Duas economistas do FMI voltaram aos impactos no crescimento da consolidação orçamental para argumentar que, para níveis de dívida pública muito elevados, poderá mesmo haver efeitos expansionistas da austeridade. Isto porque, defendem, a propensão ao consumo das famílias poderá de facto aumentar à medida que o endividamento público diminuiu (ou, de forma mais exacta, à medida que o rácio de dívida pública para rendimento das famílias caiu). Os efeitos são mais fortes para Austrália, Bélgica, Canadá e Espanha, defendem Rina Bhattacharya e Sanchita Mukherjee, na newsletter trimestral de investigação do FMI.
As duas investigadoras reconhecem os argumentos apresentados recentemente pelo próprio FMI, e assinados pelo seu economista-chefe, Olivier Blanchard, contra a tese da austeridade expansionista. Mas argumentam que a sua investigação, que incluiu dados para 18 países do OCDE na última década, “é fortemente sugestiva de que o efeito contraccionista da consolidação orçamental em economias avançadas altamente endividadas por ser compensado, pelo menos em parte, por mais consumo privado”.
Aqui ficam dos parágrafos finais do texto:
Recent studies by IMF staff (IMF, 2010 and Guajardo and others, 2011) have forcefully argued that fiscal austerity is unlikely to trigger faster growth, at least in the short term. While this may indeed be the case, the empirical evidence presented in Bhattacharya and Mukherjee (2010) strongly suggest that the contractionary impact of fiscal consolidation in heavily indebted advanced economies may be offset, at least in part, by higher private consumption.
More specifically, in Australia, Belgium, Canada, and Spain, their estimates of the private marginal propensity to consume show a trend rise over the past decade at the same time that the government net debt to gross household income ratio fell. This indicates that the relationship between these two variables can become negative during periods of high government indebtedness once economic agents are convinced about the authorities’ commitment to fiscal consolidation. The policy implication, at least for these countries, is that the direct negative impact of fiscal consolidation measures may be offset, at least in part, by increases in private consumption. The same may be for other highly indebted countries that have witnessed large increases in public debt in the period since the onset of the globalfinancial crisis in 2008, such as the United Kingdom andthe United States. However, in these countries the offsetting impact of higher private consumption is likely to be much more muted due to the current high levels of debt of households relative to their disposable incomes.
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