2012, segundo Pedro Bação, Emanuel Reis Leão e Nuno de Sousa Pereira

04/01/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

  

Na primeira semana de Janeiro o massa monetária publica as perspectivas para 2012 de mais uma dezena de economistas e especialistas em áreas económicas e financeiras. Tratam-se dos comentários que incluíram nas respostas ao inquérito anual que o Negócios lançou mais uma vez, e com o qual procurou perspectivar o que poderá vir a ser o ano que agora tem início. 

 

Poderá ler no blogue do Negócios as opiniões de Octávio Teixeira, Bagão Félix, Pedro Lains, Miguel Frasquilho, Sandro Mendonça, Pedro Bação, Emanuel Reis Leão, Pedro Cassiano Santos, Miguel St. Aubyn, Cristina Casalinho, Pedro Rodrigues, Mariana Abrantes de Sousa e Nuno de Sousa Pereira.

 

Hoje, Pedro Bação (Universidade de Coimbra) não esconde preocupação e não exclui um desmembramento da Zona Euro, considerando que no curto prazo o melhor resultado para Portugal seria cumprir o plano da troika e assim conseguir “negociar um prazo mais alargado para reduzir o défice público, o que implicaria um aumento do valor do empréstimo”. Emanuel Reis Leão (ISCTE) coloca a tónica nos planos de refinanciamento europeus: são “o factor decisivo” diz. Finalmente Nuno de Sousa Pereira (EGP) avisa que as dificuldades do ano exigem “lideranças fortes e capazes de apresentarem projectos mobilizadores”.   

 

 

Pedro Bação, professor na Universidade de Coimbra: “Para fazer previsões fiáveis acerca do euro, seria necessário estar na cabeça da Sra. Merkel”

 

Perante a hipótese de o euro acabar, quase nem vale a pena falar de mais nada. Pior do que isso, só uma guerra. Se o euro acabar, todas as coisas más irão acontecer: desemprego, inflação, instabilidade financeira e social, além doutras não incluídas na lista. Se o euro não acabar, continua a ser provável que essas coisas más aconteçam (excepto talvez a inflação), embora com menor intensidade.

 

O fim do euro acaba por ser o risco com menor probabilidade de ocorrência. No caso português, mesmo que consigamos estar em vias de cumprir o plano acordado com a troika, é possível que o euro acabe, pelo que coloco o risco de violar o plano da troika em último lugar. Dada a nossa dependência do exterior, a prioridade do governo deve ser cumprir o plano da troika. Assumido e demonstrado esse compromisso, seria bom, se as circunstâncias forem propícias, conseguir negociar um prazo mais alargado para reduzir o défice público, o que implicaria um aumento do valor do empréstimo.

 

Se as perspectivas para as economias desenvolvidas fossem de crescimento a bom ritmo, as perspectivas para a Zona Euro seriam menos desanimadoras. Como isso não acontece, creio que o futuro da Zona Euro depende em primeiro lugar da importância que a Alemanha e a França derem uma à outra. Estou convencido de que também a França irá ter dificuldades de financiamento, independentemente do que acontecer na cimeira nos dias 8 e 9 de Dezembro.

 

Se a Alemanha quiser continuar a ter a França como parceira no projecto europeu, terá de propor um novo acordo europeu com menos perda de soberania orçamental para os países devedores do que aquele que gostaria de propor/impor aos países periféricos, uma vez que a França só aceitará um acordo leonino contra si se valorizar mais a companhia da Alemanha do que a soberania orçamental, o que não é certo. Admitindo que a França não aceitará uma perda tão grande de soberania, se a Alemanha não estiver disposta a dar mais margem de manobra ao BCE para salvar a França sem obter um controlo tão grande quanto gostaria sobre os orçamentos dos países deficitários, o euro poderá acabar de forma descontrolada nos próximos meses.

 

Se a França resistir às dúvidas dos mercados financeiros, ou se aceitar as ideias da Alemanha (à data em que escrevo, são essas as notícias do dia), é possível que se junte à Alemanha na proposta de continuar o financiamento da troika aos países em dificuldades, talvez em condições um pouco menos exigentes do que as actuais, em troca de perda substancial de soberania no campo orçamental. Os elementos essenciais deste acordo para a Alemanha serão simultaneamente os elementos inaceitáveis para os outros países, pelo que um acordo definitivo será difícil.

 

Mesmo assim, é possível que estas negociações façam o euro durar mais algum tempo, talvez mesmo alguns anos, certamente com maior integração orçamental (real ou aparente) em troca de financiamentos da troika. Contudo, penso que, mesmo nesta via, é bem possível (excepto se os países em dificuldades conseguirem reorientar rapidamente as suas economias para a exportação) que acabe por se processar uma saída da Zona Euro a la João Ferreira do Amaral. Os países do centro e do norte da Europa tentarão estabelecer um plano de desmantelamento da Zona Euro tão ordeiro quanto for possível. Como os países da periferia sofrerão danos violentíssimos com a saída do euro, os países do centro e do norte irão oferecer um “subsídio de desintegração” que, nomeadamente, evite a falência completa do sector financeiro nos países da periferia e garanta também que estes países continuarão, nos primeiros meses após a saída do euro, a ter moeda forte para pagarem as importações de bens essenciais, como o petróleo e bens alimentares. Perante a perspectiva de um futuro sombrio dentro da Zona Euro (austeridade, instabilidade social, ameaça de incumprimento) e de convivência institucional com países que não desejam a sua companhia, os países periféricos acabarão por ter de aceitar. Não sei quais poderão ser os pormenores de tal plano. Se realmente funcionar de forma razoavelmente ordeira, o responsável por esse plano merecerá simultaneamente os prémios Nobel da economia e da paz.

 

Se o euro durar até que haja eleições gerais na Alemanha, ainda pode haver a esperança de que um novo governo alemão dê mais valor à unidade europeia (a Sul) do que o actual parece dar. Mas, ao mesmo tempo, quanto mais tempo a situação se arrastar, mais eleições haverá em que partidos radicais poderão ganhar peso político em vários países, uns excedentários, outros deficitários, tornando ainda mais difícil um futuro comum. Não podemos ignorar que, a cada dia de crise que passa, o processo de construção da Europa sofre danos que serão irreparáveis enquanto a actual geração de europeus estiver activa.

 

Ainda há outra situação a considerar. Se realmente a Alemanha também passar a ser vista com desconfiança pelos investidores, isso tanto poderá fazer com que os alemães percebam que o problema não é só da periferia e finalmente chamem o BCE como prestamista em última instância, como poderá fazer com que os alemães sintam que estão a ser prejudicados por andarem com más companhias e apressem os planos para acabar com o euro.

 

Perante este quadro, a única conclusão possível a respeito de 2012 é que as incertezas são enormes. Para fazer previsões fiáveis acerca do euro, seria necessário estar na cabeça da Sra. Merkel e dos que a influenciam. Porque, ao que parece, é aí que tudo se irá decidir.

 

 

Emanuel Reis Leão, professor do ISCTE: “Conseguir ou não fazer rolar a dívida pública dos países da Zona Euro é o factor decisivo”

 

Tudo depende das medidas que forem tomadas para controlar os problemas da Zona Euro e da forma como estas medidas forem recebidas pelos mercados.
Isto porque conseguir ou não fazer rolar a dívida pública dos países da Zona Euro – que em muitos casos é uma autêntica  montanha de dívida –  é o factor decisivo para saber se vamos ter mais ou menos instabilidade financeira e instituições financeiras mais ou menos capazes de financiar a economia.

 

Nuno de Sousa Pereira, professor e dean na EGP-UPBS: “Suspeito que o “manifestante” será ainda mais activo em 2012″

 

2012 será um ano de forte instabilidade social e incerteza. Se o “manifestante” já foi a personalidade do ano em 2011, suspeito que será ainda mais activo em 2012.

 

A degradação da situação económica e a diminuição da coesão social conduzirão a situações de conflito permanentes, no interior das organizações e na sociedade. Serão, por isso, necessárias lideranças fortes e capazes de apresentarem projectos mobilizadores. Teremos também o reforço da transferência de riqueza das economias desenvolvidas para as economias emergentes e o reaparecimento de tendências proteccionistas como reacção à recessão e aos desequilíbrios macroeconómicos.

 

O aspecto positivo é que será uma  oportunidade única para um profunda reestruturação de competências e de posicionamento, em que cada empresa e cada indivíduo terá de desenvolver a sua própria estratégia de diferenciação e nicho de mercado que o tornem indispensável.

Rui Peres Jorge