Uma prolongada redução salarial

01/12/2011
Colocado por: Pedro Romano

A “desvalorização real” por que as economias da periferia estão a passar tem conduzido a resultados substancialmente diferentes consoante os casos. Se na Grécia a pressão exercida pelo desemprego galopante não parece suficiente para reduzir os salários (e preços internos), na Irlanda o processo foi rápido e robusto. Em apenas três anos, a economia irlandesa reduziu em cerca de 12% os seus Custos Unitários do Trabalho (CUT) e parece ter readquirido a competitividade externa suficiente para voltar a crescer. O contraste entre as duas situações salta à vista.

 

 

O sucesso irlandês pode resultar em grande da flexibilidade laboral necessária para reajustar salários nominais de forma rápida. Mas resulta também – e sobretudo – do outro elemento que entra nos CUT: a produtividade. Em baixo decompomos a variação dos CUT irlandeses entre 2008 e 2011, desagregando o contributo dado pela produtividade (variação do PIB real por trabalhador) do contributo dado pelos custos (variação da compensação nominal por empregado).

 

 

 

Em Portugal, as perspectivas de crescimento da produtividade são consideravelmente mais modestas (a título de exemplo, a taxa de crescimento não ultrapassou os 1,2% ao longo da última década). Assumindo que esta taxa não irá mudar significativamente nos próximos anos, conclui-se que um ajustamento de dimensão semelhante ao que está a ser feito na Irlanda (12% em apenas três anos) obrigaria a um corte salarial nominal médio em torno dos 3% ao ano.

 

Tendo em conta a rigidez dos salários nominais, há dúvidas em relação à possibilidade de fazer um ajustamento tão brusco. A alternativa poderá ser uma desvalorização interna mais suave, feita ao longo de um período de tempo maior. A contrapartida, porém, será a manutenção de uma taxa de desemprego mais elevada durante mais tempo. Actualmente, o cenário já não é animador: o FMI prevê esteja, dentro de cinco anos, ainda acima dos 10% da população activa.

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