valor que querem receber nesse dia. Imagine que é 50 euros. O reforço da procura quando chove faz com eles atinjam esse montante mais rápido, levando-os a ir mais cedo para casa. Esta explicação parece plausível, mas não é particularmente elogiosa para os nossos amigos taxistas. Significa que podiam ganhar muito mais dinheiro do que estão a ganhar. Por outro lado, significaria também que não consegue arranjar táxi quando chove porque os motoristas são pouco gananciosos.
Um novo estudo vem riscar as duas hipóteses referidas em cima. Henry S. Farber, da Universidade de Princeton, confirma que a procura por táxis aumenta quando chove e que a oferta cai, mas avança outros motivos. A amostra é gigante. Utilizando dados de viagens de táxi realizadas entre 2009 e 2013 em Nova Iorque, Farber olhou para oito milhões de turnos, cruzando depois essa informação com dados meteorológicos.
De facto, as taxas de ocupação dos táxis aumentam 4,8% quando chove. E o número de táxis na rua cai 7,1%. Mas Farber conclui na sua análise que, por regra, os taxistas não fixam uma meta de receita para dia. Mas então porque haverá menos táxis?
Farber, avança uma hipótese: “Alguns motoristas param simplesmente porque é menos agradável conduzir à chuva e não existe nenhum benefício adicional em continuar a conduzir.”
Embora haja uma procura maior por táxis e uma taxa de ocupação mais elevada, a investigação de conclui que os taxistas percorrem distâncias 2,4% mais curtas quando está a chover. É que, como bem sabemos como lisboetas, quando caem umas pingas os condutores deixam de saber conduzir. Somos mais irresponsáveis e dispara o número de ofensas gritadas pelas janelas.
De alguma forma, os números de Nova Iorque parecem confirmar a nossa experiência empírica. Quando começa a chover, os taxistas não vêem só pessoas encharcadas com o braço estendido, antecipam também o trânsito a mais que vão enfrentar e a probabilidade mais elevada de terem um acidente. Nas palavras de Henry Farber, “o facto de serem percorridas menos milhas por hora com passageiros apesar de a taxa de ocupação ser mais alta é uma prova clara que as condições de condução são piores quando chove”. Ou seja, “é este factor que compensa o aumento da procura e resulta em nenhuma alteração nos ganhos por hora quando está a chover”.
Esta explicação parece tornar difícil uma solução, excepto por intervenção divina. Mas pode não ser bem assim. Farber refere que serviços como Uber podem ajudar a gerir melhor as flutuações da procura, cobrando mais quando a procura aumenta e menos quando ela cai. Isso reforçaria os incentivos para os taxistas continuaram a conduzir quando chove.
Estas e outras reflexões sobre taxistas e a economia podem ser encontradas aqui.
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