Aumento de preços abranda pelo segundo mês

13/11/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

Inflação baixou Outubro travada pelos combustíveis. Miguel Moreira do Montepio espera que o ritmo de abrandamento do aumento de preços continue para lá de 2012, apontando para uma inflação na casa dos 1% no próximo ano. Este é o limite inferior da expectativa de Filipe Garcia da Informação de Mercados Financeiros. Este ano a inflação deverá ficar o aumento homólogo de preços deverá ficar ligeiramente abaixo de 3%.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A inflação, medida pela variação homóloga do IPC, diminuiu em outubro de 2.9% para 2.1%, um mínimo desde setembro de 2010, confirmando assim a retoma no mês anterior da tendência descendente evidenciada desde novembro de 2011, depois de em julho e agosto ter acelerado. Para esta desaceleração homóloga do IPC contribuíram essencialmente as classes de habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis e de transportes, que não obstante continuarem a evidenciar os maiores contributos positivos, observaram as maiores diminuições dos respetivos contributos (-0.7 p.p. e -0.1 p.p., respetivamente).

 

2. Este comportamento homólogo do IPC esteve associado a um crescimento mensal de 0.3%, 0.8 p.p. inferior ao observado no mês homólogo do ano anterior. De referir que IHPC português, que também desacelerou 0.8 p.p., para 2.1%, passou a apresentar um crescimento homólogo abaixo do estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (que terá diminuído de +2.6% para +2.5%), o que acontece pela primeira vez desde junho de 2010, com essa diferença a situar-se em -0.4 p.p. (+0.3 p.p. no mês anterior).

 

3. Em termos prospetivos, continuamos a considerar que as atuais pressões inflacionistas assumem um carácter largamente temporário, mas que deverão permanecer elevadas no corrente ano. Com efeito, a inflação no país (medida pela variação homóloga do IHPC) deverá abrandar dos 3.6% observados no ano passado para 2.8% em 2012, continuando ainda acima da média da Zona Euro, refletindo, essencialmente, o impacto de alterações da tributação indireta e de preços condicionados por procedimentos de natureza administrativa em 2011 e 2012, no contexto das medidas de consolidação orçamental incluídas no programa de ajustamento económico e financeiro (PAEF) acordado com a troika. Entre as medidas orçamentais adotadas com elevado impacto no comportamento da inflação em 2012 constam a reclassificação das taxas de IVA aplicadas a alguns bens e serviços no início do ano, bem como o aumento de preços fixados administrativamente e de alguns impostos específicos sobre o consumo.

 

4. A dissipação desses efeitos ao longo do próximo ano, em conjugação com uma descida do preço do petróleo, uma significativa desaceleração do deflator das importações, a manutenção de uma forte moderação salarial – refletindo a intensa recessão económica que o país atravessa (apontamos para uma queda anual de 2.8% do PIB em 2012 e de 2.0% em 2013), bem como as novas medidas de austeridade já anunciadas –, e a continuação da deterioração do mercado laboral, deverão traduzir-se num regresso da inflação mais modestos em 2013, em torno de 1%.

 

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros 

 

1. Outubro é tradicionalmente um mês de subida dos preços, o que voltou a suceder. A introdução das novas colecções de vestuário e calçado é normalmente responsável por aumentos de preços em Setembro e Outubro, o que voltou a acontecer este ano.

 

2. O grande destaque vai para a queda, esperada, da inflação homóloga. Em Outubro de 2011 a inflação tinha sido de mais de 1% no mês, reflexo de uma subida pronunciada nos preços da electricidade (0.6 pontos percentuais). Como este ano isso não se verificou, a inflação homóloga já não sofre a influência desse factor extraordinário.

 

3. Para o resto do ano prevemos uma descida da taxa homóloga, com a inflação média a ficar ligeiramente abaixo dos 3%, provavelmente nos 2.9%.

 

4. O comportamento do preço dos combustíveis continua a constituir o principal factor de risco quanto à inflação. Apesar de as dinâmicas macroeconómicas do país sugerirem queda nos preços, a dependência energética do país e a influência de outros preços internacionais (como os da alimentação) pode impedir a queda mais pronunciada da da inflação.

 

5. Esperamos que em 2013 os preços apresentem uma evolução ainda mais moderada, mas é discutível que possam vir a concretizar-se as previsões do FMI, OCDE e BdP, que apontam para valores entre +0.7% e 1%. A trajectória de queda da inflação continuará a ser sobretudo condicionada pelos preços relacionados com a energia, combustíveis, transportes e alimentação, que constituem o risco em alta.

Rui Peres Jorge