Menos 230 mil empregos num ano

09/05/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

A taxa de desemprego aumentou para os 17,7% no primeiro trimestre. A taxa de desemprego medida pelo INE atinge um novo recorde, puxada pela destruição de 4,9% dos empregos na economia no último ano, escreve Filipe Garcia, da IMF. O número de empregos na economia está agora nos 4,43 milhões, menos 230 mil que há um ano. José Miguel Moreira, do Montepio, considera que estes dados revelam “um mercado bastante deteriorado, constituindo um dos principais constrangimentos para a economia portuguesa”. E Paula Carvalho, do BPI, considera que há “tendências preocupantes”, nomeadamente o aumento do desemprego de longa duração e entre os menos qualificados e também a destruição de emprego na indústria transformadora. 

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.   

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudos do BPI

 

1. A informação relativa ao mercado de trabalho em Portugal, nos primeiros três meses do ano pontua novamente pela negativa.

 

2. Há várias tendências que suscitam alguma inquietação, entre as quais destacaria:

 

– O aumento em 35% em termos homólogos do desemprego de longa duração (indivíduos que procuram trabalho há mais de 1 ano), que abrange quase 60% dos desempregados (560 mil pessoas).

 

– O aumento do desemprego (+16.1%) afectou maioritariamente indivíduos com qualificação até ao terceiro ciclo (9º ano); o contributo para o aumento do desemprego é superior a 50%.

 

– O volume de emprego sofreu uma queda de 4.9% face ao período homólogo, menos 229 300 postos de trabalho. Desta queda, cerca de 27% (61 600 empregos) fica a dever-se ao sector da indústria transformadora, actividade tipicamente transaccionável.

 

3. As duas primeiras tendências referidas preocupam porque sinalizam falta de capacidade de ajustamento da população activa às necessidades dos empregadores, confirmando que a falta de qualificação é de facto um elemento de vulnerabilidade no posicionamento do indivíduo no mercado de trabalho. Comprovando esta apreciação, salienta-se o aumento do emprego de indivíduos qualificação superior.

 

4. O terceiro factor mencionado sinaliza que a economia não está ainda visivelmente a ajustar no sentido de reforçar o peso do sector transaccionável, embora o sector industrial não seja o único com estas características.

 

5. Por fim uma nota positiva. Não obstante o enorme aumento da taxa de desemprego, os dados agora divulgados enquadram-se nas nossas previsões e sobretudo sinalizam algum desagravamento da tendência de aumento do desemprego. Ou seja, o número de desempregados continua a aumentar, ainda na casa dos dois dígitos, mas há algum alívio, o que poderá indiciar que estamos mais próximos de uma tendência de estabilização, ainda que esta não se perspective tão cedo.

 

6. Acresce referir que, atendendo às perspectivas que actualmente se colocam quanto ao enquadramento global e doméstico, e à possibilidade de aprofundamento da recessão para além dos níveis actualmente esperados, os riscos são ainda de agravamento do cenário no mercado de trabalho.

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. Taxa de desemprego voltou a subir para 17.7%, renovando níveis máximos históricos, prevendo-se que se continue a agravar nos próximos trimestres e com o pico trimestral máximo (acima de 18%) a dever ser atingido somente entre o final deste ano e o início de 2014.

 

2. O resultado que traduz um novo forte agravamento face aos 16.9% observados no trimestre anterior, apenas ligeiramente superior ao que perspetivávamos (17.6%), representando um valor 2.8 p.p. superior ao observado no trimestre homólogo de 2012 e o nível mais elevado da atual e da anterior série histórica.

 

3. Quer a subida trimestral, quer a subida homóloga da taxa de desemprego resultaram de aumentos do desemprego e de quedas do emprego. Considerando os dados ajustados de sazonalidade (cálculos do Departamento de Estudos do Montepio), a taxa de desemprego no 1ºT2013 é de 17.5% (16.8% no 4ºT2012), representado o nível mais elevado desde, pelo menos, o 1ºT1977 (considerando os dados ajustados de sazonalidade das séries trimestrais do Banco de Portugal).

 

4. Refira-se que esta taxa de desemprego ajustada de sazonalidade no 1ºT2013 está em linha com a média das estimativas mensais avançadas pelo Eurostat ao longo do trimestre, não devendo implicar (ao contrário do que tem sido é habitual) qualquer revisão da série do Eurostat que afete o nível médio trimestral.

 

5.  Estes dados persistem assim a revelar um mercado bastante deteriorado, constituindo um dos principais constrangimentos para a economia portuguesa, devendo continuar a agravar-se, ademais que este ano de 2013 será particularmente difícil, tendo em consideração o conjunto de medidas de ajustamento com que a economia se está a confrontar.

 

6. De resto, em termos prospectivos, e reflectindo designadamente o agravamento do desemprego ligeiramente superior ao esperado no 1ºT2013, revimos em alta a nossa previsão de taxa de desemprego para 2013, apontando-se agora para um valor mais próximo dos 18.0%, devendo o pico trimestral máximo ser atingido somente entre o final deste ano e o início de 2014.

 

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. O desemprego continua a subir, reflexo do ciclo recessivo ainda em curso. A trajectória permanece clara e sem sinais de inversão, com a economia incapaz de gerar emprego.

 

2. Há várias dinâmicas que têm dificultado a criação de emprego, mesmo em economias em crescimento, pelo que uma economia em recessão fica ainda mais vulnerável ao aumento do desemprego. 

 

3. Como sempre, parece-nos tão ou mais relevante analisar os números do emprego do que da taxa de desemprego. E, mais uma vez, o número de empregos na economia voltou a diminuir, desta vez 4.9% em termos homólogos e 2.2% em termos trimestrais, o que é verdadeiramente preocupante. A população activa continua também a diminuir. Portanto, não há nada de bom neste relatório do emprego.

 

4. O fluxo migratório não é um fenómeno marginal e há já muitos portugueses que não se inscrevem nos centros de emprego – e por isso a taxa de desemprego não é ainda mais alta. 

 

5. Importa relembrar que a criação de emprego é uma variável que sofre de desfasamento em relação ao ciclo económico. Ou seja, é de esperar que a situação apenas mostre melhorias algum tempo após o produto crescer ou, pelo menos estabilizar. Dado que os indicadores relativos ao PIB continuam a deteriorar-se, a inversão da tendência no desemprego continua “adiada”.

Rui Peres Jorge