Boas saídas em 2012
Nesta época do ano, é habitual desejarem-se boas entradas no novo ano. Mas, no actual contexto, é mais avisado e oportuno desejarem-se boas saídas.
Economia polémica
Não é que seja incomum ver economistas em desacordo, mas às vezes o choque de opiniões ganha contornos caricatos – até para uma ciência que ganhou no século XIX o epíteto pouco abonatório de “dismal science” (a “ciência sombria”, numa tradução livre).
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O Pai Natal desperdiça muito dinheiro
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Rua de Paris com iluminações de Natal Fonte: Fabrice Dimier/Bloomberg
Até 30% e uma média de 10 mil milhões de euros por ano será o valor financeiro do desperdício, só nos EUA, das prendas oferecidas no Natal. Acreditando em resultados publicados já no inicio dos anos 90, “o Pai Natal desperdiça muito dinheiro”. Como? Através das volumosas perdas que podem resultar das trocas de prendas em época natalícia. Sendo mais preciso, do desperdício resultante de muitos presentes serem pouco valorizados por quem os recebe. E quem já não recebeu (vários) presentes inúteis?
Pedro Rodrigues no 10envolver já referiu o artigo seminal sobre o “peso morto do Natal” (carga excedente, no termo económico) publicado em 1993 por Joel Waldfogel: o economista diz que o facto de muitas prendas não serem valorizadas por quem as recebe ao preço pago por quem as comprou significa que há um desperdício que pode variar entre 10% e 33% do valor gasto em presentes (mais recentemente Waldfogel coloca este desperdício nos 16% ou 10 mil milhões de dólares por ano).
Os resultados têm alimentado debate, artigos em jornais e críticas na comunidade académica. Em Dezembro de 1998 (John List e Jason Shogren também na American Economic Review) analisam resultados conflituantes com os de Waldfogel, para lhe dar razão sobre a existência de um desperdício nas prendas, embora de menor dimensão. E em Março de 2000, também na AER Bradley Ruffle e Orit Tykocinsky dedicam-se às complexas questões metodológicas associadas a estes estudos. Para quem quiser ter a certeza que não contribui para despredicios, o mais simples, pelo menos para as pessoas que não conhece, será oferecer dinheiro. Além disto, estamos também a ler:
2. Krugman explica a Lucas a equivalência ricardiana (The Conscience of a Liberal)
3. E Stephen Williamson explica porque Krugman está errado nas críticas a Lucas (Stephen Williamson)
Quer dinheiro? Vá ao BCE
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Estátua com símbolo de euro em frente ao BCE em Frankfurt Fonte: Hannelore Foerster/Bloomberg
Foi isso mesmo que os bancos europeus fizeram esta manhã (e que os governos gostariam muito de fazer). Hoje mais de cinco centrenas de bancos pediram emprestado ao BCE uma quantidade recorde de dinheiro no primeiro de dois empréstimos a três anos: 489 mil milhões de euros, muito acima dos cerca de 300 mil milhões de esperados em média no mercado. “BCE inunda mercado“, escreveu o El País, que antes já havia explicado como estes empréstimos do BCE baixaram os juros de curto prazo na periferia (em Espanha cairam de cerca de 5% para cerca de 2%) e como poderão reduzir o risco de liquidez na banca durante 2012 e 2013. Os economistas do Royal Bank of Scotland enviaram uma nota a clientes explicando a operação: 523 bancos pediram 489 mil milhões de euros, dos quais 61% servirão para refinanciar empréstimos de prazos mais curtos. Sobram 191 mil milhões de liquidez adicional. Para o RBS, a “questão chave” será saber se “esta nova liquidez de cerca de 200 mil milhões de euros será usada para comprar obrigações, emprestar dinheiro à economia ou para amortizar obrigações que chegam à maturidade”. Da análise conclui-se que não esperam muito mais destas operações do que a garantia que não há um desastre bancário por falta de liquidez no sistema. Além disso estamos também a ler:
2) Em Inglaterra há unanimidade no banco central sobre a necessidade de continuar a comprar obrigações (Bloomberg)
3) A estratégia da Fed pode estar a funcionar (Bloomberg)
Dívidas europeias, dinheiro chinês
Segurança numa praia chinesa em Sanya, Hainan Province, China onde se reuniram os líderes do BRIC em Abril de 2011 Fonte: Qilai Shen/Bloomberg
A proposta dos chineses da Three Gorges para comprar 21,35% da EDP incomodam muita gente. É natural: a empresa é do Estado chinês, que não é conhecido por ser respeitador de direitos humanos, nem ambientais – nem sequer da democracia, que não têm. Mas há outra razão, que é puramente económica: a Europa tem medo do poderio chinês, nomeadamente nas infra-estruturas estratégicas de energia. Daí que grande parte das críticas feitas à Three Gorges, que é o concorrente que põe mais dinheiro em cima da mesa pela EDP, tem pura e simplesmente a ver com um facto: são chineses.