Nota editor: João Galamba, do Jugular, aceitou o convite do massa monetária e, até ao final de Fevereiro, publicará os seus posts também nesta casa.
No dia 12 de Janeiro a Comissão Europeia (CE) publicou um documento intitulado Análise Anual do Crescimento: uma resposta global da UE à crise. Trata-se do documento que inicia o chamado Semestre Europeu e que enquadra um novo ciclo coordenação das políticas económicas ao nível europeu. As notícias não são boas. Estamos perante um típico exemplo daquilo que Paul Krugman designou de Idade das Trevas da Macroeconomia.
Centremo-nos no problema do desemprego. A CE reconhece que o aumento exponencial do desemprego em toda a Europa é uma das consequência mais preocupantes da crise. Mas opta por olhar para este flagelo como se se tratasse de um fenómeno estritamente microeconómico, e propõe – como tem proposto sempre – 'reformas do mercado laboral para alcançar taxas de emprego mais elevadas'. Pouco importa que o desemprego tenha aumentado em quase todo o lado e que países com mercados de trabalho considerados flexíveis, como os EUA, Reino Unido e Irlanda tenham hoje taxas de desemprego recorde.
Para a CE o desemprego só pode dever-se ao mau funcionamento do mercado de trabalho. Como manda a ortodoxia, todos os problemas económicos são problemas de oferta. É preciso melhorar as perspectivas de empregabilidade de cada trabalhador, reduzindo custos e requalificando competências. A CE nunca coloca a possiblidade de haver menos empregos, ou seja de estarmos perante um problema de procura e não de oferta. Na cabeça ideologicamente formatada destas luminárias esta possibilidade é uma impossibilidade teórica. A CE comporta-se como o bêbedo da anedota, que procura as chaves por baixo do candeeiro da rua, não porque as tenha perdido naquele sítio, mas porque é ali que está a luz.
Durão Barroso disse que o novo pacote de governação económica resultava de um processo de aprendizagem. Se dúvidas houvesse, este relátório é mais uma prova de que não se aprendeu nada. Para a CE, o último evento com significado económico parece ter sido a queda do muro de Berlim, e nada do que aconteceu nos últimos anos tem qualquer relevância para a escolha e definição de políticas económicas. A solução para uma economia de sucesso continua a mesma de sempre: consolidação orçamental e reforço da competitividade. Marx tinha razão: a história repete-se, primeiro como tragédia, depois como farsa.
João Galamba, Jugular
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