Ainda sobre dívidas e bancarrota, vale a pena olhar para os últimos valores de endividamento público e endividamento externo (publico e privado) das economias mais fragilizadas da Zona Euro. Portugal está demasiado endividado, seja pelo sector público, seja pelo sector privado. Mas enquanto a dívida pública mantém-se próxima da linha vermelha de 90% do PIB traçada por Rogoff e Reinhart (com o endividamento público ao exterior a chegar a 50% do PIB). Já a dívida externa privada ascende a 140% do PIB.
Endividamento público, final de 2010 (% do PIB)
Fonte: Bancos centrais e Eurostat
A dívida pública portuguesa é inferior à grega, italiana, belga e irlandesa. Ou seja, os 93% são excessivamente altos – pelo menos nas contas talvez um pouco arbitrárias de Rogoff e Reinhart –, devem baixar, mas não colocam Portugal nem numa situação de insustentabilidade da dívida pública, nem a comparar mal com os países mais frágeis. Convém ainda ter presente que dos 93%, apenas cerca de metade está em mãos estrangeiras.
Endividamento público externo, final de 2010 (% do PIB)
Fonte: Bancos centrais e Eurostat
Cenário bem diferente é o que nos dá a análise do endividamento do sector privado, onde a dívida ao exterior ascendeu, no final do ano passado, a 240 mil milhões de euros, isto é a 140% do PIB:
Endividamento externo do sector privado (bancos*, empresas e famílias), final de 2010 (% do PIB)
Fonte: Bancos centrais e Eurostat * não inclui dívida dos bancos ao BCE
Portugal está muito longe da Irlanda (onde o sistema financeiro entretanto derreteu) e está também melhor que a Bélgica, mas perde para Espanha, Itália e Grécia.
Olhando apenas para Portugal, e dados os valores totais em percentagem do PIB e as perspectivas de crescimento, a dívida privada levanta mais dúvidas que a dívida pública em termos de sustentabilidade.
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