Pedro Pita Barros: “Que fazer entretanto?”

25/03/2011
Colocado por: massamonetaria

Nota do editor: Pedro Pita Barros, professor na Universidade Nova, e um dos autores do blogue da Sedes, aceitou o convite do massa monetária e, até ao final de Abril, publicará os seus posts também nesta casa.

  

Não é ainda certo, neste momento em que escrevo, que se avance para eleições, embora aparentemente todos assumam que assim é.

 

Confirmando-se, não deixo de secundar uma ideia que ouvi em primeiro lugar de António Barreto na SIC Notícias há dois dias, a de auditar as contas públicas ANTES das eleições, para se conseguir avaliar as propostas.

 

Esta ideia está implícita nas declarações de vários economistas, como Vitor Bento e Jorge Braga de Macedo, e está explícita nos dois editoriais de hoje do Diário Económico e do Jornal de Negócios.

 

Sabendo-se que:

 

a) vão ser precisas novas medidas de austeridade, apesar do chumbo do PEC IV

b) a sucessão de medidas leva a um generalizado desânimo e paralisia – para quê ajustar consumo – no caso das familias – ou investimento – no caso das empresas – se ainda pode haver mais esforço daqui a 4 meses?

c) a confiança na classe política é baixa

 

ter essa auditoria, o conhecimento da situação por todos, e ouvindo as medidas, as eleições servirão para que se dê exprima de forma consciente as escolhas da população.

 

O civismo demonstrado pela população portuguesa nas suas manifestações, quando comparada com a Grécia, não merece o tratamento de menoridade intelectual que seria dado caso sejamos chamados a votar sem conhecer o estado real das contas públicas, e sua evolução previsível nos próximos anos.

 

Não é uma questão de desconfiança face ao actual Governo, apenas reconhecer que sendo este parte interessada, uma vez que não consta que o PS se retire das eleições, todo o exercício terá maior credibilidade se for feito por entidade independente. Aliás, acreditando que as contas apresentadas até agora reflectem o melhor estado de conhecimento que se tem, a auditoria confirmará isso mesmo e até pode reforçar a credibilidade e reputação da actual equipa governamental.

 

E para garantir a qualidade da auditoria, esta deveria ser acompanhada / validada tecnicamente por uma equipa exterior a Portugal. Dado que se gasta dinheiro público nas eleições, retirem-se daí alguns fundos para a realização desse acompanhamento.