Bancos emprestam mais a empresas suas

07/06/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

O Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal divulgado hoje avisa os bancos para os tempos dificeis que aí vêem, recomendando-lhes, entre outras coisas, a venda de activos não estratégicos que não ponham em causa a sua rendibilidade (nomeadamente os activos no estrangeiro) e o aumento da captação de depósitos. O BdP afirma também a importância para o ajustamento da economia portuguesa da desalavancagem dos sectores financeiro e privado, tal como temos evidenciado. Mas o relatório oferece ainda (e pelo menos) dois outros contributos de reflexão, sob a forma de artigos académicos. Segue-se um deles.

 

Obter crédito junto da banca não é fácil. Mas torna-se mais fácil se o banco tiver participação na estrutura accionista da empresa, conclui um estudo publicado hoje no Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal.

 

Em “O ACESSO AO CRÉDITO BANCÁRIO QUANDO OS BANCOS SÃO ACIONISTAS DAS EMPRESAS: EVIDÊNCIA PARA PORTUGAL”, Paula Antão Miguel A. Ferreira Ana Lacerda escrevem que: “Um banco com informação privilegiada é suscetível de ser o principal credor da empresa, o que pode gerar benefícios para a empresa em termos de disponibilidade de crédito, mas também pode limitar o seu recurso a outros bancos”.

 

Eis as conclusões e as explicações tal como escritas pelos autores:

 

Usando uma amostra de empresas portuguesas, cotadas e não cotadas em bolsa, conclui-se que a existência de uma participação no capital da empresa, por parte de um banco, aumenta significativamente, tanto estatística quanto economicamente, a probabilidade desse banco conceder empréstimos a essa empresa no futuro.

 

Especificamente:

 

a participação de um banco no capital de uma empresa aumenta em 10 pontos percentuais a probabilidade de lhe conceder um empréstimo, face a um banco sem participação no capital.

 

O resultado, dizem, vai ao encontro da teoria financeira:

A teoria financeira sugere que a participação de um banco no capital de uma empresa não financeira contribui para aumentar a probabilidade desse banco conceder um empréstimo a essa empresa, na medida em que permite atenuar assimetrias de informação e custos de agência da dívida.

 

Embora faça pensar sobre se as consequências são eficientes para o mercado como um todo. Isto porque:

O efeito é menor quando a empresa tem relações comerciais com um maior número de grupos bancários e quando o seu capital se encontra disperso por um maior número de grupos bancários. Os nossos resultados sugerem, desta forma, que a existência de participações no capital das empresas tem impacto no mercado de crédito bancário.

 

Isto é:

 

Um banco com informação privilegiada é suscetível de ser o principal credor da empresa, o que pode gerar benefícios para a empresa em termos de disponibilidade de crédito, mas também pode limitar o seu recurso a outros bancos.

Rui Peres Jorge