Empresas: quanto mais endividadas, mais caloteiras na falência

07/06/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

O Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal divulgado hoje avisa os bancos para os tempos dificeis que aí vêem, recomendando-lhes, entre outras coisas, a venda de activos não estratégicos que não ponham em causa a sua rendibilidade (nomeadamente os activos no estrangeiro) e o aumento da captação de depósitos. O BdP afirma também a importância para o ajustamento da economia portuguesa da desalavancagem dos sectores financeiro e privado, tal como temos evidenciado. Mas o relatório oferece ainda (e pelo menos) dois outros contributos de reflexão, sob a forma de artigos académicos. Especialmente para os bancos. Segue-se um deles.

 

As falências não são todas iguais. Se for efectivamente uma falência, os credores, nomeadamente os bancos, podem sofrer muito. Já se a empresa conseguir fechar a actividade de forma controlada, pagando as suas dívidas, esse impacto na economia será reduzido. Num artigo titulado “DÍVIDA E EXTINÇÃO DAS EMPRESAS” incluido no relatório a tripla José Mata, Pedro Portugal e António Antunes conclui que o nível de endividamento é uma variável central na definição do tipo de saída do mercado. Quanto mais endividadas, mas caloteiras na falência, avisam.

 

Eis a questão como colocada pelos autores:

 

O final da atividade de uma empresa por via da falência pode ser traumático para os seus credores. Por outro lado, uma empresa que saia de atividade liquidando voluntariamente as suas dívidas raramente representará um problema económico importante.

A investigação:

 

Neste artigo procuramos validar os resultados teóricos que mostram, em geral, que um maior nível de endividamento tende a aumentar a probabilidade de saída com falência e a reduzir a probabilidade de liquidação voluntária.

 

O resultado:

 

Usando dados da central de responsabilidades de crédito e dos Quadros de Pessoal, mostramos que, tudo o resto igual, uma empresa com o dobro da dívida de outra tem uma probabilidade anual de saída por falência 25 por cento maior, enquanto que para a saída por liquidação voluntária a probabilidade cai 5 por cento.

E a conclusão:

 

Estes resultados têm implicações evidentes no apreçamento dos empréstimos a empresas não financeiras endividadas, visto que maiores probabilidades de saída implicam maiores spreads no crédito.

 

Ah, e já agora: a regra de quanto mais endividado, mais caloteiro também se aplica aos países, avisam os economistas:

 

Talvez os resultados deste trabalho possam emprestar suporte à noção de que, ao contrário daquilo que uma economia sem fricções deveria exibir, numa economia com problemas de agência e de assimetria de informação – entre outras fricções – a probabilidade de extinção de uma empresa, e em especial de extinção por um processo traumático de falência, depende consideravelmente do nível de endividamento. Esse acréscimo de risco é, como não podia deixar de ser, refletido na taxa de juro cobrada: empresas mais endividadas, na presença de fricções financeiras, enfrentam taxas de juro mais altas. Esta é uma realidade com que não poucas vezes os agentes económicos endividados, ou até os países, são dolorosamente confrontados.

 

 

   

Rui Peres Jorge