Nota do editor: Miguel Morgado, de “O Cachimbo de Magritte”, aceitou o convite do massa monetária e, até ao final de Fevereiro, publicará os seus posts também nesta casa.
A jóia da coroa do regime chama-se Código Contributivo. Quem tenha uma vaga ideia de que o País é mais do que os funcionários públicos, os gestores públicos e privados de grandes empresas, quem sabe o que é a vida do exército de gente que depende de recibos verdes, decerto já percebeu que uma (nova) bota está a esmagar a já desgraçada economia portuguesa. Quem sabe o que é a vida dos micro-empresários, uma vida de tormento constante, em que o trabalho nunca se cala, nem à hora das refeições, nem durante o sono, que vêem os clientes fugir (falir) ou a deixar de pagar, o IVA por cobrar, que sentem a cadência inexorável dos “pagamentos especiais”, que sentem a responsabilidade pesada dos empregados para cujos salários o dinheiro já vai escasseando; quem sabe que no lado de cá da realidade, separada dos sucessos do regime nas “energias renováveis”, nos “magalhães”, nas OI e nas VIVO, a economia portuguesa é feita desta gente, percebe rapidamente aonde este peso fiscal nos vai conduzir. E assim será até que alguém com poder diga que não podemos continuar assim. Até que alguém com poder se dane para o discurso da “responsabilidade”. Até que alguém prescinda das eternas acomodações que se têm de fazer neste País a todo o tipo de estranhas susceptibilidades e fale do povo, pelo povo, para o povo.
Miguel Morgado, O Cachimbo de Magritte
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