José Sócrates (PS) e Francisco Louçã (BE) protagonizam esta noite um dos mais aguardados debates televisivos para as eleições legislativas de Junho. Porém, qualquer semelhança com o debate de 2009 entre o secretário-geral do PS e o coordenador do Bloco de Esquerda deverá ser uma coincidência. É que desta vez os bloquistas ainda não apresentaram o programa eleitoral e o líder socialista não deverá atacar o rival com a proposta de eliminar as deduções fiscais na Saúde, Educação e com PPR que, dizia na altura, “conduziria a um aumento fiscal brutal para a classe média”. Tão somente porque agora é uma das medidas que, em parte, inclui no seu programa eleitoral.
Ano e meio depois do último confronto em campanha eleitoral, Sócrates e Louçã voltam a protagonizar um duelo televisivo muito aguardado. Mesmo que hoje a luta do Bloco seja a de escapar ao último lugar nas sondagens, ao contrário do que acontecia na campanha de 2009, quando este movimento era uma das principais ameaças à revalidação da maioria absoluta socialista.
O debate de 2009 ficou célebre pelos 15 minutos em que José Sócrates atacou sem piedade uma proposta do programa do BE… que os socialistas agora defendem, ainda que em parte. Sócrates revelava então aquilo que dizia ser “um segredo bem guardado”, já que o rival propunha a eliminação de todos os benefícios fiscais com PPR, despesas de Saúde, Educação e Habitação.
“Estas pessoas que fazem as suas deduções fiscais na Saúde, Educação e PPR não são ricos, são classe média. Isto conduziria a um aumento fiscal brutal para a classe média: mais de 1000 milhões de euros. (…) Não penso que este seja o momento para aumentar impostos. (…) Não estou a falar do Américo Amorim, estou a falar da classe média”, concretizou José Sócrates a partir dos 20m10s do debate disponível no youtube.
A discussão sobre este tema só terminou aos 34m20s do duelo televisivo. Pelo sim, pelo não, o Bloco de Esquerda só apresenta o seu programa eleitoral na quinta-feira (algumas horas depois do debate desta noite) e Sócrates não arriscará levantar a mesma questão, sob pena de ver Louçã devolver em directo o argumento com o qual em 2009 era atacado e que é agora usado pela direita: o de estar a concretizar, por esta via, um aumento encapotado de impostos.
As limitações aos benefícios fiscais a PPR já avançaram no Orçamento do Estado para 2011; os cortes nas deduções com despesas de Saúde, Educação e Habitação (chumbados pelo PSD no processo negocial do orçamento) constam do programa eleitoral e deverão avançar mesmo no próximo orçamento, com a bênção do acordo celebrado entre o governo português e a troika.