Austeridade e inflação andam juntas em Portugal

11/11/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

A inflação disparou este mês com aumento dos preços de energia e gás. Bárbara Marques, do Millennium bcp, explica que electricidade e gás, mas também os medicamentos, contribuem para a inflação homóloga de 4,2% Outubro e evidencia que este valor poderá implicar que a taxa média de inflação de 2011 fique acima dos 3,5%. Para 2012 o aumento de preços poderá ser mais brando, mas não muito: é que os aumentos de impostos indirectos e de outras taxas deverão ditar um aumento de preços novamente significativo.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

 

Bárbara Marques – Gabinete de Estudos do Millennium bcp

 

1. Em Outubro, o Índice de Preços do Consumidor (IPC) aumentou 4,2% face ao período homólogo (1,1% em termos mensais), valor muito superior à inflação estimada para a área do euro (3,0% de t.v.h.).

2. Esta evolução resulta, essencialmente, da alteração da  taxa de IVA sobre a electricidade e o gás (aumento mensal de 5,97% do índice de preços da sua classe de produtos). Outros contributos significativos no sentido ascendente ocorreram nos preços dos medicamentos (+ 1,4% no mês) e da educação (+1,57%), embora, neste último caso, abaixo da nossa expectativa. Com um contributo menos significativo para o índice geral, os preços dos bens alimentares também subiram (0,5%), o que poderá traduzir algum efeito das condições climatéricas atípicas que se fizeram sentir no mês passado sobre o preço dos produtos frescos. No sentido descendente, registaram-se descidas significativas dos preços dos transportes (-0,27%) e dos serviços de restauração e hotelaria (-0,1%), o que se associa à descida dos preços dos combustíveis. A quebra dos preços da classe de bens e serviços de lazer pelo segundo mês consecutivo (-0,4%) indicia maior selectividade na realização de despesa, em face do contexto adverso para o rendimento disponível das famílias.

3. Até ao final do ano é esperada uma moderação da subida de preços por via da crescente debilidade da procura interna e da quebra na actividade económica. Contudo, a evolução deste mês aumenta o risco de o valor médio de inflação em 2011 ser superior a 3,5%.

4. Para 2012, a proposta do OE2012 poderá contribuir para a sustentação de uma taxa de inflação elevada, por motivos tributários e  outros efeitos indirectos no preço dos serviços públicos, decorrentes da revisão das tabelas do IVA, da tributação especial sobre o consumo, e da racionalização dos recursos e da despesa imposta aos diversos serviços públicos (e.g. saúde, educação, transportes).

 

Rui Peres Jorge