Reacções dos economistas: Preço da cerveja dispara com o Mundial

10/07/2014
Colocado por: Nuno Aguiar

Em Junho, a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) foi -0,4%. Miguel Moreira sublinha que é um resultado mais negativo do que o mercado esperava (-0,2%). Ainda assim, identifica uma tendência contrária: o aumento do preço da cerveja, provavelmente relacionado com a Copa do Mundo. Filipe Garcia, do IMF, não antecipa uma inversão desta tendência nos preços.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A inflação, medida pela variação homóloga do IPC, manteve-se em Junho em -0.4%, depois de ter descido 0.3 p.p. no mês anterior, então revertendo a subida do mês precedente, encontrando-se em mínimos desde nov-09 (-0.6%) e revelando uma leitura inferior à aguardada pelo mercado (consenso: -0.2%). Esta manutenção da inflação surge depois de um ciclo de 4 desacelerações em 5 meses, dando então continuidade à tendência descendente visível desde nov-11, com a variável a observar agora o 5º registo consecutivo em terreno negativo, depois de 2 meses no verde, evidenciando o 7º registo negativo em 9 meses, que foram também as primeiras quedas desde nov-09 (-0.6%). Os maiores contributos positivos foram evidenciados pela habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis, com uma contribuição de 0.21 p.p. e um crescimento de 2.3% – influenciado em grande medida pelo sub-subgrupo das rendas efectivas pagas por inquilinos de residências principais – e pelas bebidas alcoólicas e tabaco (+0.10 p.p.; +2.9%), este último resultado reflectindo designadamente o aumento mais acentuado do preço da cerveja, cuja variação homóloga se situou em 5.2% (+2.9% em Maio), possivelmente reflectindo uma maior procura do produto por via da realização do Mundial de Futebol. Entre as contribuições negativas, a classe dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas continuaram a destacar-se (-0.50 p.p.), associada a uma queda de 2.5%, seguida da classe de lazer, recreação e cultura (-0.14 p.p.), com uma descida de 1.8%.

 

2. A taxa de variação homóloga do IPC core foi de 0.0%, idêntica à do mês anterior, permanecendo pelo 5º mês consecutivo num nível superior à do IPC geral, depois de 2 meses a apresentar um valor idêntico, estando já pela 8ª vez nos últimos 10 meses num nível superior ao IPC geral.

 

3. Em termos anuais, recorde-se que o IPC registou uma taxa de variação média de 0.3% em 2013, em forte desaceleração (+2.8% em 2012). Estes últimos dados sobre a inflação têm continuado a confirmar as nossas perspectivas, de que as anteriores pressões sobre os preços advinham essencialmente das commodities (em concreto da energia) ou de alterações fiscais e subidas dos preços regulados, assumindo um carácter largamente temporário. A dissipação desses efeitos temporários ao longo de 2013, em conjugação com uma descida do preço médio anual do petróleo, um crescimento marginal dos preços de importação de bens não energéticos e a manutenção de uma forte moderação salarial traduziram-se numa redução da inflação (medida pela variação homóloga do IHPC) em 2013, de 2.8% para 0.4%, continuando-se a apontar para uma inflação em torno dos 0.2% para 2014 (mas com esta previsão a ficar agora rodeada de riscos descendentes), um valor que é o 2º mais baixo desde que existem registos, apenas superado pela queda de 0.9% registada em 2009, na sequência do colapso dos preços do petróleo, e prevendo-se uma aceleração para 1.0% em 2015. Esta evolução contida dos preços reflete a manutenção de pressões inflacionistas reduzidas, quer externas, quer internas, num contexto de recuperação moderada da economia mundial e de continuação do processo de ajustamento da economia portuguesa. A par da melhoria da situação no mercado de trabalho, assume-se uma aceleração moderada dos salários do setor privado, contribuindo para um aumento relativamente reduzido dos respectivos custos unitários do trabalho.

 

Filipe Garcia – Informação Mercados Financeiros

 

1. A evolução dos preços em Portugal tem-se revelado mais próxima da inexistência total de inflação, reflexo da conjuntura internacional dos preços e da praticamente estagnação da economia portuguesa.

 

2. Esperávamos, com base na evolução recente da economia portuguesa, que a inflação pudesse começar já a subir neste trimestre, mas isso não está a acontecer, o que se enquadra no contexto global dos preços na zona euro, que levou à recente acção do BCE.

 

3. Para o resto do ano não esperamos que a situação se alter salvo a possibilidade de existência de choques de preços provocados por alguma alteração fiscal ou por alterações nos mercados internacionais de energia, ambas não esperadas.

 

Nuno Aguiar