2012, segundo Cristina Casalinho e Pedro Rodrigues

05/01/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

  

Na primeira semana de Janeiro o massa monetária publica as perspectivas para 2012 de mais uma dezena de economistas e especialistas em áreas económicas e financeiras. Tratam-se dos comentários que incluíram nas respostas ao inquérito anual que o Negócios lançou mais uma vez, e com o qual procurou perspectivar o que poderá vir a ser o ano que agora tem início. 

 

Poderá ler no blogue do Negócios as opiniões de Octávio Teixeira, Bagão Félix, Pedro Lains, Miguel Frasquilho, Sandro Mendonça, Pedro Bação, Emanuel Reis Leão, Pedro Cassiano Santos, Miguel St. Aubyn, Cristina Casalinho, Pedro Rodrigues, Mariana Abrantes de Sousa e Nuno de Sousa Pereira.

 

Hoje, Cristina Casalinho, economista-chefe do Banco BPI, quantifica o enorme desafio que o País enfrenta: “Portugal terá de fazer o maior ajustamento de procura doméstica com que se defrontou nos últimos dois séculos”, diz, avisando que para o sucesso será necessário o empenho de famílias, empresas e Estado. Pedro Rodrigues, economista e professor no ISCSP considera que o “ano correrá melhor que o esperado”, e admite que Portugal consiga estender o prazo do seu ajustamento orçamental. Para isso, a execução do primeiro semestre de 2012, conhecida pela altura do verão, será essencial.

 

Cristina Casalinho, economista, Banco BPI: “Portugal terá de fazer o maior ajustamento da procura doméstica dos últimos dois séculos” 

 

O ano de 2012 vai ser muito desafiante, na medida em que Portugal terá de fazer o maior ajustamento de procura doméstica com que se defrontou nos últimos dois séculos. A correcção das necessidades de financiamento externo impõem uma alteração de preferências a todos os agentes económicos, que dá o pontapé de saída em 2012: famílias (poupar mais; procura de produtos nacionais – substituição de importações); empresas (investir mais com mais inovação e com menor dependência do crédito e do Estado; olhar mais intensamente para os mercados externos de forma estruturada procurando parceiros locais ao nível de distribuição e logística; substituição de importações como forma inicial de gerar fundo de maneio para sustentar primeira fase de expansão fora de portas): Estado (maior controlo de despesas; maior  ajustamento entre serviço prestado e custo; mas favorável ao negócio – menos burocracia do licenciamento, do ordenamento, da justiça, fiscalidade, da regulação).

 

As restrições ao financiamento são os incentivos mais fortes conhecidos para que esta mudança se opere, esperemos que se concretize na direcção correcta. Os portugueses, no passado, têm sabido responder adequadamente aos estimulos, que o saibam fazer em 2012. Se nem os portuguese se querem muito aquilo que produzem, numa primeira fase, a forma mais rápida e eficaz de atrair maior interesse pelos monos é fazer saldos, com implicações conhecidas sobre as remunerações dos factores. Estamos a entrar nessa fase; que sejamos capazes de conceber uma boa próxima colecção com possibilidade de distribuição em todo o mundo.

 

Pedro Rodrigues, professor no ISCSP: “2012 correrá melhor que o esperado”

 

Quando a expectativa generalizada é má, a economia tende a ter um desempenho que nos surpreende pela positiva. Isso não quer dizer que o ano de 2012 não terá os seus desafios, mas correrá melhor que o esperado, em termos da economia mundial. Espero que o desemprego comece a baixar de forma mais significativa nos EUA e, de seguida, que na UE o esforço de austeridade afrouxe um pouco. Contudo, como sempre acontece, Portugal estará atrás da curva nestes dois desenvolvimentos e veremos ainda um desemprego a aumentar e uma política de austeridade em “full swing”. Isto se, entretanto, a Troika não nos permitir mais tempo para reduzir o défice orçamental, tendo já feito um “front-loading”. Para isso, imagino que estejam muito interessados na execução orçamental do primeiro semestre de 2012, que deverá estar disponível perto do Verão.

 

Entretanto, estará em curso uma alteração estrutural da economia portuguesa, quer por efeito de uma política pública, quer por efeito de uma reorganização empresarial que terá reflexos importantes durante vários anos quer na composição do PIB, quer nos hábitos dos Portugueses. Para mim, a grande incógnita é a China e o impacto na economia mundial que teria (terá?) uma forte desaceleração do seu dínamo. O optimista em mim sugere que os recursos que estavam a ser canalizados para o extremo-oriente seriam aplicado na OCDE com benefícios para a criação de emprego e para a correcção dos desequilíbrios externos.

 

Rui Peres Jorge