A inflação baixou em Maio depois de dois meses a subir significativamente, avançou hoje o INE. Miguel Moreira, do Montepio, analisa o indicador, diz esperar uma evolução no resto do ano em linha com os custos salariais, mas avisa que há muita incerteza em torno da evolução esperada dos preços. Paula Carvalho também espera uma descida da inflação homóloga ao longo do ano, previsão que é partilhada por Bárbara Marques do Millennium BCP. O risco de aumento de tributação indirecta (e logo dos preços) no segundo semestre é mencionado várias vezes.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Bárbara Marques – Departamento de Estudos do Millennium BCP
1. A variação homóloga de 3,8% do índice de preços dos consumidor em Maio (variação mensal de -0,1%) poderá constituir o primeiro indício da inversão da trajectória da taxa da inflação homóloga para o resto do ano e que se deverá intensificar a partir de Junho, com a incorporação total dos efeitos do aumento do IVA do ano passado. A nível dos contributos por classes de produtos e serviços não se verificaram alterações significativas.
2. De acordo com as medidas negociadas no âmbito do programa de ajustamento económico e assistência financeira a Portugal, poderão ocorrer alterações na tributação indirecta sobre o consumo até ao final do ano, nomeadamente a revisão das tabelas do IVA e de outros impostos sobre o consumo, com impacto na evolução da inflação estimada. O nosso cenário prevê uma taxa de inflação média anual em 2011 em redor de 3,5%.
Paula Carvalho – Departamento de Estudos do BPI
1. O andamento da inflação tem uma leitura positiva pois o ritmo de evolução dos preços foi mais contido que o normal para esta época do ano. No segundo semestre a base de comparação será mais favorável e será já evidente a trajectória descendente da inflação homóloga. Este ano a taxa média de inflação deverá quedar-se pelos 3.6%, descendo para 1.8% no próximo ano. O que é um bom e mau sinal. Por um lado, traduzirá um alívio no rendimento disponível dos particulares; por outro lado, esta evolução será também o reflexo de uma procura interna mais debilitada.
Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio
1. Inflação registou uma desaceleração, em Maio, de 4.1% (máximo desde Fev-03) para 3.8%, com a classe dos Transportes a evidenciar a maior desaceleração dos preços, reflectindo a própria evolução dos preços da Energia nos mercados internacionais. Esta desaceleração surgiu após duas acelerações consecutivas – em Março e Abril acelerou 0.5 p.p. e 0.1 p.p., respectivamente, depois de, em Janeiro, se ter observado uma aceleração ainda mais intensa (+1.1 p.p.), na altura, recorde-se, reflectindo o considerável agravamento da taxa normal do IVA no início deste ano (de 21% para 23%). Em termos prospectivos, excluindo o impacto do aumento da tributação indirecta (que ainda poderá fazer-se sentir nos próximos meses, atendendo a que parte dos empresários que ainda não reflectiram o agravamento da carga fiscal nos preços junto do Consumidor, o poderão fazer de uma forma progressiva), esperamos que os Preços no Consumidor evoluam em linha com os custos salariais e os preços de importação, não se antevendo alterações substanciais das margens de lucro, após as compressões registadas no passado recente. Note-se, no entanto, que permanecem, ainda, riscos ascendentes para a Inflação, em 2011 e 2012, devido à instabilidade política que ainda persiste nos países produtores de Petróleo, que poderá levar a uma maior subida dos preços dessa matéria-prima, bem como ao facto de na sequência do sismo do Japão, vários países terem vindo a questionar os seus programas de energia nuclear.
2. A taxa de variação homóloga do IPC Core (que exclui a Energia e os Bens Alimentares Não Transformados) foi de 2.5%, bastante inferior à do IPC geral, mas representando uma desaceleração inferior à observada por este último (-0.1 p.p. vs -0.3 p.p.). O diferencial entre a taxa de variação homóloga deste indicador e a do IPC continuou, assim, a assumir um valor negativo, pela 18ª vez (consecutiva) desde Outubro de 2008, mantendo-se a evidenciar que as pressões inflacionistas advêm, essencialmente, dos preços das Commodities. Todavia, e como revelam, igualmente, estes dados, a Inflação Core também não está imune às alterações fiscais observadas no início do ano, as quais, admite-se, ainda poderão fazer-se sentir no decorrer dos próximos meses, atendendo a que parte dos empresários poderá ainda não ter reflectido totalmente o agravamento da carga fiscal nos preços junto do Consumidor, podendo fazê-lo de uma forma progressiva (se não de forma total, pelo menos parcial). O Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) registou um decréscimo mensal de 0.1%, idêntico ao do IPC, tendo a sua variação homóloga desacelerado também o mesmo que o IPC, embora mantendo-se inferior (-0.3 p.p., para 3.7%). O IPCH português apresenta um crescimento homólogo acima do estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (+2.7%), o que acontece pela 11ª vez (consecutiva) desde Agosto de 2007, tendo-se assistido a uma diminuição dessa diferença, de 1.2 p.p. para 1.0 p.p.
3. Em termos prospectivos, excluindo o impacto do aumento da tributação indirecta (que, como referido, ainda poderá fazer-se sentir nos próximos meses), esperamos que os Preços no Consumidor evoluam em linha com os custos salariais e os preços de importação, não se antevendo alterações substanciais das margens de lucro, após as compressões registadas no passado recente. Recorde-se, que o survey de Maio da Comissão Europeia também veio dar conta de uma diminuição das Expectativas de Inflação (próximos 12 meses), embora permanecendo em níveis claramente exagerados. Nas últimas previsões económicas publicadas para o país, no passado dia 25 de Maio, a OCDE veio apontar para uma Taxa de Inflação de 3.3%, para 2011, prevendo, posteriormente, um regresso da mesma para níveis mais modestos (+1.3%, em 2012), reflectindo a persistente fraqueza da Procura Interna e a dissipação dos efeitos de base relativos aos impostos indirectos e aos preços das Commodities energéticas. Esta é, também, a nossa perspectiva, embora consideremos que a desaceleração deva ser menos pronunciada, da mesma forma que o nível alcançado em 2011 poderá ficar acima do agora previsto pela OCDE, apontando-se, antes, para um valor em torno dos 3.5%. Note-se, no entanto, que permanecem, ainda, riscos ascendentes para a Inflação, em 2011 e 2012, devido à instabilidade política que ainda persiste nos países produtores de Petróleo, que poderá levar a uma maior subida dos preços dessa matéria-prima, bem como ao facto de na sequência do sismo do Japão, vários países terem vindo a questionar os seus programas de energia nuclear. Todavia, deverá ter-se em mente que a subida dos Preços poderá ter sido excessiva – como já alertou a própria Agência Internacional de Energia –, sendo que um outro risco descendente prende-se com o abrandamento económico global que se tem vindo a observar nos últimos meses.
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