Uma economia em estado de choque
Economia terá contraído 3,2% em 2012, revelou o INE.
Este é o resultado de um último trimestre do ano muito negativo que
desapontou a maioria das previsões. Rui Bernardes Serra, do Montepio,
salienta que foi mesmo o pior trimestre desde o início de 2009, “quando a
economia mundial se encontrava em plena Grande Recessão” e diz que a
contracção do PIB em 2013 deverá ficar entre os 2% e os 2,5%. O
resultado do trimestre é tão mau que a equipa de economistas do NECEP,
da Universidade Católica, admite que possam existir factores
excepcionais com grande impacto nos resultados, como o ajustamento aos
anúncios de austeridade do Governo. É o nono trimestre de recessão,
vincam. Ricardo Santos, do BPN Paribas (em inglês), refere um “choque de
confiança” e aponta para uma recessão de 2,7% em 2013.
Nota
do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do
Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos
gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP
(Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições
menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios
trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Desemprego a caminho dos 17% a 17,5%
O desemprego atinge quase um milhão de portugueses, atingindo os 16,9% da população activa. Paula Carvalho, do BPI, classifica os dados como “preocupantes” e diz que “mercado de trabalho ainda distante do ponto de inversão”, apontando para uma previsão de taxa de desemprego “em torno dos 17%”. José Miguel Moreira, do Montepio, salienta que a deterioração do mercado de trabalho é superior ao que esperava, e aponta para um taxa de desemprego “em torno dos 17,5%”. As empresas estão a tentar “adequar as suas estruturas laborais num contexto de menor procura, com o objectivo de assegurar a sua sobrevivência”, escreve Filipe Garcia, da IMF.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Tentando perceber a reestruturação irlandesa
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A Irlanda reestruturou cerca de metade da dívida que contraiu durante
a crise para fazer face aos problemas no seu sistema financeiro. A
operação, anunciada no final da semana passada, é um marco na história
da crise do país, mas também da Zona Euro: um sinal de flexibilização e
negociação dentro da Zona Euro que merece ser analisado com detalhe.
Alguns elementos centrais:
– A Irlanda troca 28 mil milhões de euros das agora famosas “notas
promissórias” que emitiu no pico da crise para salvar os seus bancos por
obrigações do Tesouro irlandês.
– A taxa de juro
poderá ser um pouco mais baixa, mas a grande alteração está na
maturidade. As primeiras, com uma maturidade de 7 a 8 anos, obrigavam o
Estado a pagar 3,1 mil milhões de euros ao ano nesse período. As
segundas têm uma maturidade média de 34 anos, e adiam a primeira
amortização para daqui a 27 anos, aliviando a pressão no regresso aos
mercados de um país com um “stock” de dívida acima dos 120% do PIB.
– O negócio, que envolve essencialmente o Governo e o banco central
irlandês, mas conta com a anuência do BCE, poderá configurar
financiamento monetário (isto é empréstimos do banco central ao Estado),
o que está proibido pelos Tratados da UE – este é um tema que ainda
promete dar que falar.
– Para tentar aliviar essa possível interpretação, o Banco da Irlanda
irá procurar vender no mercado as obrigações irlandesas com que ficará
em balanço (que substitutem as notas promissórias) e este é referido
como um dos riscos de médio prazo da operação.
– Uma das grandes vantagens do alargamento das maturidades é o efeito
da inflação sobre a dívida: pagar 28 mil milhões de euros daqui a 34
anos é muito diferente de ter de pagar o mesmo montante hoje ou daqui a 7
ou 8 anos. O Free Exchange, da The Economist, faz um bom resumo dos
pontos essenciais do acordo (Untangling the promissory knot).
Karl Whelan, o economista que toda a gente lê para perceber a dimensão
financeira dos desafios irlandeses, aprofunda o tema no seu artigo na
Forbes (Ireland's Promissory Note Deal). Além disso, e sobre o mesmo tema, estamos também a ler:
2. Rescheduling of promissory notes is monetary financing in all but name.
Wolfgang Munchau, no FT, escreve sobre o acordo irlandês, diz que não
há dúvidas que é financiamento monetário, mas defende que mesmo assim é a
melhor forma de tentar resolver os problemas irlandeses.
3. Irish bank debt deal breaks deposit taboo.
P O Neil, no “a fistful of euros”, escreve sobre uma dimensão pouco
referida mas muito interessante da reestruturação irlandesa: alguns
depositantes deverão perder parte do seu dinheiro. (O envolvimento dos depositantes está também a ser estudado no Chipre, escreveu esta semana o FT, aqui citado pela CNBC)
Como a troika aniquilou a contratação colectiva
O número de trabalhadores abrangidos por alterações aos contratos colectivos de trabalho caiu, em 2012, para um quarto do valor registado no ano precedente. Quais foram as razões de tamanha proeza?
A Grécia em (dolorosas) percentagens
Consumo está a sofrer forte quebra na Grécia. Fonte: Kostas Tsironis/Bloomberg.
Por vezes, uma percentagem vale por mil palavras. Um inquérito realizado por uma confederação empresarial de PME revela as dificuldades em que as sucessivas vagas de austeridade estão a colocar a população grega. Os números são directos e suficientemente ilustrativos.