Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
As estimativas do INE para o comércio internacional apontam para um agravamento da balança comercial em Dezembro, analisa José Miguel Moreira, do Departamento de Estudos do Montepio. Agostinho Leal Alves do Departamento de Estudos do BPI conclui: “Comércio externo: Estamos no bom caminho!”. E Bárbara Marques, do Millennium BCP destaca, entre outros elementos, a progressiva diversificação de destinos das exportações.
Bárbara Marques, do Gabinete de estudos do Millenium BCP
1. No último trimestre de 2010, as exportações e as importações de bens registaram uma taxa de variação nominal homóloga de 15,8% e 10,3%, respectivamente, representando um agravamento do défice comercial de bens face ao período homólogo. O contributo da procura externa para o PIB do último trimestre, avaliado em volume e em termos homólogos, terá sido bastante inferior ao verificado no segundo trimestre, apesar de parcialmente compensado pela prestação mais positiva da componente dos serviços e dos termos de troca.
2. À semelhança do que ocorreu no final do primeiro semestre, parte do aumento expressivo das importações decorreu de despesa extraordinária em equipamento militar (>450% face ao trimestre homólogo). Excluindo este item, as importações teriam aumentado cerca de 7% no mesmo período (note-se que em termos de evolução do PIB no quarto trimestre este efeito é neutro). A antecipação de consumo ocorrida no último trimestre de 2010 devido ao agravamento da carga fiscal previsto teve impacto sobre as importações de automóveis de passageiros (+15,3% face ao trimestre homólogo). Os combustíveis e lubrificantes também apresentaram um incremento significativo (~20% face ao trimestre homólogo), muito semelhante à evolução do preço do petróleo em idêntico período.
3. Do lado das exportações, há a destacar: (i) a tendência de diversificação das exportações por mercado de destino. O comércio extracomunitário representa cerca de 25% do total das exportações e tem vindo a ganhar importância de forma gradual; e (ii) o contributo dos fornecimentos industriais e do material de transporte, associados à reaceleração do ciclo produtivo mundial e à tendência de recuperação do sector automóvel.
4. Tendo em conta a aceleração registada nas novas encomendas recebidas pelas empresas industriais provenientes do mercado externo (crescimento muito forte no último trimestre de 2010) será provável um forte contributo da procura externa para o crescimento neste primeiro trimestre, reforçado por uma correcção significativa do lado das importações.
Agostinho Leal Alves, do Departamento de Estudos do BPI
1. Os últimos resultados conhecidos relativos ao comércio externo português vieram reforçar a tendência positiva dos últimos trimestres em relação às exportações. Globalmente, no 4º trimestre de 2010, as exportações registaram um aumento de 15.8% e as importações um acréscimo de 10.3%, face ao período homólogo do ano anterior, tendo a taxa de cobertura passado de 61.4% para 64.5%. Esta performance foi resultado de vantagens adquiridas não só no âmbito da União Europeia, com destaque para a Zona Euro, mas também com países terceiros. As taxas de cobertura melhoraram de igual modo no comércio com estas áreas geográficas. Esta situação resultou do aumento do conteúdo tecnológico dos produtos exportados (produtos de baixa tecnologia incorporada perderam peso ao longo da década), mas também do aumento do peso das exportações de serviços. Acresce a avaliação positiva de Portugal no ranking europeu de inovação, tendo conseguido subir mais um degrau na cadeia que compara com os outros países (está agora na 15ª posição dos mais inovadores da Europa a 27). Contudo, não deixou de haver um agravamento do défice total para 5 363.7 mil milhões de euros, correspondendo a uma variação de 1.5%.
2. No comércio extracomunitário, de Outubro a Dezembro de 2010, as exportações aumentaram 17.8% e as importações 16.0%, face ao mesmo período do ano anterior. Neste caso pesou a rubrica dos combustíveis e lubrificantes que levou ao registo de um défice de 962.2 milhões de euros e a uma taxa de cobertura de 71.8%. Se considerarmos o saldo da balança comercial com países terceiros, excluindo este tipo de produtos, alcançou-se um superavit de 240.9 milhões de euros e aqui com uma taxa de cobertura de 112.7%. Registe-se o incremento das trocas comerciais com mercados de rápido crescimento, como EUA, Brasil e México.
3. Em termos do comércio intracomunitário, as tendências saíram reforçadas, com as exportações no período em análise a crescerem 21.0% e as importações 13.9%. Em termos anuais, foi significativa a evolução das trocas com os dois principais parceiros comerciais: as exportações para a Alemanha aumentaram 16%; igualmente para Espanha verificou-se um acréscimo de 13%, apesar da estagnação da economia espanhola.
4. Para o acréscimo do lado das saídas, destacaram-se os aumentos nas categorias de Fornecimentos industriais (+24.4%), essencialmente devido ao maior volume nos Produtos transformados e de Material de transporte e acessórios (+23.5%). Nas entradas, foram importantes os acréscimos dos Combustíveis e lubrificantes (+21.3%) e de Fornecimentos industriais (+13.4%).
José Miguel Moreira, do Departamento de Estudos do Montepio
1. A Balança Comercial de Bens registou, em Dezembro, um Défice de 1.919 milhões de euros (M€), superior ao observado no mês anterior (que foi, ademais, revisto em alta), uma deterioração que resultou de um forte decréscimo das Exportações e de uma subida das Importações (-6.1% vs +1.1%, respectivamente).
2. Note-se, no entanto, que estes dados do Comércio Internacional são bastante afectados pela sazonalidade, sendo que, quando descontados desse efeito (cálculos do Departamento de Estudos do Montepio), evidenciam um agravamento do Défice Comercial ligeiramente menos intenso (+12.0% vs +15.7%, quando não ajustados), e comportamentos das Exportações e das Importações bem mais favoráveis, com acréscimos em ambas, embora ligeiramente mais intensos nas segundas (+8.9% vs +9.9%, respectivamente). Designadamente ao nível das Importações, trata-se de um comportamento que tínhamos antecipado, depois do forte acréscimo das Vendas de Carros observado nesse mês (+43.7%), em antecipação ao agravamento da carga fiscal registado no início do mês de Janeiro.
3. Resultado deste comportamento mensal desfavorável, em termos trimestrais, no 4ºT2010, os dados ajustados de sazonalidade apontam para um ligeiro agravamento do Défice da Balança Comercial de Bens a Preços Correntes, com as Exportações Líquidas de Bens a evidenciarem um contributo (nominal) negativo para o crescimento do PIB do 4ºT2010.
4. Do lado da Balança Comercial de Serviços, o cenário mostra-se mais favorável, mas, à partida, insuficiente para compensar o agravamento observado na Balança de Bens. Com efeito, depois de o registo de Novembro ter vindo revelar um aumento do Excedente (mais do que compensando as diminuições observadas nos dois meses anteriores), os dados de Dezembro sobre a Hotelaria vieram dar conta de uma aceleração do crescimento homólogo do segmento de Não-Residentes, que terá, inclusivamente, se devido a um acréscimo mensal (quando ajustados de sazonalidade), mas bastante inferior à queda observada no mês anterior (+3.4% vs -8.5%).
5. Neste sentido, mantemos a nossa previsão de contributo negativo das Exportações Líquidas (de Bens e de Serviços) para o crescimento do PIB do 4ºT2010, depois de, no 3ºT2010, estas terem tido um papel decisivo no crescimento da economia portuguesa (+0.3%, em cadeia, de acordo com a estimativa final do INE). Reiteramos, igualmente, a nossa perspectiva de uma estagnação trimestral do PIB, no 4ºT2010 – de acordo com a indicação dada, actualmente, pelo nosso Indicador Compósito para o PIB português -, com a economia a dever, assim, ter conseguido evitar a contracção (contra a previsão das principais entidades), embora impulsionada, essencialmente, por um factor extraordinário: a antecipação nas aquisições de Bens Duradouros, atendendo ao agravamento da carga fiscal neste início de ano.
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