Seria díficil Portugal ter um ministro das Finanças mais bem preparado para discutir, no patamar europeu, a situação portuguesa enquadrada no actual modelo da união monetária. Vítor Gaspar é um dos homens fortes da moeda única europeia, acompanhou o projecto desde o seu início, e dividiu os últimos vinte anos entre o ministério das Finanças, o BCE, a Comissão Europeia e o Banco de Portugal. Uma breve pesquisa nas suas últimas intervenções evidencia bem a sua crença no euro.
Recentes artigos e intervenções revelam como Gaspar é um dos acérrimos defensores da moeda única. Em 2008, por exemplo, assinou com Marco Buti, da Comissão Europeia, um balanço muito positivo dos primeiros dez anos do euro, disponível no VOX. Mais recentes, e disponíveis no Banco de Portugal, estão três intervenções que evidenciam o profundo conhecimento que o futuro ministro das Finanças tem sobre o sistema e estabilidade financeiras na Europa e sobre a política monetária. Um conhecimento que anda lado a lado com a sua convicção nas vantagens da UEM.
Numa intervenção de Novembro de 2010, na conferência anual Direcção-geral dos Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão Europeia, faz um balanço dos desafios que se colocam à Zona Euro em termos de regulação e estabilidade financeira. Dois meses antes, numa intervenção no Banco Central da Eslováquia, falou sobre “como recuperar a confiança na Zona Euro”.
Mas talvez nenhum texto seja tão claro sobre a sua crença no euro, como a intervenção que fez na Universidade Fernando Pessoa no Porto, em Junho de 2010, onde apresentou de forma clara a sua ligação umbilical à moeda única, a qual acompanha desde que, no início dos anos 90, representou o ministério das Finanças português nas negociações de adesão ao tratado de Maastricht. Aqui fica o próprio:
At this point a frank and open warning is in order. My professional career, outside University, started a little over twenty years ago. My job was to follow European monetary negotiations. I have been associated with European monetary integration ever since. For example I represented the Portuguese minister of finance in the negotiations that led to the Maastricht Treaty, I was chairman of the Group of Alternates of the Monetary Committee, that prepared the Stability and Growth Pact, I was the first Head of Research at the European Central Bank, involved in the preparation of the ECB’s monetary policy strategy and, more recently, before returning to the Eurosystem, I was the Head of the Bureau of European Policy Advisers to the President of the European Commission. Clearly with a career around European monetary integration I do not claim the viewpoint of the detached, impartial or judicious spectator. Recently, at the Federal Reserve of Dallas, I delivered a lunchtime address with the title “The Euro’s Second Decade: Success Continues!” The organizer, responsible for inviting me – Francisco Torres – is well aware of my biases.
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