Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Os respostas ao inquérito de conjuntura ao investimento divulgadas ontem pelo INE apontam para mais um ano de contracção do investimento em Portugal. Nada que surpreenda, analisa Bárbara Marques – Gabinete de Estudos Millennium BCP.
Bárbara Marques – Gabinete de Estudos Millennium BCP
1. As respostas ao Inquérito de Conjuntura ao Investimento divulgadas hoje pelo INE apresentam uma redução do investimento empresarial em 2010 de 4,6%, face à estimativa preliminar de um incremento de 5,6%. Para 2011 perspectiva-se nova contracção na despesa de investimento, pese embora menos acentuada do que no ano anterior. A alteração ocorrida em 2010 terá decorrido da volatilidade da conjuntura económica ao longo do ano e do agravamento das condições de financiamento a partir do segundo semestre, que se consubstanciaram num contexto de grande incerteza para as empresas.
2. A evolução do investimento em 2011 estará fortemente condicionada pelas expectativas de vendas, a incerteza na rendibilidade dos projectos e a capacidade de autofinanciamento das empresas. Deste modo, será provável que os projectos de investimento privilegiem a reposição de equipamento e racionalização de processos produtivos, ao invés de aumento da capacidade instalada com efeito no emprego.Os valores reportados no inquérito, quer para 2010 quer para 2011, apresentam-se consistentes com a generalidade das projecções económicas para o presente ano e que incorporam uma redução na despesa de investimento pelo que não deverão constituir motivo de revisões pronunciadas das estimativas .
3. Ao nível sectorial, observa-se uma contracção das perspectivas de investimento nos sectores com maior exposição à procura interna, designadamente, o sector da Restauração e Hotelaria (-31,7%), Comércio por Grosso e a Retalho (-14.9%) e o sector da Construção, compreensível dada a cnojuntura esperada mais adversa nestes segmentos . O forte acréscimo registado nas intenções de investimento no sector imobiliário (49,0%), poderá constituir uma situação atípica, relacionada com projectos de elevado valor e com participação de fundos comunitários, eventualmente associados a reabilitação urbana , conforme sugerem os indicadores de dispersão da despesa de investimento e das fontes de financiamento. Na Indústria Transformadora também deverá ocorrer uma redução da despesa de investimento de 5,8%, mas com comportamentos distintos em função da natureza da actividade. Assim, os contributos positivos resultam da Produção de Equipamentos Informáticos e Produtos Ópticos; da Produção de Equipamento Eléctrico e da Produção de Artigos de Borracha e Matérias Plásticas. A descida mais expressiva ocorre na Indústria Automóvel e Outro Equipamento de Transporte, apesar das perspectivas para o sector se apresentarem favoráveis, indicativo de capacidade produtiva ajustada às perspectivas de produção.
4. A alteração nas condições de financiamento dirigidas à economia portuguesa reflecte-se no aumento significativo da componente de autofinanciamento, mais substancial nas Indústrias Extractivas e na Construção. Segundo o critério da dimensão, a retracção mais pronunciada nas intenções de investimento verifica-se ao nível das PMEs, eventualmente denotando a conjugação de uma maior dependência de capitais alheios, sensibilidade à evolução da procura interna e incerteza do contexto económico.
- Carlos Costa e o colapso do BES. Negligente ou injustiçado? - 23/03/2017
- Os desequilíbrios excessivos que podem tramar Portugal - 21/03/2017
- A década perdida portuguesa em sete gráficos - 15/12/2016