Arquivo mensal: Julho 2011

As privatizações não resolvem a crise

11/07/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

 

Apresentei um novo objectivo no sentido de antecipar já para o terceiro trimestre algumas das privatizações previstas ainda para este ano, nomeadamente a da REN e da EDP. Quanto mais depressa nós conseguirmos abrir a nossa economia a capitais externos, à  concorrência e à liquidez dentro da nossa economia melhor garantiremos o retorno do crescimento a médio prazo e mais suave será a crise para os portugueses

 

Pedro Passos Coelho, 30 de Junho 

 

 

A Grécia, sob pressão financeira e europeia, aprovou há duas semanas um pacote de privatizações no valor de 50 mil milhões de euros, um volume de venda que lembra a muitos o processo vivido pela Alemanha de leste após a queda do muro de Berlim. A 2.900 quilómetros de distância, em Lisboa, o executivo português defendia, no mesmo dia, no respectivo Parlamento, o seu programa de Governo que inclui um programa de privatizações, bem mais modesto mas, ainda assim, volumoso no montante (mais de cinco mil milhões de euros) e nas intenções (moderar os efeitos da crise sobre os portugueses).

 

Confrontando as posições oficiais com as de outros economistas, tende-se a concluir que os pacotes de privatizações incluidos nos programas de ajustamento confirmam que, face ao colapso financeiro, a troika e os líderes europeus entendem que, em troca da assistência financeira, os países intervencionados devem, além dos juros, proceder a um pagamento adicional através da alienação – a preços relativamente baixos – de uma parte significativa de activos próprios, os quais serão comprados por empresas de países ricos ou financeiramente saudáveis, muitos delas europeias.   

 

A imposição desse “pagamento adicional” pode até ser defendido como importante factor disciplinador da gestão financeira futura dos países visados e necessário para evitar uma reestruturação da dívida pública (que impõe, em principio, mais custos aos credores). Mas se assim for, então será mais rigoroso usar esses argumentos, do que as promessas de ganhos de eficiência e crescimento, efeitos que, privatizações em larga escala neste momento de stress, dificilmente conseguem suportar.