O desemprego atingiu os 12,4% da população activa no primeiro trimestre deste ano, revelou hoje o INE. O número foi calculado com uma nova metodologia que fez esta taxa aumentar significativamente: o número oficial de desempregados é agora de 688 mil, mais 55 mil que o número estimado pela metodologia anterior. Rui Bernardes Serra, do Montepio, analisa os números e avisa que a tendência continua a ser de subida.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Rui Bernardes Serra – Departamento de Estudos do Montepio
1. Em Portugal, segundo o INE, a Taxa de Desemprego no 1ºT2011 atingiu os 12.4%, o nível trimestral mais elevado da actual e da anterior série histórica. Com este Relatório, iniciou-se a divulgação dos resultados do Inquérito ao Emprego decorrentes da alteração do método de recolha da informação associado à introdução do modo telefónico, da consequente alteração do questionário e da adopção de novas tecnologias no processo de desenvolvimento e supervisão do trabalho de campo.
2. Face à introdução destas alterações, os resultados agora publicados não permitem uma comparação directa com os dados anteriores, configurando, assim, uma quebra de série. Ainda assim, o INE refere que os testes realizados indicam que a manutenção do modo de recolha anterior teria conduzido a uma Taxa de Desemprego de 11.4%, o que apresentaria um agravamento quer face aos 11.1% do 4ºT2010, quer face aos10.6% observados no período homólogo.
3. A População Desempregada foi estimada em 688.9 mil indivíduos, que, de acordo com a anterior metodologia, corresponderiam a 633.3 mil desempregados, o que, utilizando uma retropolação dos dados históricos, corresponde a um acréscimo de 12.4% face ao trimestre homólogo de 2010, bem acima da evolução observada no número de desempregado inscritos no IEFP, que até caíram 1.7%. Face ao trimestre anterior, o número de Desempregados subiu 2.3%, acima do crescimento observado nos desempregados inscritos no IEFP (+1.5%). O Número de Desempregados à Procura de Emprego há 12 ou mais meses – desemprego de longa duração – representava 53.0% da população desempregada total (29.3% estavam à procura de emprego há mais de dois anos). A Taxa de Desemprego de Longa Duração (medida pela razão entre o número de desempregados à procura de emprego há 12 e mais meses e a População Activa) foi de 6.6%.
4. O número de Empregados era de 4.866 milhões (4.946 milhões na anterior metodologia), o que, numa base comparável, corresponde a uma diminuição de 1.3% face ao mesmo trimestre de 2010 e de 0.1% relativamente ao trimestre anterior. A distribuição da população empregada por sector de actividade económica era a seguinte: 10.0% dos empregados encontravam-se a trabalhar na Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Pesca; 27.5% na Indústria, Construção, Energia e Água (16.8% na Indústria Transformadora e 9.2% na Construção) e 62.5% nos Serviços.
5. Considerando os dados ajustados de sazonalidade (cálculos do Departamento de Estudos do Montepio), a Taxa de Desemprego, no 1ºT2011, é ligeiramente inferior, de 12.3% (12.0%, no 4ºT2010), mas representado o nível mais elevado desde, pelo menos, o 1ºT1977 (considerando os dados ajustados de sazonalidade das séries trimestrais do Banco de Portugal).
6. Segundo o Eurostat, a Taxa de Desemprego terá continuado em 11.1%, em Março, depois de ter diminuído 0.1 p.p., no mês anterior, e de ter permanecido inalterada, entre Setembro de 2010 e o passado mês de Janeiro, nos 11.2%, o nível máximo desde o início da série, em Janeiro de 1983. Considerando que a média trimestral das estimativas mensais do Eurostat para a Taxa de Desemprego para Portugal se situava em 11.1%, 1.2 p.p. abaixo dos dados do INE por nós ajustados de sazonalidade, deverá haver lugar a uma futura revisão em alta da série do Eurostat.
7. Assim, não obstante alguns sinais de melhoria evidenciados pelos últimos dados referentes ao Desemprego Registado –, que pareciam, inclusive, já no final de 2010, sugerir a proximidade da inversão de ciclo deste mercado, mas que os dados trimestrais do Desemprego divulgados pelo INE (quer respeitantes ao 4ºT2010, quer os respeitantes ao 1ºT2011) vieram deitar por terra –, a verdade é que a situação deteriorada em que o Mercado Laboral se encontra mantém-se como um dos principais constrangimentos para a economia portuguesa, devendo, designadamente num ano que se espera difícil, agravar-se. Nas suas Previsões de Primavera, publicadas no passado dia 13 de Maio, a Comissão Europeia veio apontar para uma subida da Taxa de Desemprego dos 11.0%, em 2010, para 12.3%, este ano, e 13.0%, em 2012, um valor que o próprio Governo português veio recentemente admitir poder vir a ser atingido, na sequência das medidas acordadas com a Troika.
8. De resto, é também no sentido do agravamento da situação que continuam a apontar os indicadores mais prospectivos, com as Expectativas de Emprego dos Empresários (próximos 3 meses) do survey de Abril da Comissão Europeia a evidenciarem uma nova deterioração, para um mínimo desde Maio de 2009, afastando-se ainda mais do limiar teórico da criação de Emprego, e encontrando-se, do ponto de vista empírico, igualmente a evidenciar, e já pelo 4º mês consecutivo, uma destruição de Emprego na economia. De resto, as Expectativas de Desemprego dos Consumidores (próximos 12 meses), mais sensíveis às medidas de austeridade adoptadas, deterioraram-se para um nível máximo desde Junho de 2009, permanecendo, também, teórica e empiricamente consistentes com um agravamento do Desemprego na economia portuguesa.
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