Contando as palavras da Comissão

21/02/2014
Colocado por: Rui Peres Jorge

Hoje escrevemos na edição em papel que nas 1.081 páginas de relatórios de avaliação da Comissão Europeia (do programa inicial à nona revisão) não aparecem referidas uma única vez as palavras “pobreza” ou “desigualdade”. No outro extremo do “ranking” estão as palavras “orçamental” (que em média surge quase uma vez por página), “emprego” ou “desemprego” (duas vezes em cada três páginas) e “reforma” (uma vez por cada três páginas). As contas são do Bruegel, um “think tank” de Bruxelas, que analisou os vários relatórios da Comissão Europeia num estudo que fez para o Parlamento Europeu e que o Negócios avançou na quinta-feira. O trabalho de análise quantitativa de palavras não se ficou por aqui. Os economistas foram por exemplo à procura da frequência de utilização dos termos “reformas estruturais” e “ajustamento orçamental”. Os resultados contam mais um pouco da história do programa de ajustamento português, como mostra o gráfico abaixo:

 

 

O programa nacional começou muito centrado nas “reformas estruturais” (referidas cerca de 0,12 vezes por página no primeiro relatório da Comissão em Junho de 2011), mas a meio do programa estas acabaram por ceder o lugar ao “ajustamento orçamental”, refletindo as dificuldades experimentas em 2012 para conseguir controlar as contas públicas. “Desde então, a consolidação tornou-se menos proeminente e as “reformas estruturais” mais proeminentes”, descrevem os economistas do Bruegel no documento, o que aliás foi notado também no relatório da décima avaliação publicado ontem.

 

Eis as principais conclusões (em inglês) da análise de André Sapir, Guntram Wolff, Carlos de Sousa e Alessio Terzi à contagem de palavras da Comissão:

 

1) Conditionality has become much more detailed in Greece, while the level of detail has remained broadly constant in the other countries.

 

2) Fiscal issues receive the greatest attention in the programme documents, which can be explained by the fact that financial assistance is given to governments and therefore fiscal issues are in focus.

 

3) A further important conditionality issue is the financial sector. In all programmes, but especially in Ireland, banking system reforms were central and remained central throughout the three years.

 

4) Economic reform issues are important for all countries and their importance has increased. However, poverty issues are barely considered in the programme documents and have received only marginally increasing attention in the last year of the programmes.

 

5) In Greece, the second programme emphasises growth, jobs and structural reforms much more than fiscal issues, which decreased in importance. Privatisation became a central theme. In Portugal, structural reform issues were extremely prominent at the beginning of the programme and became less important. Fiscal issues, in contrast, became more important as doubts about sustainability and the implementation of fiscal measures increased. In Ireland, employment and business matters became much more important in 2012, when unemployment had increased significantly.

Rui Peres Jorge