Actividade económica surpreende no quarto trimestre de 2013

14/02/2014
Colocado por: Nuno Aguiar

O INE publicou esta manhã a variação do PIB para o quarto trimestre de 2013, apresentando o primeiro crescimento homólogo desde o final de 2010 (1,6%). Filipe Garcia, do IMF, nota que é “um número positivo”, mas lembra que o PIB está ainda 6,7% abaixo do “pico” pré-crise. Já Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, antecipa que este resultado terá impacto em 2014, tanto no crescimento como no défice.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

Filipe Garcia – IMF

 

1. É um número positivo. Havia alguma discussão entre os economistas acerca do comportamento do consumo privado dado que os indicadores disponíveis apresentavam alguns sinais contraditórios. O relatório do INE mostra que, afinal, o consumo privado recuperou, “puxando” pelo PIB.

 

2. Trata-se do terceiro crescimento positivo em cadeia, o que não acontecia desde o 3º trimestre de 2010. Em termos homólogos é a taxa de crescimento mais alta também desde o 3º trimestre de 2010 e é o primeiro crescimento homólogo desde o 4º trimestre de 2010. Mesmo com a recuperação registada, segundo os dados da Reuters, o PIB está ainda cerca de 6.7% abaixo do que se registava no “pico” antes da crise.

 

3. O processo de estabilização da economia portuguesa continua em curso, notando-se que o crescimento do PIB se faz com um perfil mais equilibrado entre a procura interna e externa. Para que o PIB comece a crescer de forma mais sustentada fica a faltar uma evolução mais positiva em termos do investimento e a confirmação da melhoria do consumo privado.

 

4. Se as previsões para a economia internacional se concretizarem, nomeadamente as relativas às economias da União Europeia, 2014 deverá voltar a ser um ano positivo para as exportações nacionais. A incógnita maior continua a residir na procura interna, mesmo assumindo que a saída do programa de assistência financeira decorrerá sem sobressaltos. Em todo o caso, as perspectivas para a economia nacional são positivas para 2014.

 

Paula Carvalho – Economista-chefe do BPI

 

Economia surpreende positivamente no final do ano. Embora se antecipasse o regresso a crescimento no último trimestre de 2013 (a nossa previsão apontava para +1%, y/y), os números divulgados pelo INE excedem as expectativas. Face ao comportamento reportado, destacam-se os seguintes aspectos:

 

1. O perfil de evolução sugerido pelas indicações do INE é o adequado, destacando-se os contributos favoráveis das exportações e do consumo privado. Refira-se que depois de uma retracção acentuada da procura interna, cerca de menos 14% desde o pico de 2008, é desejável uma estabilização ou mesmo o aumento do consumo das famílias. Por outro lado, o sector exportador continua a evoluir de forma bastante positiva, reflexo dos ganhos de competitividade e de estratégias agressivas de procura por novos mercados ou aumento da penetração em mercados já explorados.

 

2. O comportamento do PIB no 4T13 tem um impacto estatístico favorável sobre o conjunto do ano de 2014, pelo que as nossas previsões – crescimento da economia de 1% – estão sujeitas a revisão.

 

3. Este resultado contribui para a persistência da tendência de redução do prémio de risco do soberano, sendo um elemento crucial para assegurar o pleno regresso ao financiamento no mercado pela República portuguesa.

 

4. Contribui também favoravelmente para o esforço de consolidação orçamental em 2014: recorde-se que no Orçamento de Estado para 2014, o Ministério das Finanças estimava que o regresso a crescimento previsto de 0.8% (previsão oficial) reduzisse o esforço de consolidação em 0.5 p.p. do PIB; pelo que um maior ritmo de expansão reforçará este contributo, permitindo mais facilmente alcançar a meta para o défice.

 

5.Apesar deste bom desempenho, para assegurar um processo sustentado no futuro seria também necessário o regresso a crescimento da Formação Bruta de Capital. Esta componente foi particularmente afectada durante o processo de ajustamento nos últimos três anos, sendo necessária a sua recuperação para reforçar o crescimento potencial do PIB e aumentar o emprego sustentadamente.

 

Rui Bernardes Serra – Economista-chefe do Montepio

 

1. A estimativa preliminar do INE para o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal no 4ºT2013 apontou para uma subida de 0.5%, superior à mediana das projecções das instituições contactadas pela Bloomberg (+0.1%), que eram idênticas às nossas perspectivas, devendo o nosso erro de previsão estar associado sobretudo ao facto de a procura interna também ter registado um crescimento em cadeia, juntando-se ao contributo positivo das exportações líquidas. Admite-se que o consumo privado tenha caído menos do que o que estimávamos, que o consumo público possa ter crescido um pouco mais e que o investimento não tenha caído, mas avançado ligeiramente. Mas a concorrer para esta aceleração esteve sobretudo o comportamento das exportações líquidas, que tinham penalizado o crescimento da economia no 3ºT2013.

 

2. Relativamente à óptica da oferta, a actividade económica no 4ºT2013 terá sido suportada sobretudo pelo setor industrial, enquanto o sector dos serviços terá apenas subido marginalmente e suportado pelos serviços público (já que os dados do volume de negócios nos serviços apontam para uma queda do VAB dos serviços privados), enquanto a construção poderá ter penalizado o crescimento do PIB. Em termos homólogos o PIB subiu 1.6%, depois de ter descido 0.9% no trimestre anterior (valor revisto em alta em 0.1 p.p.), apresentando o primeiro crescimento desde o observado no 4ºT2010 (+1.5%). No 1ºT2013 (-4.0%) tinha registado a maior queda desde o 1ºT2009.

 

3. No ano de 2013, a economia caiu 1.4%, menos do que o que esperávamos (Montepio: -1.5%) e do que era previsto pela generalidade das organizações (BdP em 10-dez: -1.5%; OCDE em 11-nov: -1.7%; Governo e troika em out-13 aquando da Proposta de OE 2014: -1.8%). A economia abrandou o ritmo de queda (-3.2% em 2012), mas contabilizou a 3ª queda anual consecutiva (-1.3% em 2011), ficando o PIB no nível mais baixo desde o ano 2000, já que desde a expansão de 2007 (+2.4%), apenas por uma vez a economia cresceu (em 2010: +1.9%), tendo estabilizado em 2008 e caído 2.9% em 2009. Assim, o PIB de 2013 ficou 6.7% abaixo do observado em 2007.

 

4. Relativamente a 2014, revimos em alta o crescimento de 0.8% para 1.2%, reflectindo sobretudo o carry-over mais favorável que se estima agora. Efectivamente, caso em 2014 o PIB estabilizasse nos níveis do 4ºT2013 registaria um crescimento anual de 0.8%. Mas, com excepção do 1ºT2014, estima-se uma aceleração da actividade ao longo do ano. Prevê-se grosso modo uma estabilização no 1ºT2014, já que a procura interna será condicionada pela entrada em vigor das medidas constantes no OE-2014 (a este factor junta-se a forte e constante agitação marítima que tem marcado esta 1ª metade do trimestre, e que tem provocado uma paralisação de parte dos portos marítimos no país, afectando naturalmente as actividades mais directamente relacionadas, com destaque para as da pesca, que fazem uso de embarcações de menor dimensão; a agricultura e a construção também poderão ser afectadas negativamente), apontando-se para que a economia regresse aos crescimentos consistentes (mas moderados) sobretudo a partir da primavera, à medida que o impacto das novas medidas se dilua e com a procura externa, nomeadamente a proveniente da Zona Euro (e em especial Espanha) a dever acelerar ao longo do ano (apesar do esforço de diversificação, as exportações ainda estão muito direccionadas para os nossos parceiros europeus).

Nuno Aguiar