BCE recupera medidas não convencionais

06/10/2011
Colocado por: massamonetaria

O BCE manteve juros e recuperou medidas não convencionais de política monetária. Rui Bernardes Serra e José Miguel Moreira, do Montepio explicam as vantagens deste arsenal que tem sido utilizado na crise.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor. 

 

 

Rui Serra e José Moreira  – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. Como esperado, na Reunião de Política Monetária de 6 de outubro, o Conselho de Governadores do BCE decidiu manter inalterada a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento da Zona Euro, a Refi Rate, em 1.50%.

2. Para além desta esperada decisão de manutenção da Refi Rate, o BCE anunciou a adopção de novas medidas não-convencionais de Política Monetária – um segundo Programa de Compra de Obrigações Hipotecárias (CBPP2), num montante total de 40 mil milhões de euros, e novas Operações de Cedência Extraordinária de Liquidez (LTRO), designadamente a 12 e a 13 meses –, algo que acabou também por ir mais de encontro ao que estaríamos à espera, num contexto de taxas de juro já muito baixas – as taxas de juro reais estão, neste momento, bastante negativas. Com efeito, e apesar de estas medidas não serem muitas vezes do agrado dos países do centro, nomeadamente da Alemanha, acabam por ser mais relevantes para a acomodação da deterioração das condições financeiras na região, nomeadamente, dos problemas de liquidez do sistema bancário e da subida dos spreads da dívida pública dos países periféricos comparativamente à dívida alemã.

 

3. O resultado desta reunião veio, assim, de encontro às nossas expectativas, não tendo igualmente surpreendido o facto de o discurso do Presidente do BCE ter continuado a revelar maiores preocupações para com o crescimento económico na região, num contexto de permanência de um forte clima de incerteza, recentemente exacerbado pela intensificação dos receios quanto aos efeitos de contágio da crise da dívida soberana, bem como pelos manifestos sinais de abrandamento da procura global.

4. Em termos de próximos passos, o nosso cenário central continua a ser o de permanência da Refi Rate no actual nível. Com efeito, apesar das pressões inflacionistas resultarem, essencialmente, dos preços da energia e do aumento dos impostos indirectos adoptado por alguns governos, o que é certo é que os nossos modelos do tipo Regra de Taylor, baseados nas componentes Core do IPC (Inflação Subjacente), não sinalizam qualquer descida de taxas até ao final do ano, condicional ao nosso actual cenário macroeconómico – relativamente semelhante ao do BCE –, de permanência da recuperação económica em curso. Todavia, esta é, naturalmente, uma hipótese (de descida de taxas) que não poderemos excluir, num eventual contexto de deterioração expressiva das perspectivas de crescimento e/ou de Inflação.